“Não é vergonha nenhuma ter sido suplente do menino”
Como foi ver de perto o crescimento de um jovem talento como Nuno Mendes?
A – Tem um futuro incrível pela frente. Margem de progressão enorme, tem 19 anos, já joga no Paris SG e é titular na Seleção. Está à vista de todos e para mim não é vergonha nenhuma ter passado um ano inteiro como suplente de um menino que está nomeado para melhor sub-21 do Mundo. Depois do último ano com ele não me surpreende em nada vê-lo na situação em que está, assim como não me vai surpreender daqui a 5 ou 10 anos quando ele for mesmo o melhor lateral-esquerdo do Mundo. Não me vai surpreender nada porque a margem de progressão que ele tem é enorme e vai ter um futuro incrível. Tem muita qualidade e uma força física que há muito não se via num jogador da idade dele. Já é inteligente, maduro e, claro, são características que ainda vai melhorar ao longo dos anos. Se ele já é bom agora, imaginem daqui a 5 ou 6 anos…
Dá um gostinho especial saber que ele também aprendeu com o Antunes ao longo do último ano?
A – Claro. Ele sempre foi um miúdo muito humilde e que queria ouvir os conselhos. Dava-se muito bem comigo e eu dava-me muito bem com ele. Dizem que é impossível dois jogadores da mesma posição serem amigos mas isso não é assim. Ainda agora tenho aqui exemplos, dou-me muito bem com o Bastos e o Vigário. Não temos por que não nos dar bem, lutámos pela mesma posição mas queremos todos o bem da equipa. Primeiro está a equipa e fora do campo há uma vida que temos de viver. Nisso o Nuno sempre foi impecável, sempre quis ouvir conselhos, tanto meus como do resto da malta, defesas com mais experiência, como o Neto e o Coates, que falavam muito com ele, com o Quaresma, com o Inácio. É um miúdo que gosta de ouvir os outros e merece viver o que está a viver hoje. É muito por causa disso que está onde está: por ser humilde, trabalhador, por ouvir conselhos e não se achar mais do que ninguém, apesar de ser o titular do Sporting. Podia ouvir um conselho meu e pensar ‘o que é que este está para aqui a falar se sou eu quem joga e ele é o suplente’. Nunca o fez, bem pelo contrário, sempre respeitou os meus conselhos e os tomou como ajuda.
Como foi ouvir Rúben Amorim dizer que tinha sido um orgulho enorme ser seu treinador?
A – Estou muito orgulhoso de mim mesmo porque antes de sermos jogadores de futebol temos de ser profissionais. Os clubes pagam aos jogadores para treinar e não para jogar. Temos de treinar bem durante a semana e depois ao fim-de-semana as opções ficam para o treinador. Certas ou erradas, temos de as aceitar. Não posso ser hipócrita e dizer que estava contente por chegar ao fim-de-semana e não jogar. Não, não estava. Mas também como é que poderia pedir ao treinador para jogar se chegasse à semana e não desse o meu melhor? Era impossível. Se já dando o meu melhor era quase impossível, se não dessa era quase a minha morte. Foi essa forma de estar que me levou a aguentar o ano todo quase sem jogar. Depois a decisão era do treinador e eu respeitava-a ao máximo. A relação com o Rúben foi sempre boa por causa disso, ele sabia que podia contar comigo para dar o exemplo, para ser o primeiro a chegar lá e treinar, e eu podia contar com ele porque ele era sincero e claro no que dizia.
“NÃO VOU FICAR SURPREENDIDO QUANDO O NUNO MENDES FOR O MELHOR LATERAL-ESQUERDO DO MUNDO DAQUI A UNS ANOS”