Loucura desagua no mar negro
Record deslocou-se à Turquia e assistiu de perto aos incríveis festejos do mais recente campeão daquele país. E perante tamanha paixão, ficámos com pele de galinha. Só visto!
Foi impressionante, incrível... deveras marcante! Embora seja possível utilizar muitos adjetivos que definam aquilo que a equipa de reportagem de Record encontrou e vivenciou na Turquia, a verdade é que nunca serão suficientes para transmitir a tamanha felicidade dos adeptos do Trabzonspor. O clube quebrou um jejum de 38 anos e arrecadou o sétimo título de campeão turco do palmarés, razões mais do que suficientes para a cidade de Trabzon ainda continuar em festa passadas duas semanas da inédita conquista. Foi uma vitória apimentada com muito sentimento e orgulho. Via-se nos olhos das pessoas, que voltaram a sentir-se donas e senhoras de um país cujo poder futebolístico tem estado à distância de mais de mil quilómetros... que é como quem diz, em Istambul. É lá que moram os poderosos Galatasaray, Fenerbahçe e Besiktas. Contudo, esta conquista esbateu o centralismo e deixou a pequena cidade de Trabzon à beira da loucura. Bandeiras por tudo o que é edifício, engenhos pirotécnicos, romarias intermináveis, gritos de alegria, trânsito infernal... foram 24 horas de loucos. É de ficar com pele de galinha, perante tamanha paixão e fanatismo. Só visto!
O voo que levou a equipa de reportagem de Record até à Turquia fez escala em Istambul e já nesse momento se sentiu a vibração. Junto à porta de embarque para Trabzon foram aparecendo alguns fãs com camisolas azuis-grenás, prova mais do que evidente que aquele era o sítio certo para descolar e seguir viagem até ao destino. A chegada a Trabzon foi especial e até causadora de um tremendo ‘déjà vu’. Quem não se lembra do ambiente vivido em Portugal aquando do Euro’2004? Com milhares e milhares de bandeiras a colorirem o exterior das casas de norte a sul do país? Pois bem, assim está aquela pequena cidade que alberga pouco mais de 300 mil habitantes e que cresceu sempre de olhos postos no Mar Negro. Todos os recantos estão marcados com o símbolo do novo campeão, até mesmo os grandes edifícios, como armazéns ou hotéis, estão revestidos com lonas gigantes. Sentiu-se a agitação desde o primeiro minuto, é certo, mas o dia da cerimónia de entrega da taça de campeão deixou as emoções mais à flor da pele. Ainda que a língua turca não seja de fácil perceção, muitos foram os momentos em que se ouviu a palavra şampiyon (campeão, em português). Estava tudo em pulgas para que chegasse o final de tarde, que marcaria o definitivo momento da consagração.
Romaria até ao estádio
Não era dia de jogo... mas mais parecia. Uma autêntica jornada de futebol sem futebol. Por volta das 16h00, a cidade começou a esvaziar-se com destino às margens do Mar Negro. A loucura desaguou ali mesmo. Em
pleno asfalto o trânsito era caótico e averso a regras, muito por culpa da multidão que saltava para estrada e serpenteava pelos carros. Uns de tochas na mão, outros a gritar a plenos pulmões, embora todos com o mesmo objetivo: assistir ao desfile dos heróis. Num cenário que mais parecia ter sido retirado da famosa obra cinematográfica ‘Piratas das Caraíbas’, a equipa do Trabzonspor foi de barco até bem perto do Estádio Senol Günes. Sempre num ambiente de festa e escoltada por outras lanchas, a embarcação percorreu a costa e recebeu o apoio da multidão que se encontrava na margem. As águas que ligam a cidade ao mundo transformaram-se por meros momentos num roteiro da glória. Mais à frente, no porto, o autocarro panorâmico estava a postos para levar os heróis da região até ao estádio. Naquele momento, as imediações do Senol Günes rebentavam pelas costuras, mas lá dentro as bancadas começavam a vestir-se. Enquanto os jogadores não chegavam ao complexo e acorriam até ao palco montado no centro do relvado, os fãs divertiam-se com a atuação de diversos cantores. Um autêntico festival que fez a espera de mais de três horas parecer curta.
EQUIPA FOI DE BARCO ATÉ BEM PERTO DO ESTÁDIO E RECEBEU FORTE APOIO DA MULTIDÃO QUE SE ENCONTRAVA NA COSTA
BANDEIRA AZUL-GRENÁ PRESENTE EM TODOS OS RECANTOS, NUM CENÁRIO QUE LEMBRA PORTUGAL AQUANDO DO EUROPEU’2024
A lenda Hamsik
Assim que o autocarro chegou ao complexo, as bancadas encheram... e foi o delírio. Grande parte dos 40 mil adeptos ligou as luzes dos respetivos telemóveis e os mais radicais aproveitaram para acender tochas (até na zona VIP!), com todos a cantarem a uma só voz. Até parecia que as gargantas tinham amplificadores, tal era o ruído que saía de cada uma daquelas cordas vocais. Um ambiente arrepiante que durou até ao levantar da Taça, momento que, como não poderia deixar de ser, foi acompanhado pelo mítico ‘We Are The Champions’, dos Queen. Antes, os jogadores foram entrando ao som de músicas à escolha. Pela passadeira vermelha passou o português Edgar Ié (ex-Sporting), assim como Djaniny (ex-Benfica) ou Gervinho. Mas o mais aplaudido foi Hamsik (ex-Nápoles), juntamente com o guardião Çakir e o criativo Ömür (ambos da formação), o treinador Avci e o presidente Ahmet Agaoglu. Foi inesquecível. Para todos!