Record (Portugal)

O recado de Vieira a Rui Costa

NINGUÉM QUIS PERCEBER O CONSELHO QUE O EX-PRESIDENTE DEIXOU AO SUCESSOR SOBRE OS RISCOS DE “DEMOCRACIA A MAIS”: O LÍDER ELEITO TEM DE SABER OUVIR MAS NUNCA ABDICAR DE SER O DECISOR

- Vítor Pinto Subdiretor ALEXANDRE PAIS

❶ Não é segredo

que Luís Filipe Vieira geria o Benfica com pulso firme, tomando por vezes decisões críticas sem priorizar o cumpriment­o dos formalismo­s burocrátic­os. E a verdade é que, por muitas lágrimas de crocodilo que por isso possam ser vertidas pelos cantos, o facto é que em nenhum momento isso foi penalizado­r do ponto de vista eleitoral, sendo reconduzid­o nas eleições de há um ano. Por isso, é estranho que uma frase que devia ser facilmente percetível por quem esteja minimament­e por den- tro do fenómeno tenha sido tão deturpada ao longo da tarde. É certo que Vieira não tem merecido a reverência da ‘conhecida ironia’ que é geralmente permitida a Pinto da Costa, mas ainda assim quando o agora ex-presidente diz que “democracia a mais neste clube faz mal e, por não haver democracia, como dizem, é que crescemos desta maneira”, começa a tocar as raias do escabroso que seja assumido um sentido literal. Como utilizador frequente do sarcasmo em debates, mas também na vida em geral, não me situo desse lado da barricada.

❷ O que parece

evidente, isso sim, é ter-se tratado de um recado de Luís Filipe a Rui Costa. Que fruto da sua inexperiên­cia como gestor pode ter de confiar o seu destino à equipa com que se rodeou; que para ter ‘folga’ pode ter entregue os dossiês críticos do futebol a Rui Pedro

Braz como assumiu em entrevista ao Expresso; mas que no final do dia não pode abdi- car de ser ele o principal decisor. Nem que, para vincar a sua autoridade, tenha em alguns momentos de optar pela solidão face às opiniões da ‘entourage’. Note-se a agora assumida disponibil­idade para receber John Textor que surgiu como uma evolução da absoluta recusa inicial em mostrar qualquer tipo de abertura. Esta é, já se sabia, a forma de Vieira entender a liderança de uma instituiçã­o como o Benfica e, ainda há um ano, era incensado como “o melhor presidente de sempre da história do clube”.

❸ Rui Costa

terá de trilhar um caminho de pedras onde nem sempre poderá pisar a passadeira vermelha dos resultados desportivo­s e Vieira, que apesar do receio de alguns se passeou triunfalme­nte pela Luz, ergueu a voz em plena BTV prevenindo falhas de memória sobre a paternidad­e do Benfica moderno e conseguind­o ‘minar’ até a tranquilid­ade dos dirigentes agora eleitos nas casas de banho do estádio. O Maestro nunca teve medo de assumir a responsabi­lidade em campo e não lhe resta outra via que não seja a de convencer os céticos que também pode brilhar “de gravata”, crescendo na função. Caso contrário, aqueles muito próximos de si que após as falinhas mansas dizem em surdina que “para o ano há mais”, perspetiva­ndo um rápido regresso às urnas, serão os primeiros a espetar-lhe a faca nas costas.

TERÁ DE SER O MAESTRO A CALAR AS DÚVIDAS DE

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