“INVESTIR MUITO NÃO É SINÓNIMO DE SUCESSO"
E qual é essa realidade? Há hoje uma aposta efetiva no talento dos jovens jogadores gregos ou os projetos continuam a depender, sobretudo, de investimentos avultados em jogadores mais experientes?
PEDRO MARTINS - Continua a depender muito de investimentos fortes. Aliás, a política de desenvolvimento da formação de jovens, quer de jogadores quer de treinadores, na Grécia ainda tem um longo caminho a percorrer. E, sinceramente, acho pouco credível que estejam a dar-se esses passos. Embora a 2ª Liga já esteja neste momento a integrar equipas B, como são os casos do Olympiacos, do PAOK ou do Panathinaikos. No entanto, há aqui questões de fundo que têm de ser resolvidas para potenciar maior competitividade ao nível da formação. No entanto, o campeonato é muito competitivo. Temos uma fase regular e, depois, temos os playoffs, que são jogos muito fortes, muito intensos. Há a toda a hora jogos entre Olympiacos e PAOK, entre Olympiacos e Panathinaikos, entre AEK e PAOK. Nesse aspeto, os ‘playoffs’ revelam-se muito apelativos, porque as equipas são muito fortes. São muito difíceis os ‘playoffs’, o que os torna atrativos.
Ⓡ Quer dizer, aquele caminho que os clubes portugueses estão a fazer, o regresso à aposta na formação, não é seguido pelos clubes gregos?
PM - Portugal já fez esse caminho há muito, muito tempo. O FC Porto não tinha essa dimensão estratégica de aposta na juventude e ia ganhando, é um facto, mas esta temporada recuperou o título muito fruto da sua capacidade de formação e o Sporting, depois de um período complicado, de muitos anos sem vencer, na época passada e com muita gente da formação atingiu também o título. E o Benfica também, anteriormente, no tempo de Bruno Lage, foi campeão com base numa aposta muito forte na formação. Por vezes, assistimos a grandes orçamentos, como o que o Benfica teve neste dois últimos anos. E acabou por não ser campeão. Se nós olharmos àquilo que tem sido o percurso das equipas portuguesas, a nível externo, normalmente tem por base a sua formação ou, se não a sua formação, é muito com base no que é feito internamente. São jogadores oriundos de Portugal ou já com muitas referências de campeonato português. E nós temos muitos casos em que o FC Porto foi campeão com muita prata da casa ou com muita gente que conhecia bem a realidade do campeonato português. O Benfica atingiu finais europeias também muito com base nessa juventude. Por vezes, os investimentos avultados não são sinónimo de sucesso e, curiosamente, notamos muito isso em Portugal.
Ⓡ Não gostava de contrariar esta tendência de grandes investimentos e dar oportunidade aos
“HÁ QUESTÕES DE FUNDO QUE TÊM DE SER RESOLVIDAS PARA POTENCIAR A COMPETITIVIDADE AO NÍVEL DA FORMAÇÃO”
jovens jogadores que vão despontando não apenas no Olympiacos mas no futebol grego, em geral? N - Eu já tenho muitos miúdos, muita gente. Eu tenho um jovem guarda-redes [Konstas Tzolakis] com 19 anos, que, neste momento, divide a baliza com o internacional da República Checa [Tomas Vaclik]. E, inclusivamente, aos 17 anos, jogou uma final da Taça da Grécia. Eu tenho um extremo com 19 anos, eu tenho um número 8 com 20 anos e tenho outro médio-centro grego com 19 anos. Tenho muita gente já a ser preparada para o futuro. A Grécia tem uma particularidade. Não há tanta paciência, porque querem-se resultados imediatos. O Olympiacos estar sem ganhar, por exemplo, 19 anos, como o Sporting era inconcebível na realidade grega, porque é outra mentalidade. No entanto, nós estamos a fazer o trabalho de casa e estamos a preparar estes jovens há algum tempo.
Ⓡ E a ganhar, torna-se mais fácil fazer esse trabalho de casa?
PM - Eu também não sou fundamentalista a esse ponto. Eu, no Olympiacos, tenho gente com alguma idade, com muita experiência, que tem tido um percurso extraordinário. Tenho aqui o Mathieu Valbuena, com 37 anos, que tem sido um exemplo de profissional a demonstrar toda a sua qualidade. Também é com este tipo de jogadores que eles crescem, que eles aprendem, não só o jogo, mas também valores profissionais do que é exigido. Portanto, são verdadeiros exemplos os que também ajudam estes miúdos a crescer. Tenho o meu capitão, que também já tem 36 anos e é um verdadeiro exemplo para os jovens. Já não joga com tanta fre
“TENHO UM JOVEM GUARDA-REDES, COM 19 ANOS, QUE DIVIDE A BALIZA COM UM INTERNACIONAL CHECO [TOMAS VACLIK]”
quência, no entanto, eu sei que é alguém que ajuda muito a integração de jogadores e, fundamentalmente, estes jovens a crescer. Nós já temos uma base para a próxima época, com cerca de 30 a 40 por cento de jogadores oriundos da formação.
Ⓡ É com esta base que vai enfrentar os próximos desafios? PM - O caminho é este, não há outro. Quando iniciámos este ciclo, tínhamos mais dois ou três jogadores que, na altura, eram jovens, foram apostas com 19 ou 20 anos. Hoje temos a noção de que, realmente há necessidade de vendê-los – porque o mercado é assim – e dar oportunidade a outros. *