Os trabalhos de Rui Costa
Com um resultado expressivo e uma participação esmagadora, Rui Costa é literalmente o dono da bola. Tem a seu favor a força da democracia benfiquista e pode, por isso, definir os termos do jogo. Como o próprio reconheceu, este é o desafio mais difícil da sua vida.
O facto de 40.085 sócios se terem deslocado às urnas
para darem um mandato inequívoco a Rui Costa é, seguramente, o aspeto mais positivo de sábado passado. É também por aí que se rompe com o legado de Vieira, visível nas eleições de há um ano, contaminadas por défices de integridade, e que teve um último estertor nas declarações bizarras do próprio em pleno ato eleitoral. Ao contrário do sucedido depois das eleições de 2020, quando não faltavam indícios de que Vieira não tinha condições para cumprir o mandato, agora, o desejo de todos os benfiquistas é que o clube vire a página e Rui Costa possa exercer o cargo com ambição e sucesso.
Mas, infelizmente, a combinação
de fervor democrático com desejo dos benfiquistas não será suficiente para o clube entrar numa nova fase. No Benfica de hoje não bastará mudar alguma coisa, na expetativa de que, no essencial, tudo se mantenha na mesma. São necessárias mudanças profundas e é nelas que está a chave do sucesso nos próximos anos.
Tem-se falado muito de revisão dos estatutos.
Sinceramente, não é isso que está em causa. O Benfica tem antes de discutir uns estatutos radicalmente novos, repensando as condições de elegibilidade dos órgãos sociais, debatendo a remuneração de quem tem funções executivas na direção (do presidente aos administradores da SAD, mas, também, de quem tem o pelouro das modalidades), alterando o princípio do voto das casas e, até, transformando a natureza das Assembleias Gerais, substituindo-as, por exemplo, por uma assembleia permanente, eleita por método de Hondt, com listas autónomas, e que funcione de facto como um parlamento representante do sentir associativo.
É necessário repensar a prática instalada
de termos um clube gerido a partir da SAD, por um conjunto de dirigentes não eleitos, que subordinam a dimensão associativa do Benfica. Neste contexto, os benfiquistas merecem um debate alargado sobre a estrutura acionista da SAD, designadamente sobre o papel
É NAS MUDANÇAS
PROFUNDAS QUE ESTÁ A CHAVE DO SUCESSO NOS PRÓXIMOS ANOS
de eventuais acionistas de referência. Uma discussão liberta do legado sombrio da famigerada OPA, que lance um futuro ambicioso e moderno e que reflita, por exemplo, sobre a possibilidade da SAD distribuir dividendos.
Por mais democracia que tenhamos
e mais debates estruturantes que ocorram, nenhum caminho será virtuoso se não for acompanhado por novos padrões de exigência ética. O Benfica precisa de mudar muitas das suas práticas internas, mas também de cortar o vínculo com demasiados protagonistas que lançam uma mancha moral sobre o bom nome do clube.
Rui Costa, a bola está de novo nos teus pés,
e nós, benfiquistas, confiamos todos, uma vez mais, na tua capacidade de decidir o jogo a nosso favor.