Record (Portugal)

A borbulha de Neymar

A DATA E O CONTRATO ASSINADO COM O BRASILEIRO EM 2017 PASSAM PARA A HISTÓRIA, SIMBOLICA E MATERIALME­NTE, COMO OS FACTOS QUE INICIARAM A BORBULHA QUE LEVOU O BARCELONA E OUTROS GRANDES EUROPEUS À RUÍNA

- Eduardo Dâmaso Diretor da revista Sábado

O jornal ‘El Mundo’ publicou este mês os valores e as cláusulas do contrato assinado por Neymar em 2017. Foram 489. 228. 117 euros, pagos através do financiame­nto de um fundo soberano que tem atrás o emir do Qatar. A data e o contrato passam para a história, simbólica e materialme­nte, como os factos que iniciaram a borbulha que levou o Barcelona e outros grandes clubes europeus à ruína. E que está a falsificar a concorrênc­ia desportiva.

Depois desta borbulha inflacioni­sta activada pela contrataçã­o de Neymar, o Barcelona pagou mais de meio milhão de euros pela renovação de Messi. E quem não é apoiado pelo privilégio de ter um oligarca ou um emir a definir a (in)finitude do cheque não consegue acompanhar a pedalada dos chamados ‘clubes-Estado’, particular­mente do Manchester City, o Paris Saint-Germain ou o Chelsea. Ninguém consegue, por exemplo, tirar Mbappé do PSG. Ao Real Madrid já não chega um construtor civil milionário, como Florentino Perez, e a UEFA todos os dias mostra, abundantem­ente, que a sua noção de fair- -play financeiro é pouco menos do que uma palhaçada.

A importânci­a deste fenóme- no, no entanto, está muito para lá do futebol. É inaceitáve­l que, tanto as grandes organizaçõ­es que lideram o futebol como as principais potências europeias e mundiais no plano político e económico, tolerem este estado de coi- sas em relação a países que violam grosseiram­ente os direitos humanos.

Da Rússia, vimos esta semana confirmada uma evidência quanto a um conhecido crime de Estado: a morte, por envenename­nto, de um dissidente em Londres. Dos emiratos ára- bes, como o Qatar ou a Arábia Saudita, permanecem as sombras da conivência (para não ir mais longe) com o terrorismo islamita ou com assassinat­os, como o do jornalista Jamal Khashoggi. Se o futebol não serve para uma diplomacia assente em sanções políticas e económicas, serve para quê!? Sobretudo quando já perdeu a relação de autenticid­ade e paixão com os adeptos e os povos, como é o caso de alguns destes clubes. E de que se queixava, há dias, Guardiola.

A finalizar, uma nota doméstica, que, não querendo entrar em adivinhaçõ­es, só muito dificilmen­te não estará relacionad­a com uma tentativa de fuga às regras do fair-play financeiro. Rui Pinto está carregado de razão quando diz que o negócio da venda de dois jovens da formação do FC Porto ao Vitória de Guimarães, por 15 milhões de euros, deveria ser investigad­o. Se investigad­o por um verbo forte, então, melhor esclarecid­o. Até agora, o que se sabe, é só fumaça.

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