“EUROPEUS TRAZEM QUALIDADE”
Técnico ex- Corinthians e Athletico-PR visitou Record e analisou as vantagens da entrada de estrangeiros, nomeadamente portugueses, no futebol brasileiro
O que o traz a Portugal?
TIAGO NUNES – É a inquietude da procura de conhecimento, evolução e experiências, conversar com treinadores e dirigentes. Nós, sul-americanos, acabamos por estar distantes e falamos sem a propriedade necessária.
Ⓡ Muitos dizem que é um treinador com ideias de futebol europeu. Concorda?
TN– Sou um treinador brasileiro, formado no Brasil, e que gosta de beber de várias fontes. Uma delas é a escola portuguesa, principalmente dos meados dos anos 2000 com a chegada da periodização tática ao Brasil, sendo que quem mais produzia livros no meio eram os portugueses. José Mourinho, Vítor Frade… Comecei a consumir a cultura do futebol europeu, especialmente do futebol português, e transferi algumas coisas para melhorar as equipas e melhorar o jogo de forma geral. A qualidade individual e a criatividade estão muito presentes no futebol brasileiro, mas a organização tem crescido dia a dia.
“SOU UM TREINADOR BRASILEIRO QUE GOSTA DE BEBER DE VÁRIAS FONTES. UMA DELAS É A ESCOLA PORTUGUESA”
Ⓡ Treinar em Portugal é uma possibilidade?
TN– Ainda não. No futuro tenho o desejo de treinar na Europa, mas o meu mercado é o da América Sul porque ainda tenho uma limitação na paridade das licenças. Tenho a licença máxima da CONMEBOL, mas não tenho os 60 meses como treinador principal. Até lá quero preparar-me e conhecer pessoas, ambientes e o nível de dificuldade para perceber se no futuro poderei ter essa oportunidade.
Ⓡ Há quatro treinadores lusos no Brasileirão: Abel Ferreira, Vítor Pereira, Luís Castro e Paulo Sousa. Qual é sua opinião em particular e a do futebol brasileiro em geral sobre a situação?
TN– Qualquer mudança de paradigma tem resistência inicial. O Brasil é conhecido como o país do futebol e durante muitos anos a maioria dos clubes era orientada por treinadores brasileiros. Vieram alguns estrangeiros, mas nunca tinham tido tanto sucesso. Nos últimos dois ou três anos chegaram muitos treinadores de fora e houve uma resistência genaralizada. Ao mesmo tempo, vejo o futebol como universal. Existem vários meios e caminhos para se chegar ao resultado e a chegada de treinadores estrangeiros tem cenários positivos. O primeiro é o de oxigenar ideias. Por não ter um vínculo com o futebol brasileiro, existe um olhar mais frio e pragmático em relação ao atleta e à gestão do plantel. Vamos vivendo a globalização do desporto e não dá para imaginar a existência de uma reserva de mercado para treinadores. Sou a favor da troca e partilha, creio que o crescimento passa pelo debate e conflito de ideias. Os treinadores europeus trazem qualidade ao futebol brasileiro e obrigam os técnicos que estão lá a saírem da zona de conforto para procurarem mais conhecimento.
Qual é a explicação para os clubes brasileiros terem apostado mais em portugueses? Um efeito provocado por Jorge Jesus?
TN– Também. Jorge Jesus chegou ao Brasil e teve resultados fantásticos com a equipa brasileira com mais representatividade internacional. Isso tem um peso significativo. Com o passar do tempo veremos treinadores estrangeiros demitidos, como já aconteceu, porque o resultado é imperativo. O ciclo de mais treinadores estrangeiros do que nacionais é uma fase passageira, talvez 5, 10 ou 15 anos, mas vai chegar o momento em que o conhecimento fortalecido por este intercâmbio fará o treinador nacional voltar a ser lembrado.
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