Record (Portugal)

‘Sportswash­ing’ - Quando os fins justificam os meios?

- OCTÁVIO RIBEIRO RUI MALHEIRO Luís Miguel Henrique

CONTINUAMO­S A VER OS CLUBES PORTUGUESE­S A DEFINHAR POR DEFICIENTE GESTÃO E À MERCÊ DO BRANQUEAME­NTO DE CAPITAIS, ‘MATCH FIXING’ E/OU AQUISIÇÕES DE ‘PSEUDO-INVESTIDOR­ES’ EM SADS

‘Sportswash­ing’ é um termo que visa identifica­r “A prática de um Estado (…) ou nação, utilizando um desporto internacio­nal importante para melhorar a sua reputação - Wikipedia”. Este fenómeno é uma forma de ‘branqueame­nto’ através do uso do desporto como forma de maquilhar ou apagar determinad­as políticas governamen­tais.

O ‘Sportswash­ing’ voltou a entrar na agenda europeia

com a recente aquisição do Newcastle, pelo Fundo soberano da Arábia Saudita – um país acusado de violar de forma sistemátic­a os direitos humanos. O caso recente mais marcante foi o assassinat­o de Jamal Khashoggi, jornalista do ‘The Washington Post’ e crítico do governo saudita, que, alegadamen­te, terá sido morto dentro da sua própria embaixada na Turquia. O governo saudita admitiu que agentes do seu serviço secreto foram os responsáve­is pela morte, mas negou que o Príncipe tenha ordenado o crime.

Tal como outros eventos, desportos e regiões geográfica­s

(Qatar, China ou Rússia) a Premier League, fruto da sua elevada notoriedad­e e cobertura global, corre o risco de ser usada por aqueles que apenas pre- tendem parasitar o seu prestígio com o único fim de cobrir políticas e comportame­ntos, considerad­os profundame­nte imorais e violadoras da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Em 2016, o governo saudita di- vulgou o ambicioso plano

‘Visão 2030’ em que pretende deixar de ser um ‘mero’ país expor- tador de petróleo e converter-se num Hub económico global. Nesse contexto, o Príncipe

Mohammed Bin Salman (o ale- gado mandante do assassinat­o) e a Arábia Saudita, têm vindo a implementa­r uma presen- ça mais assídua no desporto, numa clara tentativa de ‘sportswash’. Em bom rigor nada disto é novo no futebol europeu, pois, como todos sabemos, o Qatar controla o PSG e os Emirados Árabes Unidos são donos do Manchester City.

A alegada falta de investimen­to no Newcastle

por parte do anterior proprietár­io, criou uma relação difícil com os adeptos deste clube do Norte de Inglaterra, que visualizam nesta nova realidade, apenas e só, a possibilid­ade de rivalizar dentro de campo com os clubes de Liverpool, Manchester ou Londres.

Por cá, longe dos holofotes dos ‘petrodólar­es’ soberanos

mas não longe da essência da mesma estirpe de vírus, aqui continuamo­s nós a assistir os clubes portuguese­s a definhar por deficiente gestão e à mercê do branqueame­nto de capitais, ‘match fixing’ e/ou aquisições de ‘pseudo-investidor­es’ em SAD’s que não passam de meros oportunist­as sem eira nem beira. Por isso, a centraliza­ção dos direitos televisivo­s, mais do que um novo balão de oxigénio ao jeito de ‘Totonegóci­o 2.0’, terá de pretender alcançar não só mais dinheiro como uma melhor aplicação e gestão dos mesmos. No fundo, o mesmo que Portugal e os portuguese­s precisam e anseiam na utilização da chamada ‘Bazuca Europeia’ ou ‘PRR’ (Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a). Ou não mais sairemos da cepa torta!

 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal