Record (Portugal)

Sim ao Seixal mas sem hipocrisia­s

LUÍS FILIPE VIEIRA FEZ COMPRAS ACIMA DOS 100 MILHÕES E FOI ACUSADO DE TRAIÇÃO À FORMAÇÃO E ELEITORALI­SMO. COM RUI COSTA O FOCO NÃO SE ALTEROU E A NAÇÃO ENCARNADA ESTÁ ESFUZIANTE

-

OS ADEPTOS QUEREM GANHAR E ESSA MISSÃO TEM SIDO CUMPRIDA SEM LÁGRIMAS DE CROCODILO

1 Nunca consegui encaixar muito bem a hipocrisia com que o sucesso ou não da formação dos grandes clubes é avaliado consoante as conveniênc­ias. No caso do Benfica, que é aquele que está mais em apreço nesta fase, a situação torna-se premente face à entrada na reta final de uma corrida eleitoral que vai traçar as linhas essenciais para o futuro do clube. Rui Costa assinalou, e bem, os 15 anos do Seixal dando o devido crédito pela obra a Luís Filipe Vieira, e situando-a como basilar para o cresciment­o dos encarnados. Todavia, nem a opinião pública ou publicada benfiquist­a parece olhar para o fenómeno do sucesso desportivo de 2021/22 com a mesma visão corrosiva com que detonou as aquisições de mais de 100 milhões de euros que, proclamara­m bastantes vozes, ‘roubaram’ espaço aos produtos genuinamen­te benfiquist­as no plantel principal, ainda por cima com a venda de Rúben Dias a retirar uma bandeira de referência do balneário. Se, afinal, apenas conta ganhar, é altura de haver menos cinismo e mais pragmatism­o.

2 Esta temporada cabe a Gonçalo Ramos transporta­r o testemunho do Seixal, sendo o verdadeiro 12º jogador do plantel tanto em jogos efetuados como em minutos disputados. Todavia, beneficiou de alguma margem dada pela chegada tardia de Roman Yaremchuk e já tem Darwin Nuñez prestes a ultrapassá-lo, ainda que isso não deva suceder já no duelo da Taça de Portugal, frente ao Trofense. Diogo Gonçalves foi traído pelos problemas físicos e entretanto chegou Valentino Lazaro, enquanto Gedson Fernandes nunca esteve direcionad­o para um papel de protagonis­ta. O resto da história é contada pelas dispensas e pelas promessas que já ficam felizes por treinar com os craques. Na balança apenas cabe o pleno de sete vitórias para o campeonato e o fulgor demonstrad­o na Champions, sendo essa a realidade dura como punhos.

3 A boa imprensa conquistad­a por Rui Costa impede, enquanto Jesus continuar a fazer a sua parte, que lhe sejam dirigidas as mesmas críticas de eleitorali­smo e traição à formação que visaram Luís Filipe Vieira. A realidade do futebol profission­al é inclemente e a única forma de o Seixal, Alcochete ou Olival terem espaço passa por produzirem talentos com qualidade para vingarem ao mais alto nível enquanto ainda estão vinculados aos clubes formadores. Agora, quando mesmo as segundas linhas de um plantel têm poucos jovens da casa, então fica claro que a ideia é ganhar e não há problema nenhum em assumir isso. As vitórias é que deixam rasto para a história mas dar tudo para alcançá-las não permite ostentar o melhor de dois mundos. O ponto de equilíbrio será a chave e, se mudar o rumo, Rui Costa terá de contar com a adesão de Jorge Jesus.

 ?? ??
 ?? Vítor Pinto Subdiretor ??
Vítor Pinto Subdiretor
 ?? ALEXANDRE PAIS ??
ALEXANDRE PAIS

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal