Quando Rúben e Bruno são (maus) exemplos
FIFPro denuncia sobreutilização dos futebolistas e duo português surge em destaque nesse aspeto
Relatório recentemente divulgado confirma o aumento dos índices de sobrecarga dos jogadores profissionais – dos níveis mais baixos aos superiores. Maior parte dos jogos realizam-se com cinco dias ou menos de intervalo e Sindicato exige mudanças imediatas na calendarização
Em junho, o Sindicato Internacional dos Jogadores de Futebol (FIFPro), através de uma carta aberta assinada pelo secretário-geral Jonas Baer-Hoffmann, prometeu lutar pela criação de um “calendário mais justo e razoável” para os futebolistas. As “exigências físicas e mentais” a que os jogadores são sujeitos foram as razões apontadas para o “tempo de mudança”. Agora, a FIFPro apresentou números e exemplos concretos dessa sobrecarga, que é particularmente visível ao mais alto nível. Numa altura em que se fala na possibilidade de realizar os Mundiais de dois em dois anos – e não tem faltado contestação à ideia da FIFA –, o referido relatório sublinha o congestionamento do calendário, com a maioria dos jogos a realizarem-se com cinco dias ou menos de intervalo, as muitas viagens e os reduzidos períodos de descanso entre as competições como principais problemas que enfrentam os futebolistas. Este estudo teve por base a análise a cerca de 40 mil jogos, com uma amostra de 265 jogadores de 44 ligas, entre junho de 2018 e agosto de 2021 – ou seja, engloba as últimas três temporadas. E a principal conclusão é que o tempo de jogo dos futebolistas na chamada “zona crítica” – encontros disputados com cinco ou menos dias de intervalo – cresceu visivelmente nas últimas épocas. Alguns jogadores (os mais solicitados) chegam mesmo a fazer entre 60 e 70 jogos por época, com 70 a 80% dos seus minutos em campo a surgirem em partidas sucessivas sem o devido tempo de descanso. Rúben Dias e Bruno Fernandes são dois exemplos disso mesmo, como se pode constatar nas páginas seguintes.
A sucessão de jogos afeta os jogadores de diversas formas. Desde logo com perturbações do sono e na consistência do treino face ao pouco tempo de recuperação entre as partidas. O aumento do risco de lesões é outra consequência natural, enquanto o stress acumulado pode igualmente criar problemas ao nível da saúde mental dos futebolistas.
Desta forma, além do período mínimo de cinco dias de intervalo entre os jogos, a FIFPro recomenda duas paragens completas (permitindo aos jogadores descansar de treinos e jogos) ao longo do ano: a primeira de quatro semanas (28 dias), entre o final de uma época e o começo de outra; a segunda de duas semanas (14 dias), a meio da temporada. E sugere ainda uma pausa obrigatória para os futebolistas depois de um certo número de partidas consecutivas.