A Luz vai ter ‘Rock ‘n’ Roll’
A VINDA DE SCHMIDT SERÁ UMA PEDRADA NO CHARCO. O SUCESSO DESPORTIVO NÃO FICA GARANTIDO, MAS O FUTEBOL SELVAGEM E DIVERTIDO DO TÉCNICO ALEMÃO CASA BEM COM OS CÓDIGOS HISTÓRICOS DO BENFICA
çA derrota do Benfica em Braga sancionou uma época doméstica redondamente fracassada. Há muito desenganados quando à questão do título, os benfiquistas renunciaram também à luta pelo segundo lugar, porque já ninguém acredita que o Sporting possa desbaratar a atual vantagem de 9 pontos. Repete-se assim a perigosa conjuntura de há um ano: o Benfica volta a ser obrigado a começar mais cedo a próxima época por forma a jogar as pré-eliminatórias da Champions, com tudo o que isso representa negativamente em termos de planeamento (mais a mais sabendo-se da paragem em novembro/dezembro para a realização do Mundial).
Tão ou mais grave será a incerteza quanto à dotação orçamental
e consequente planeamento da entrada e saída de jogadores – ter ou deixar de ter mais 40 milhões de euros só de prémio de apuramento para a Liga dos Campeões fará enorme diferença. No meio deste desfavorável imbróglio surgiu a notícia da quase certa contratação do treinador Roger Schmidt. A confirmar-se, será provavelmente a providência mais fértil e auspiciosa que Rui Costa poderia ter tido nesta fase insalubre que o clube atravessa.
Desde logo, por funcionar como uma poderosíssima
pedrada no charco. Claro que os adeptos se recordam bem que Jorge Jesus anunciou, no verão de 2020, que o Benfica iria passar “a jogar o triplo”. E, depois, foi o que se sabe… A diferença é que Schmidt apresentar-se-á, até por desconhecimento da realidade nacional, imune às chicanas e ingerências em que o clube da Luz e o futebol português são férteis, o que não ficaria garantido com nenhum dos técnicos portugueses de primeira linha disponíveis. Seja ou não verdade que a anunciada contratação de Schmidt já reflete o regresso de Lourenço Coelho ao comando do departamento de futebol, o recrutamento do germânico representará também, de certa forma, o regresso à normalidade. Em vez de um treinador, como Jesus, que se sobrepunha a uma estrutura coagida até pela inigualável capacidade reivindicativa do treinador (só isso explica o gigantesco investimento num plantel que acabaria por se revelar desequilibrado e insuficiente em várias posições), o Benfica voltará a ter uma equipa técnica incorporada num ordenamento superno que estabelece as regras, designadamente no que respeita à prestabilidade da formação e do scouting, conforme já foi anunciado pelo próprio presidente. Sendo que Schmidt gosta de trabalhar com jovens, ajudando-os a crescer, como Son, Haverts e Brandt poderão confirmar.
Nos bastidores, Schmidt é tido por distante
e rabugento, mas mantém uma boa relação com os jogadores. O Benfica não ganha nada vai para três anos e não tem um treinador estrangeiro desde 2008, quando apostou no espanhol Quique Flores (que sairia no ano seguinte, após ter conquistado apenas uma Taça da Liga). Mas a aposta em Schmidt será mais do que o mero investimento num técnico forasteiro. Será a aposta numa ideia de jogo disruptiva.
Schmidt já esteve nos planos do Arsenal e do Leicester.
Mais recentemente, era dado como provável no Hertha. Como qualquer outro treinador, não garante o sucesso desportivo imediato, até porque a sua fórmula futebolística é muito trabalhosa, não sendo por acaso que os resultados que apresenta melhoram sempre no segundo ano à frente das equipas. Mas é seguro que depressa quererá impor a sua imagem de marca: um futebol selvagem, com adrenalina, e um jogo atrevido e divertido que parece casar bem com os códigos históricos do próprio Benfica. A Luz vai ter “Rock and Roll”…
A CONTRATAÇÃO DE SCHMIDT REFLETE O REGRESSO DE LOURENÇO COELHO AO COMANDO