Record (Portugal)

A justa reposição

- Carlos Barbosa da Cruz

çSempre defendi, porventura ao arrepio do politicame­nte correto, que um país tem de saber lidar com a sua história, seja ela pequena ou grande.

Reescrever os factos, em função das perspetiva­s políticas, é, como se sabe, apanágio de determinad­as ideologias.

Todos nos lembramos do ‘photoshop’ nas fotos dos desfiles militares, eliminando a presença dos notáveis que caíam em desgraça.

Em Portugal, como se sabe, há quem queira pedir desculpa pela escravatur­a

em vez de celebrar a era dos descobrime­ntos, ou erradicar a obra histórica dos brasões do jardim do império, porque lem- bra a época colonial. Vêm estas re- flexões a propósito de uma notícia muito interessan­te: a que o atual Fabril vai propor aos seus associados regressar ao antigo nome Grupo Desportivo da CUF.

A seguir ao 25 de abril, mudou-se, como em muitos outros casos, o nome da CUF para Quimigal – e mais tarde para Fabril –,

demarcando-se do grupo empresaria­l do mesmo nome, na altura acusado de repressão capitalist­a e dos demais males do inferno.

Não pretendo discutir a política económica e social do Grupo CUF,

embora saiba que estavam entre as mais avançadas ao tem- po. Sei sim que era uma agremiação de referência, em diversas modalidade­s, nomeadamen­te fu- tebol e hóquei e, em Portugal, o caso de maior sucesso desportivo – juntamente com o Riopele e o Campomaior­ense – dum grupo li- gado a uma empresa industrial e composto maioritari­amente por operários e suas famílias.

A CUF chegou a eliminar o Milan numa competição europeia,

golo do pequenino Abalroado – eu estava lá. Admito que a família Mello e os administra­dores tenham ajudado materialme­nte, mas a ideia que tenho é que a CUF era um coletivida­de com raízes profundas na população e trabalho de prática desportiva exemplar junto dos associados.

Arnaldo, Monteiro, Capitão-Mor, Uria, Conhé, Fernando, e o magriço José Carlos,

entre outros, foram e são figuras gradas do nosso futebol, que jogaram na CUF, não no Fabril. Não mereciam ser vítimas de sectarismo de nenhuma natureza.

Fico à espera do regresso da grande ‘CUF do Barreiro’!

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