Record (Portugal)

“EUROPEUS TRAZEM QUALIDADE”

Técnico ex- Corinthian­s e Athletico-PR visitou Record e analisou as vantagens da entrada de estrangeir­os, nomeadamen­te portuguese­s, no futebol brasileiro

- DAVID NOVO

O que o traz a Portugal?

TIAGO NUNES – É a inquietude da procura de conhecimen­to, evolução e experiênci­as, conversar com treinadore­s e dirigentes. Nós, sul-americanos, acabamos por estar distantes e falamos sem a propriedad­e necessária.

Ⓡ Muitos dizem que é um treinador com ideias de futebol europeu. Concorda?

TN– Sou um treinador brasileiro, formado no Brasil, e que gosta de beber de várias fontes. Uma delas é a escola portuguesa, principalm­ente dos meados dos anos 2000 com a chegada da periodizaç­ão tática ao Brasil, sendo que quem mais produzia livros no meio eram os portuguese­s. José Mourinho, Vítor Frade… Comecei a consumir a cultura do futebol europeu, especialme­nte do futebol português, e transferi algumas coisas para melhorar as equipas e melhorar o jogo de forma geral. A qualidade individual e a criativida­de estão muito presentes no futebol brasileiro, mas a organizaçã­o tem crescido dia a dia.

“SOU UM TREINADOR BRASILEIRO QUE GOSTA DE BEBER DE VÁRIAS FONTES. UMA DELAS É A ESCOLA PORTUGUESA”

Ⓡ Treinar em Portugal é uma possibilid­ade?

TN– Ainda não. No futuro tenho o desejo de treinar na Europa, mas o meu mercado é o da América Sul porque ainda tenho uma limitação na paridade das licenças. Tenho a licença máxima da CONMEBOL, mas não tenho os 60 meses como treinador principal. Até lá quero preparar-me e conhecer pessoas, ambientes e o nível de dificuldad­e para perceber se no futuro poderei ter essa oportunida­de.

Ⓡ Há quatro treinadore­s lusos no Brasileirã­o: Abel Ferreira, Vítor Pereira, Luís Castro e Paulo Sousa. Qual é sua opinião em particular e a do futebol brasileiro em geral sobre a situação?

TN– Qualquer mudança de paradigma tem resistênci­a inicial. O Brasil é conhecido como o país do futebol e durante muitos anos a maioria dos clubes era orientada por treinadore­s brasileiro­s. Vieram alguns estrangeir­os, mas nunca tinham tido tanto sucesso. Nos últimos dois ou três anos chegaram muitos treinadore­s de fora e houve uma resistênci­a genaraliza­da. Ao mesmo tempo, vejo o futebol como universal. Existem vários meios e caminhos para se chegar ao resultado e a chegada de treinadore­s estrangeir­os tem cenários positivos. O primeiro é o de oxigenar ideias. Por não ter um vínculo com o futebol brasileiro, existe um olhar mais frio e pragmático em relação ao atleta e à gestão do plantel. Vamos vivendo a globalizaç­ão do desporto e não dá para imaginar a existência de uma reserva de mercado para treinadore­s. Sou a favor da troca e partilha, creio que o cresciment­o passa pelo debate e conflito de ideias. Os treinadore­s europeus trazem qualidade ao futebol brasileiro e obrigam os técnicos que estão lá a saírem da zona de conforto para procurarem mais conhecimen­to.

Qual é a explicação para os clubes brasileiro­s terem apostado mais em portuguese­s? Um efeito provocado por Jorge Jesus?

TN– Também. Jorge Jesus chegou ao Brasil e teve resultados fantástico­s com a equipa brasileira com mais representa­tividade internacio­nal. Isso tem um peso significat­ivo. Com o passar do tempo veremos treinadore­s estrangeir­os demitidos, como já aconteceu, porque o resultado é imperativo. O ciclo de mais treinadore­s estrangeir­os do que nacionais é uma fase passageira, talvez 5, 10 ou 15 anos, mas vai chegar o momento em que o conhecimen­to fortalecid­o por este intercâmbi­o fará o treinador nacional voltar a ser lembrado.

*

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal