Potenciar a canoagem
Modalidade tem menos de 3.500 federados. Mais praticantes podem ajudar a melhores resultados
Nada melhor do que reivindicar e exigir apoios em cima do sucesso. E é de apoios que a canoagem portuguesa precisa para poder encarar o futuro com a confiança de que os resultados internacionais continuarão a aparecer, porque Emanuel Silva, Fernando Pimenta, João Ribeiro ou Teresa Portela não duram para sempre. “Ao nível do financiamento governamental, acho que podem ser aumentados os valores relativos ao alto rendimento. Penso que somos a 17.ª federação ao nível de apoios e apenas a 23.ª no que diz respeito ao alto rendimento, quando somos uma das primeiras em termos de resultados”, lamenta Vítor Félix, atual presidente da FPC e que já anunciou a recandidatura a mais um mandato: “Era desejável termos mais dinheiro disponível no alto rendimento para levar os atletas aos Mundiais e Europeus, para fazer a preparação para as grandes competições e apostar nos mais jovens criando uma espécie de equipa B”. Mas também é preciso ter mais matéria prima... “É verdade que somos penalizados porque temos menos praticantes do que outras federações. Temos apenas entre 3.000 e 3.500, mas no alto rendimento a realidade é diferente”, sublinha. O número reduzido de federados é um problema também focado por Mário Santos, que dirigiu os destinos da FPC de 2004 a 2013. E quando saiu “eram 2.800”. O aumento não foi significativo. “Só na Galiza existem quatro mil”, lembra. “Há outras modalidades com legítimas ambições, mas é importante que a canoagem seja reforçada como modalidade estratégica para o país. Não só pelos resultados, mas pelas condições naturais que Portugal oferece para a sua prática, que a pode tornar competitiva em várias áreas”, alerta. Só então com mais praticantes se pode acautelar o futuro de qualquer modalidade. “É essencial reforçar uma estratégia de apoio a modalidades onde somos ou podemos ser ainda mais competitivos, seja para cativar atletas, seja para alcançar resultados de referência... é importante haver um equilíbrio para não estarmos dependentes de uma geração espontânea e talentos isolados”, constata o ex-presidente da FPC. O seu sucessor no cargo também coloca o dedo na ferida: “Como é óbvio, atletas como Fernando Pimenta ou João Ribeiro não serão fáceis de substituir. É o mesmo que acontece com Cristiano Ronaldo no futebol, por exemplo. E também em outras modalidades. São atletas que aparecem de 50 anos em 50 anos”. Os atuais expoentes máximos da modalidade caminham para uma natural retirada, mas Vítor Félix diz que o ‘render da guarda’ está em marcha. “No momento em que já anunciei a minha recandidatura até 2024, a melhoria de resultados nos próximos anos é uma realidade que pode acontecer. É difícil, mas os nossos melhores atletas chegarão a Paris com 35 ou 36 anos e acredito que podem lutar pelas medalhas. Mas temos também jovens valores que já conquistaram medalhas em competições internacionais, pelo que a renovação está a ser garantida”. Para Mário Santos, há que “ambicionar mais e dar sustentabilidade e não estar dependente de dois/três atletas. É necessário alargar o leque e a profundidade competitiva. Começa-se a verificar uma grande concentração de resultados num determinado grupo de atletas”.
Mas a canoagem portuguesa dá também cartas ao nível organizativo. “Além dos bons resultados internacionais, somos uma referência em termos de organização, com várias competições, incluindo Europeus e Mundiais. Somos uma marca de nível internacional. E o feedback que temos dos atletas, das autoridades governamentais ligadas ao desporto, das câmaras municipais é muito positivo. O compromisso, a responsabilidade e reconhecimento faz-nos acreditar que estamos no bom caminho”, conclui Félix. “Apesar de ser uma federação relativamente jovem, tem dado cartas em várias áreas”, sublinha ainda Mário Santos.
“ATREVO-ME A DIZER QUE ESTE FOI O MELHOR ANO DE SEMPRE DA CANOAGEM AO NÍVEL DE RESULTADOS DESPORTIVOS”
VÍTOR FÉLIX, presidente da FPC
“SOU UM ETERNO INSATISFEITO. A CANOAGEM AINDA ESTÁ LONGE DO SEU POTENCIAL. EM NÚMERO DE PRATICANTES E NOS RESULTADOS”
MÁRIO SANTOS, ex-líder da FPC