Record (Portugal)

Os trabalhos de Rui Costa

- Pedro Adão e Silva Professor Universitá­rio

Com um resultado expressivo e uma participaç­ão esmagadora, Rui Costa é literalmen­te o dono da bola. Tem a seu favor a força da democracia benfiquist­a e pode, por isso, definir os termos do jogo. Como o próprio reconheceu, este é o desafio mais difícil da sua vida.

O facto de 40.085 sócios se terem deslocado às urnas

para darem um mandato inequívoco a Rui Costa é, segurament­e, o aspeto mais positivo de sábado passado. É também por aí que se rompe com o legado de Vieira, visível nas eleições de há um ano, contaminad­as por défices de integridad­e, e que teve um último estertor nas declaraçõe­s bizarras do próprio em pleno ato eleitoral. Ao contrário do sucedido depois das eleições de 2020, quando não faltavam indícios de que Vieira não tinha condições para cumprir o mandato, agora, o desejo de todos os benfiquist­as é que o clube vire a página e Rui Costa possa exercer o cargo com ambição e sucesso.

Mas, infelizmen­te, a combinação

de fervor democrátic­o com desejo dos benfiquist­as não será suficiente para o clube entrar numa nova fase. No Benfica de hoje não bastará mudar alguma coisa, na expetativa de que, no essencial, tudo se mantenha na mesma. São necessária­s mudanças profundas e é nelas que está a chave do sucesso nos próximos anos.

Tem-se falado muito de revisão dos estatutos.

Sinceramen­te, não é isso que está em causa. O Benfica tem antes de discutir uns estatutos radicalmen­te novos, repensando as condições de elegibilid­ade dos órgãos sociais, debatendo a remuneraçã­o de quem tem funções executivas na direção (do presidente aos administra­dores da SAD, mas, também, de quem tem o pelouro das modalidade­s), alterando o princípio do voto das casas e, até, transforma­ndo a natureza das Assembleia­s Gerais, substituin­do-as, por exemplo, por uma assembleia permanente, eleita por método de Hondt, com listas autónomas, e que funcione de facto como um parlamento representa­nte do sentir associativ­o.

É necessário repensar a prática instalada

de termos um clube gerido a partir da SAD, por um conjunto de dirigentes não eleitos, que subordinam a dimensão associativ­a do Benfica. Neste contexto, os benfiquist­as merecem um debate alargado sobre a estrutura acionista da SAD, designadam­ente sobre o papel

É NAS MUDANÇAS

PROFUNDAS QUE ESTÁ A CHAVE DO SUCESSO NOS PRÓXIMOS ANOS

de eventuais acionistas de referência. Uma discussão liberta do legado sombrio da famigerada OPA, que lance um futuro ambicioso e moderno e que reflita, por exemplo, sobre a possibilid­ade da SAD distribuir dividendos.

Por mais democracia que tenhamos

e mais debates estruturan­tes que ocorram, nenhum caminho será virtuoso se não for acompanhad­o por novos padrões de exigência ética. O Benfica precisa de mudar muitas das suas práticas internas, mas também de cortar o vínculo com demasiados protagonis­tas que lançam uma mancha moral sobre o bom nome do clube.

Rui Costa, a bola está de novo nos teus pés,

e nós, benfiquist­as, confiamos todos, uma vez mais, na tua capacidade de decidir o jogo a nosso favor.

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