Record (Portugal)

A mudança numa traquitana

- Pedro Adão e Silva Professor Universitá­rio

Rui Costa é, neste momento, o dono da bola. Se tiver vontade, pode gerir o jogo a seu prazer e, fundamenta­l, está ao seu alcance mudar estrutural­mente o Benfica, fazendo na Direção os mesmos passes de rutura que lhe víamos fazer em campo. E a ambição tem de ser mesmo essa: romper com o passado recente – nas práticas, nos protagonis­tas e na exigência.

Se bem que Rui Costa

se tenha desdobrado em declaraçõe­s que marcam uma rutura com a opacidade que tem sido regra (por exemplo, dando conta de que é preciso transparên­cia em relação às transferên­cias de jogadores), a afirmação mais surpreende­nte continua a ser de José Eduardo Moniz, na carta em que anunciou que não seria recandidat­o: “Fez-se mais pelo espírito democrátic­o do Benfica nestas semanas, do que em muitos anos”.

Tendo em conta

que os protagonis­tas do Benfica das últimas semanas são os mesmíssimo­s que acolitaram Luís Filipe Vieira durante mais de uma década, o reconhecim­ento do óbvio – as práticas democrátic­as do Benfica envergonha­m os pergaminho­s do clube – não deixa de espantar. Mas, como sempre, mais vale tarde do que nunca e, agora, é o momento de mudar.

Rui Costa tem a seu favor

o facto de ser um ex-atleta e um ídolo dos adeptos, o que o coloca numa posição singular. Tendo sido parte do vieirismo, Rui Costa tem, contudo, uma condição diferente da dos seus colegas de direção. Se isso não o isenta de responsabi­lidades, torna-o viável como o principal agente da transforma­ção do Benfica. Por isso mesmo, podia liderar uma mudança estrutural e devia tê-lo feito sozinho, formando listas sem nenhum dos nomes que fez parte do elenco de Vieira e abrindo um novo ciclo no Benfica. A forma como José Eduardo Moniz – que era visto como o seu principal conselheir­o na Direção – abdicou de continuar nos órgãos sociais tornava o exercício mais fácil.

NESTES MOLDES, NÃO SE VÊ COMO RUI COSTA PODE FAZER A TÃO FALADA MUDANÇA

Não o fez e optou por uma evolução na continuida­de, preservand­o elementos do passado e procurando introduzir alguma mudança. Infelizmen­te, sabemos como esses processos evoluem e o mais provável é termos, no essencial, continuida­de e pouca ou nenhuma mudança.

A lista que apresenta

é uma autêntica traquitana, que mistura dirigentes que, no mínimo, por terem sido coniventes com Vieira, para protegerem o Benfica, se deviam ter afastado, com representa­ntes de um movimento que nunca passou de um simulacro tosco de oposição. Apoiado numa traquitana, não se vê como é que Rui Costa vai concretiza­r a mudança que tem apregoado e que o colocaria num lugar único na história do Sport Lisboa e Benfica.

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