Record (Portugal)

Loucura desagua no mar negro

Record deslocou-se à Turquia e assistiu de perto aos incríveis festejos do mais recente campeão daquele país. E perante tamanha paixão, ficámos com pele de galinha. Só visto!

- DANIEL LOPES MONTEIRO ENVIADO ESPECIAL A TRABZON (TURQUIA)

Foi impression­ante, incrível... deveras marcante! Embora seja possível utilizar muitos adjetivos que definam aquilo que a equipa de reportagem de Record encontrou e vivenciou na Turquia, a verdade é que nunca serão suficiente­s para transmitir a tamanha felicidade dos adeptos do Trabzonspo­r. O clube quebrou um jejum de 38 anos e arrecadou o sétimo título de campeão turco do palmarés, razões mais do que suficiente­s para a cidade de Trabzon ainda continuar em festa passadas duas semanas da inédita conquista. Foi uma vitória apimentada com muito sentimento e orgulho. Via-se nos olhos das pessoas, que voltaram a sentir-se donas e senhoras de um país cujo poder futebolíst­ico tem estado à distância de mais de mil quilómetro­s... que é como quem diz, em Istambul. É lá que moram os poderosos Galatasara­y, Fenerbahçe e Besiktas. Contudo, esta conquista esbateu o centralism­o e deixou a pequena cidade de Trabzon à beira da loucura. Bandeiras por tudo o que é edifício, engenhos pirotécnic­os, romarias intermináv­eis, gritos de alegria, trânsito infernal... foram 24 horas de loucos. É de ficar com pele de galinha, perante tamanha paixão e fanatismo. Só visto!

O voo que levou a equipa de reportagem de Record até à Turquia fez escala em Istambul e já nesse momento se sentiu a vibração. Junto à porta de embarque para Trabzon foram aparecendo alguns fãs com camisolas azuis-grenás, prova mais do que evidente que aquele era o sítio certo para descolar e seguir viagem até ao destino. A chegada a Trabzon foi especial e até causadora de um tremendo ‘déjà vu’. Quem não se lembra do ambiente vivido em Portugal aquando do Euro’2004? Com milhares e milhares de bandeiras a colorirem o exterior das casas de norte a sul do país? Pois bem, assim está aquela pequena cidade que alberga pouco mais de 300 mil habitantes e que cresceu sempre de olhos postos no Mar Negro. Todos os recantos estão marcados com o símbolo do novo campeão, até mesmo os grandes edifícios, como armazéns ou hotéis, estão revestidos com lonas gigantes. Sentiu-se a agitação desde o primeiro minuto, é certo, mas o dia da cerimónia de entrega da taça de campeão deixou as emoções mais à flor da pele. Ainda que a língua turca não seja de fácil perceção, muitos foram os momentos em que se ouviu a palavra şampiyon (campeão, em português). Estava tudo em pulgas para que chegasse o final de tarde, que marcaria o definitivo momento da consagraçã­o.

Romaria até ao estádio

Não era dia de jogo... mas mais parecia. Uma autêntica jornada de futebol sem futebol. Por volta das 16h00, a cidade começou a esvaziar-se com destino às margens do Mar Negro. A loucura desaguou ali mesmo. Em

pleno asfalto o trânsito era caótico e averso a regras, muito por culpa da multidão que saltava para estrada e serpenteav­a pelos carros. Uns de tochas na mão, outros a gritar a plenos pulmões, embora todos com o mesmo objetivo: assistir ao desfile dos heróis. Num cenário que mais parecia ter sido retirado da famosa obra cinematogr­áfica ‘Piratas das Caraíbas’, a equipa do Trabzonspo­r foi de barco até bem perto do Estádio Senol Günes. Sempre num ambiente de festa e escoltada por outras lanchas, a embarcação percorreu a costa e recebeu o apoio da multidão que se encontrava na margem. As águas que ligam a cidade ao mundo transforma­ram-se por meros momentos num roteiro da glória. Mais à frente, no porto, o autocarro panorâmico estava a postos para levar os heróis da região até ao estádio. Naquele momento, as imediações do Senol Günes rebentavam pelas costuras, mas lá dentro as bancadas começavam a vestir-se. Enquanto os jogadores não chegavam ao complexo e acorriam até ao palco montado no centro do relvado, os fãs divertiam-se com a atuação de diversos cantores. Um autêntico festival que fez a espera de mais de três horas parecer curta.

EQUIPA FOI DE BARCO ATÉ BEM PERTO DO ESTÁDIO E RECEBEU FORTE APOIO DA MULTIDÃO QUE SE ENCONTRAVA NA COSTA

BANDEIRA AZUL-GRENÁ PRESENTE EM TODOS OS RECANTOS, NUM CENÁRIO QUE LEMBRA PORTUGAL AQUANDO DO EUROPEU’2024

A lenda Hamsik

Assim que o autocarro chegou ao complexo, as bancadas encheram... e foi o delírio. Grande parte dos 40 mil adeptos ligou as luzes dos respetivos telemóveis e os mais radicais aproveitar­am para acender tochas (até na zona VIP!), com todos a cantarem a uma só voz. Até parecia que as gargantas tinham amplificad­ores, tal era o ruído que saía de cada uma daquelas cordas vocais. Um ambiente arrepiante que durou até ao levantar da Taça, momento que, como não poderia deixar de ser, foi acompanhad­o pelo mítico ‘We Are The Champions’, dos Queen. Antes, os jogadores foram entrando ao som de músicas à escolha. Pela passadeira vermelha passou o português Edgar Ié (ex-Sporting), assim como Djaniny (ex-Benfica) ou Gervinho. Mas o mais aplaudido foi Hamsik (ex-Nápoles), juntamente com o guardião Çakir e o criativo Ömür (ambos da formação), o treinador Avci e o presidente Ahmet Agaoglu. Foi inesquecív­el. Para todos!

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