Ninguém procura a cabeça de Paulinho

SIM, O SPORTING PRECISA DE FAZER MUITO TREINO ESPECÍFICO PARA APROVEITAR O EXCELENTE JOGO DE CABEÇA DO SEU AVANÇADO. MAS NÃO É PAULINHO QUEM PODE CENTRAR PARA A SUA PRÓPRIA CABEÇA

Muito se tem falado do sub-rendimento de Paulinho enquanto finalizador. Também neste espaço, há semanas, ficou a opinião de que Paulinho ficava demasiado desgastado com tarefas defensivas. Com o esforço do avançado para cortar jogadas à nascença e as recuperações vertiginosas no terreno, para ser dos primeiros a defender, quase se poderia dizer que o Sporting é a única equipa campeã que entra em campo colocando quatro defesas centrais no onze. Para lá de Coates e os seus asas, Amorim lança também Paulinho para essencialmente defender.

Deixando a ironia, constatemos – quem foi o jogador do Sporting que mais metros sprintou para tentar evitar a concretização do excelente contra-golpe do Arouca que deu golo? Paulinho, claro.

Diz-se agora que Paulinho irá fazer treino específico. Mas não é Paulinho quem precisa de fazer treino específico de finalização. Todos os alas precisam de treinar para ver se, uma vez ou outra, acertam um centro para a ca- beça de Paulinho. Reportemo-nos ao último jogo do campeonato, o único companheiro que solicitou o excelente jogo de cabeça de Pauli- nho na área contrária foi Coates – na sequência de uma bola parada executada por Sarabia, aos 34 minutos –, que, de cabeça, solicitou Pau- linho pelo ar. E Paulinho res- pondeu num misto de remate ou recentro para o capitão, com a bola a perder-se perto do poste.

Em todos os outros momentos de ataque pelos flancos, ninguém procurou servir Paulinho, que aparecia sempre em posições prometedoras, sempre em vão.

Aos 13 minutos, Bragança e depois Nuno Santos, jogam para a área sem procurar o avançado. Pelos 40 minutos, Nuno Santos e Matheus Nunes fazem centros trapalhões, rasteiros, com Paulinho a desmarcar-se. Aos 65 minutos, Esgaio centra... rasteiro. E o rol de momentos em que Paulinho parece o homem invisível termina aos 79 minutos, com um centro desastrado de Matheus Nunes.

Um só jogo dá uma fotografia do que se passa com Paulinho no Sporting: o homem corre quilómetros, desmarca-se com propriedade, mas não é bem servido. Nem sequer é mal servido. Paulinho ainda não existe para os criadores de jogo ofensivo.

Até agora, ninguém acerta na cabeça de um avançado adulto, com sede de golo, na plenitude das suas capacidades, e que custou 14 milhões de euros. Sim, estimado Rúben Amorim, o Sporting precisa de fazer muito treino específico, para aproveitar o excelente jogo de cabeça do seu avançado. Mas não é Paulinho quem pode centrar para a sua própria cabeça.

OS ALAS PRECISAM DE TREINAR PARA VER SE, UMA VEZ OU OUTRA, ACERTAM UM CENTRO