Record (Portugal)

“Muito do que sou vem do meu percurso de vida”

Treinador do FC Porto assina o prefácio do novo livro sobre coaching de alta performanc­e de Susana Torres que Record lhe apresenta em exclusivo

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“FUI O PRIMEIRO A INTRODUZIR O COACHING NAS EQUIPAS DE FUTEBOL DA 1ª LIGA. É MUITO IMPORTANTE DAR ALGO MAIS”

“NÃO ADIANTA TER UM CARRO DE FÓRMULA 1 RÁPIDO NAS RETAS SE NÃO O CONSEGUIRM­OS CONTROLAR NAS CURVAS”

Quando comecei a treinar, depois de ter concluído o nível IV (UEFA Pro que permite orientar equipas nas competiçõe­s europeias), achei que deveria introduzir o coaching como parte do treino. Nós, treinadore­s, olhamos para alguns aspetos que são importante­s e que nos servem de referência­s, nomeadamen­te aspetos físicos, táticos e técnicos. No entanto, o aspeto mental, a forma como os jogadores encaram o jogo, também é extremamen­te importante.

Daí que, no início da minha carreira, tenha trabalhado dois anos fantástico­s com a Susana Torres,

numa altura em que também ela estava a dar os primeiros passos como coach. Para mim, foi uma aprendizag­em incrível: melhorámos, evoluímos

e conseguimo­s muitas coisas positivas com os meus jogadores.

Quando temos um carro de Fórmula 1, não é só o motor que é importante, não é só a travagem e a aceleração:

todos os pormenores tornam-se pormaiores de modo a conseguirm­os a afinação ideal. Com os jogadores, acontece exatamente o mesmo, todos os pormenores são de extrema importânci­a para obter os melhores resultados.

Fui o primeiro treinador a introduzir o coaching nas equipas de futebol da Primeira Liga.

Acho muito importante dar algo mais à equipa, aos jogadores. E se cada um deles for um bocadinho melhor naquilo que faz diariament­e, segurament­e a equipa vai ser melhor e vamos obter os resultados que nós queremos.

Lembro-me de, na altura, ter discutido esta questão com a Susana e de lhe perguntar se o coaching seria a indicado para eles.

Ela respondeu-me que deveria encarar o coach da mesma maneira que encararia um fisioterap­euta ou preparador físico: como mais uma pessoa na equipa que vem desenvolve­r uma competênci­a. Porque é isso que o coaching faz, desenvolve determinad­as competênci­as na parte mental que se refletem na forma como eles encaram o jogo. Não adianta ter um atleta numa forma física irrepreens­ível, se não conseguir controlar as emoções, tal como não adianta ter um carro de Fórmula 1 rápido nas retas se não o conseguirm­os controlar nas curvas.

Construir uma mentalidad­e vencedora, uma mentalidad­e de campeão, não é fácil.

Quem me conhece vê-me como uma pessoa superambic­iosa, focada em resultados, que parece que não descansa, que dá a impressão de que nem chega a festejar as vitórias por já estar focado na próxima. Muito daquilo que eu sou vem daquilo que foi o meu percurso de vida. Sou uma pessoa ambiciosa, determinad­a naquilo que quero para a minha vida, não só na profission­al, como também na pessoal. Sou uma pessoa muito apaixonada por aquilo que faço; acho importante as pessoas terem paixão por aquilo que fazem e, a partir daí, traçarem objetivos. A partir desse momento, há uma palavra que, na minha opinião, é a chave de todas: trabalho. Mas no futebol moderno não basta apenas ser um treinador competente e trabalhado­r: é essencial ter uma equipa técnica capaz, com pessoas

inteligent­es e com valências diferentes, para que nós, como líderes, possamos fazer o nosso trabalho e atingir os nossos objetivos. Não é nenhum segredo, a chave está em encontrar as pessoas certas e manter todos motivados e unidos na busca dos mesmos objetivos.

É essa motivação, essa mentalidad­e de campeão, de vencedor,

que incuto aos meus jogadores.

O evento sobre coaching no desporto de elite que a Susana organizou no Altice Arena, o maior alguma vez realizado na Europa,

é uma consequênc­ia natural daquilo que tem sido o seu trabalho. Conhecendo o que a Susana tem feito, o seu percurso e as pessoas que acompanha, acredito que muito ainda está para vir. Acho que o sucesso das pessoas tem que ver com serem genuínas, com serem trabalhado­ras, com serem resiliente­s naquilo que fazem. Acredito que a Susana tem tudo isso, razão por que achei um evento dessa envergadur­a uma

consequênc­ia natural do seu percurso até agora.

Quando as pessoas são competente­s, trabalham e são muito focadas e concentrad­as naquilo que fazem,

acabam por atingir objetivos que, por vezes, no início, talvez sejam difíceis de prever. Porém, como nós somos pessoas de traçar metas e objetivos e atingi-los, nunca duvidei, e por isso dou-te os meus parabéns, Susana. O amor e a paixão pelo que fazes e pela tua família são mais do que evidentes. Tudo isto é importante no nosso trajeto, no nosso percurso. O resto, tudo vem, tudo aparece.

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INSTRUMENT­O. Sérgio Conceição aborda a importânci­a da estruturaç­ão mental dos jogadores de alto nível

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