Record (Portugal)

“Zidane deu-me um abraço e desejou-me felicidade­s”

-

Ainda no campo das memórias como árbitro, qual foi jogador mais complicado de lidar e o maior exemplo de fairplay? VP – Tenho muitos episódios interessan­tes, um deles muito bonito. Lembro-me de um PSG-Galatasara­y em que o capitão era o Pedro Pauleta. No final do jogo, cumpriment­ámo-nos e ele tirou a camisola, ainda suada do jogo, e disse-me: ‘Vítor, esta é para si’. O Pauleta era adorado em Paris e um extraordin­ário atleta, corretíssi­mo. Foi um exemplo entre muitos outros. Lembro-me do Figo, quando jogava em Barcelona. Eu procurava ter uma boa relação com os jogadores. Tenho histórias com o Oceano, o Jorge Couto, o Jorge Cadete, o Paulinho Santos. Alguns jogadores eram difíceis para os árbitros e adversário­s, mas isso era um desafio para os árbitros para sabermos como lidar com eles. Só tenho boas memórias dos jogadores com quem me cruzei, alguns deles os melhores do Mundo. O Zinedine Zidane fez uma coisa fantástica no Mundial’2002. Quando apitei o França-Dinamarca na fase de grupos, entrei na cabine e o Zidane estava a receber assistênci­a. Desejei-lhe sorte porque sabia que ele estava lesionado e ele veio à minha cabine dar-me um abraço e desejou-me felicidade­s porque sabia que era o meu último Campeonato do Mundo. Quer dizer, era o Zidane. São coisas bonitas de jogadores de topo. Foram muitos anos a pisar os relvados dos melhores estádios do Mundo, com os melhores jogadores e treinadore­s do Mundo. Sinto-me um privilegia­do. O futebol deu-me isso e eu dei tudo, portanto digo que é um empate técnico.

Esse gesto de Pauleta em oferecer-lhe a camisola poderia ser mal visto no campeonato português?

VP – Não acredito. Se algum jogador me fizesse isso a mim – ou a outro árbitro qualquer – eu aceitaria de bom grado como um gesto de amizade e respeito. O que tem de mal? E se as pessoas acharem mal não sabem o que é o desporto, o que é o futebol, e a relação entre os atletas. Não somos animais, somos pessoas que se respeitam, que transpiram durante um jogo, que andam com a pulsação a 200 e percorrem 10 ou 12 quilómetro­s por jogo e que têm a sua vida em risco. Só temos de nos respeitar uns aos outros. Os jogadores fazem isso com os outros e os árbitros também. Não faz sentido que as pessoas vejam com outros olhos que não o respeito e apreço mútuo entre pessoas que estão na mesma atividade.

“SÓ TENHO BOAS MEMÓRIAS DOS JOGADORES COM QUEM ME CRUZEI, ALGUNS DELES OS MELHORES DO MUNDO”

 ?? ?? PERCURSO. Vítor Pereira reviveu a carreira em entrevista a Record
PERCURSO. Vítor Pereira reviveu a carreira em entrevista a Record

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal