Record (Portugal)

“No Mafra íamos cortar a relva no fim dos treinos”

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O Pepa, treinador do V. Guimarães, descreveu, há alguns meses, as dificuldad­es vividas no Tondela em 2010/11, altura em que também era adjunto lá. Foi um início assim tão complicado?

LF – Era o meu primeiro ano de futebol sénior mais a sério, no caso como adjunto do Filipe Moreira, e aí conheci o Pepa, que já tinha uma família e que fazia Aveiro-Tondela todos os dias. Para ele não gastar tanto em combustíve­l, já que na altura ganhávamos cerca de 500/600 euros, acabou por ficar em minha casa. Aliás, até posso confidenci­ar que, quando o Pepa recebeu o convite para ir para o Benfica, nós estávamos a jogar ‘Footbal Manager’. Para além disso, houve uma partilha muito grande, já que ele foi jogador e eu não. Ele partilhava várias vivências dele e eu tinha mais a área académica. Eu dizia “Ó Pepa, não pode ser só isso” e ele respondia “Lá estás tu, a teoria não interessa para nada” [risos].

Ⓡ Como surgiu a chance de se estrear como treinador principal no Ericeirens­e em 2012/13?

PM – Em 2011/12 trabalhava como analista do Oriental e estava na formação do Ericeirens­e, sendo que, no fim dessa época, o Filipe Moreira recebeu um convite do Sp. Covilhã e disse-me para ir. No entanto, nessa altura o Ericeirens­e

estava em ebulição e os seniores até eram para acabar. Foi aí que o Mário Claro, então capitão e agora presidente, me disse para ficar como treinador. Na Covilhã não ia ganhar muito e, ficando, podia estar perto da família e dos amigos. Começou tudo assim, sem ganharmos um euro nos seniores e a trabalharm­os na formação para ganharmos 200/300 euros.

Ⓡ A maioria dos seus adjuntos acompanham-no desde o início de carreira. Que percentage­m do seu sucesso atribui a esse facto?

LF – Não consigo responder a isso, sei é que somos muito mais fortes unidos do que separados. Somos uma boa equipa técnica no panorama nacional e estamos a fazer o nosso percurso, passo a passo.

Ⓡ As histórias desses primeiros anos devem ser muitas...

LF – No Ericeirens­e tínhamos jogadores que moravam em Lisboa e nós íamos de carro, à vez, buscá-los e levá-los lá. Fazíamos rifas para deixarmos 10 euros a cada jogador como prémio de jogo, íamos bater à porta do comércio da Ericeira pedir patrocínio­s para pagarmos água, luz e gás, íamos à AF Lisboa inscrever a equipa... No Pêro Pinheiro, à sexta-feira, sempre havia uma churrasco com máquina de imperiais, grelhador... Fazia um espírito incrível. Depois veio o Mafra, onde, no fim dos treinos, íamos acartar areia e cortar a relva para ajudarmos na manutenção do campo. Desse tempo tenho outra história: já estávamos apurados para a fase de subida e eu tinha as chuteiras completame­nte rotas, ao ponto de se ver o dedo do pé. Os jogadores começaram a dizer “Ó míster, isso não é nada. Não pode andar com essas chuteiras” e eu acabei por trocar. No jogo a seguir perdemos e, quando ia entrar no treino seguinte, mandaram-me calçar as chuteiras velhas e andei com elas até subirmos. Aqui aconteceu algo parecido. As minhas chuteiras romperam-se e começaram a dizer que tinha de comprar umas novas. Eu disse “Nada disso! Se perdermos eu troco, enquanto estivermos em 1º não o faço”. E foi até ao fim. Sempre fiz o que fosse preciso para lá chegar, mas isso vai desgastand­o, sinto que não conseguia fazer tanto outra vez.

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“SOMOS UMA BOA EQUIPA TÉCNICA NO PANORAMA NACIONAL E ESTAMOS A FAZER O NOSSO CAMINHO, PASSO A PASSO”

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