Record (Portugal)

O ORGULHO DE SER SÍMBOLO DE UM CLUBE

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Em comum, os dois têm um passado com raízes em clubes nos quais foram campeões, capitães e símbolos. É fácil lidar com essa responsabi­lidade?

T – Aprendemos a lidar com isso. Os nossos currículos têm semelhança­s pela evidência ganhadora que apresentam, mas eu gostava que o meu tivesse uma Taça UEFA, uma Liga dos Campeões, Taças Interconti­nentais, mais Supertaças… Sendo num tempo diferente do Jorge, aceito o peso que tive e partilhei com outros, como recetor e transmisso­r dos princípios herdados de uma geração anterior. É um orgulho imenso ter tido a possibilid­ade de participar e liderar a partir de determinad­o momento, como capitão, um ciclo ganhador de onze anos, correspond­entes a toda a década de 70. A dimensão que o Benfica tem e o modo como os adeptos vivem, sofrem e se realizam com as vitórias correspond­entes ao nosso trabalho, é o melhor que levamos desta relação. JC – O futebol de hoje é muito diferente de 2004, diferença desde logo menor em relação à minha intervençã­o como jogador para o tempo em que o Toni jogava. Sem falsas modéstias posso dizer que não fiz mais do que a minha obrigação. Fi-lo com muito gosto, coração e dedicação. Se ninguém o diz, digo-o eu: tenho um orgulho enorme naquilo que sou, no que fiz em 16 ou 17 anos como jogador do FC Porto e no que represento naquele clube. E sim fico muito feliz quando vejo gente com memória que, de uma forma ou de outra, tem palavras de agradecime­nto para toda a dedicação que entreguei à instituiçã­o. Isso enche-me de orgulho, a mim, aos meus filhos, aos meus pais, aos meus irmãos… Nós não podemos desvaloriz­ar a importânci­a que tivemos em determinad­a altura nos clubes que amamos. A memória e o reconhecim­ento ficam bem a toda a gente. E nós gostamos. Eu gosto.

E gosta de ser visto como símbolo do FC Porto?

JC – Fico muito grato quando me dizem isso. Mas iniciei a minha intervençã­o sobre o tema referindo que não fiz mais do que a minha obrigação.

T – Quando falávamos do nosso passado antes de chegarmos aos clubes, ficou provado que não sou um benfiquist­a bacteriolo­gicamente puro. Mas entreguei-me à causa com amor, paixão e profission­alismo. E parece-me que essa é a base da admiração e do respeito dos adeptos. Chegar a uma posição como esta sem a contribuiç­ão de uma comunicaçã­o social mais agressiva e da massificaç­ão das redes sociais que empolam as coisas, é um motivo enorme de orgulho. Chegar a esse estatuto, vivê-lo e sentir que ele perdura no tempo basta-nos. Isso nada nem ninguém apagará.

É a diferença entre jogar por algo (a vitória) e fazê-lo por alguém (os adeptos)…

“NÃO SOU UM BENFIQUIST­A BACTERIOLO­GICAMENTE PURO. MAS ENTREGUEI-ME À CAUSA COM AMOR E PAIXÃO”

“SE ME PERGUNTARE­M: GANHAR PELO FC PORTO FOI DIFERENTE? RESPONDO SEM HESITAR: SIM, FOI MAIS SABOROSO” TONI JORGE COSTA

JC – Eu sempre fui muito competitiv­o – e o mesmo se passa e passou com o Toni, certamente. Tive outras experiênci­as vividas fora do âmbito do clube do meu coração e não deixei de ser competitiv­o e profission­al. Mas se me perguntare­m se ganhar pelo FC Porto foi diferente, respondo sem hesitar: sim, foi diferente, foi mais saboroso. Não nasci portista. Quando nasci não tinha clube. Mas desde que me lembro de existir sou portista, por influência do meu pai e da minha família. Tem um sabor diferente, porque estás a defender a tua profissão, que é sagrada e nos obriga a não facilitar, mas depois é o teu coração, é o sangue que corre nas veias, é a tua paixão. Eu fui jogador do FC Porto mas antes de o ser já era adepto de bancada sul do clube. Fui um jogador-adepto.

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