Tetos salariais
HÁ JOGADORES MELHORES QUE OUTROS, QUE GERAM MAIS RECEITAS EM COMPARAÇÃO COM COLEGAS E ADVERSÁRIOS, MAS HÁ LIMITES QUE NÃO PODEM SER ULTRAPASSADOS
Como é que uma indústria como o futebol que gera milhões de receitas todos os anos tem um problema estrutural de clubes com passivos excessivos? Qualquer empresa de qualquer setor de atividade tem necessariamente de ser rentável ao final de cada ano, caso contrário corre o risco de falência técnica e desaparecer do mercado.
No futebol, historicamente, muitos clubes chegam ao final do ano em situação financeira deficitária, mas poucos foram aqueles que fecharam portas por causa disso. No futebol, ao contrário de outros setores, consegue-se várias vezes empurrar o problema financeiro para a frente e muitos clubes já fazem desta prática modo de vida.
Apesar das diferenças entre países, o curioso é que esta situação impensável acontece transversalmente em quase todas as ligas nacionais e tanto sucede em clubes de dimensão mundial como em clubes pequenos ou de divisões secundárias. Foi este tipo de situação insustentável que o fair play fi- nanceiro tentou resolver. Não conseguiu na versão 1. Temo que volte a não resolver na ver- são 2 recentemente apresentada pela UEFA. Para simplificar, no futebol, como em qualquer outra indústria, as receitas devem ser sempre superiores aos custos. O problema, do meu ponto de vista, não está do lado das receitas já que a esmagadora maioria dos clubes de futebol conseguiu nos últimos anos aumentar significativamente as suas receitas e diversificá-las conseguindo chegar a diferentes públicos e a monetizar a paixão dos seus adeptos.
Claramente entendo que a questão só se resolve no lado dos custos. Dentro da estrutura de custos existe uma componente que assume proporções gigantescas no mundo do futebol: os salários dos jogadores. Naturalmente que tem sentido que assim seja. Não pode é assumir o peso que tem assumido na maioria dos clubes. Ronaldo, Messi, Mbappé e muitos outros têm um desempenho desportivo excecional? Sim, sem qualquer dúvida. Ronaldo, Messi, Mbappé geram receitas fabulosas aos clubes de futebol onde jogam? Sim, sem qualquer dúvida. Mas há limites que não podem ser ultrapassados.
Se uma parte da enorme riqueza que o futebol gera anualmente for canalizada em excesso para poucas dezenas de atletas de topo só haverá um efeito: o necessário aumento da lotação das garagens destes milionários para estacionar toda a coleção automóvel de cada um. Nada mais. Este problema surgiu há muitos anos no desporto profissional norte-americano que, apesar de não ter conseguido resolver o tema na totalidade, foi capaz de o minimizar através da introdução de tetos salariais acordados entre os clubes e as respetivas ligas.
Fico a imaginar tudo o que poderia ter sido feito com os salários de Gareth Bale no desenvolvimento do futebol europeu nos últimos anos…
EM QUASE TODAS AS LIGAS HÁ CLUBES COM SITUAÇÃO FINANCEIRA DEFICITÁRIA