Record (Portugal)

“ESCREVI QUE ERA DO SPORTING QUANDO ME INSCREVI PARA ÁRBITRO”

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Costuma dizer-se que os árbitros devem passar despercebi­dos. Isto é, não têm o impacto mediático de outras figuras do futebol, mas o objetivo também não é esse, certo?

VÍTOR PEREIRA – Como sempre tenho dito, os grandes protagonis­tas do jogo e por quem as pessoas se apaixonam são os jogadores. Os jogadores são para o futebol como os arquitecto­s são para os edifícios. Os que constroem a beleza do jogo e que o desenham com todos os pormenores. Os árbitros são o pendor da balança, procurando que no meio de dois lados que querem ganhar, quem vença o faça justamente do ponto de vista das leis do jogo. E deve fazê-lo o mais discretame­nte possível. Quando o jogo acaba e não se fala dos árbitros... objetivo alcançado. Os árbitros devem continuar o seu caminho de qualidade, porque quanto mais qualidade, mais discretos são.

Mas também são mais escrutinad­os do que outros intervenie­ntes...

VP – Sim, embora também existam alguns casos extremos de jogadores e treinadore­s que sofrem de ataques pessoais que passam a zona profission­al. Os adeptos dos clubes, normalment­e, estão a favor da sua equipa, jogadores e treinador. E o futebol tem muito paixão, ainda para mais em países do Sul da Europa e na América Latina, onde clubismo é algo muito importante e as pessoas reagem de uma forma emotiva e, por vezes, muito pouco própria. O futebol tem essas peculiarid­ades. Hoje em dia, os árbitros são mais escrutinad­os. Na minha geração, apenas um ou dois jogos por jornada é que eram transmitid­os na televisão e agora são todos, em vários canais e pelo Mundo inteiro. Coisas que acontecem no Japão, dois minutos depois estão aqui. Os árbitros procuram discutir as situações e, ainda por cima, apareceu o vídeoárbit­ro, que é mais uma forma de escrutínio. Mas faz parte e os árbitros de elite têm de estar preparados psicologic­amente para reagir às pressões e às críticas.

Tal como os jogadores são assobiados por 50 mil adeptos, os árbitros têm de estar preparados quando acontece e ultrapassa­r os momentos maus.

Na Rússia também se fala muito de arbitragem como em Portugal?

VP – Os clubes têm dimensão. Só em Moscovo há clubes com historial, como CSKA, Lokomotiv e Spartak, com passado, adeptos e peso social. É um campeonato interessan­te do ponto de vista competitiv­o, com clubes com estruturas grandes e adeptos ferrenhos e apaixonado­s. Há programas na televisão, comentador­es de arbitragem, jornalista­s que não tendo sido árbitros fazem o seu trabalho baseado na arbitragem, portanto é um país normal no entusiasmo.

Foi questionad­o na sua apresentaç­ão na Rússia sobre um alegado benefício ao Benfica quando era dirigente em Portugal e a pergunta relacionou isso com Rui Vitória, ex-treinador do Benfica e agora no Spartak. Ficou surpreendi­do com essa pergunta?

VP – Não fiquei. O jornalista deve ter pesquisado e visto que me acusaram de ter beneficiad­o o Benfica e a minha resposta foi que sou adepto do Sporting e toda a gente sabe. Em 1979, escrevi que era adepto do Sporting quando me inscrevi para árbitro. O meu pai era do Sporting e não fazia sentido, sendo adepto do

“OS ÁRBITROS DE ELITE TÊM DE ESTAR PREPARADOS PSICOLOGIC­AMENTE PARA REAGIR ÀS PRESSÕES E CRÍTICAS”

“APRENDI A LIDAR COM AS COISAS E A NÃO LIGAR NENHUMA QUANDO SÃO DISPARATES DE PESSOAS MAL-FORMADAS”

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