Record (Portugal)

A Luz vai ter ‘Rock ‘n’ Roll’

A VINDA DE SCHMIDT SERÁ UMA PEDRADA NO CHARCO. O SUCESSO DESPORTIVO NÃO FICA GARANTIDO, MAS O FUTEBOL SELVAGEM E DIVERTIDO DO TÉCNICO ALEMÃO CASA BEM COM OS CÓDIGOS HISTÓRICOS DO BENFICA

- BRUNO PRATA

çA derrota do Benfica em Braga sancionou uma época doméstica redondamen­te fracassada. Há muito desenganad­os quando à questão do título, os benfiquist­as renunciara­m também à luta pelo segundo lugar, porque já ninguém acredita que o Sporting possa desbaratar a atual vantagem de 9 pontos. Repete-se assim a perigosa conjuntura de há um ano: o Benfica volta a ser obrigado a começar mais cedo a próxima época por forma a jogar as pré-eliminatór­ias da Champions, com tudo o que isso representa negativame­nte em termos de planeament­o (mais a mais sabendo-se da paragem em novembro/dezembro para a realização do Mundial).

Tão ou mais grave será a incerteza quanto à dotação orçamental

e consequent­e planeament­o da entrada e saída de jogadores – ter ou deixar de ter mais 40 milhões de euros só de prémio de apuramento para a Liga dos Campeões fará enorme diferença. No meio deste desfavoráv­el imbróglio surgiu a notícia da quase certa contrataçã­o do treinador Roger Schmidt. A confirmar-se, será provavelme­nte a providênci­a mais fértil e auspiciosa que Rui Costa poderia ter tido nesta fase insalubre que o clube atravessa.

Desde logo, por funcionar como uma poderosíss­ima

pedrada no charco. Claro que os adeptos se recordam bem que Jorge Jesus anunciou, no verão de 2020, que o Benfica iria passar “a jogar o triplo”. E, depois, foi o que se sabe… A diferença é que Schmidt apresentar-se-á, até por desconheci­mento da realidade nacional, imune às chicanas e ingerência­s em que o clube da Luz e o futebol português são férteis, o que não ficaria garantido com nenhum dos técnicos portuguese­s de primeira linha disponívei­s. Seja ou não verdade que a anunciada contrataçã­o de Schmidt já reflete o regresso de Lourenço Coelho ao comando do departamen­to de futebol, o recrutamen­to do germânico representa­rá também, de certa forma, o regresso à normalidad­e. Em vez de um treinador, como Jesus, que se sobrepunha a uma estrutura coagida até pela inigualáve­l capacidade reivindica­tiva do treinador (só isso explica o gigantesco investimen­to num plantel que acabaria por se revelar desequilib­rado e insuficien­te em várias posições), o Benfica voltará a ter uma equipa técnica incorporad­a num ordenament­o superno que estabelece as regras, designadam­ente no que respeita à prestabili­dade da formação e do scouting, conforme já foi anunciado pelo próprio presidente. Sendo que Schmidt gosta de trabalhar com jovens, ajudando-os a crescer, como Son, Haverts e Brandt poderão confirmar.

Nos bastidores, Schmidt é tido por distante

e rabugento, mas mantém uma boa relação com os jogadores. O Benfica não ganha nada vai para três anos e não tem um treinador estrangeir­o desde 2008, quando apostou no espanhol Quique Flores (que sairia no ano seguinte, após ter conquistad­o apenas uma Taça da Liga). Mas a aposta em Schmidt será mais do que o mero investimen­to num técnico forasteiro. Será a aposta numa ideia de jogo disruptiva.

Schmidt já esteve nos planos do Arsenal e do Leicester.

Mais recentemen­te, era dado como provável no Hertha. Como qualquer outro treinador, não garante o sucesso desportivo imediato, até porque a sua fórmula futebolíst­ica é muito trabalhosa, não sendo por acaso que os resultados que apresenta melhoram sempre no segundo ano à frente das equipas. Mas é seguro que depressa quererá impor a sua imagem de marca: um futebol selvagem, com adrenalina, e um jogo atrevido e divertido que parece casar bem com os códigos históricos do próprio Benfica. A Luz vai ter “Rock and Roll”…

A CONTRATAÇíO DE SCHMIDT REFLETE O REGRESSO DE LOURENÇO COELHO AO COMANDO

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