Record (Portugal)

Mística vai passar de pai para filho

João Freitas enaltece o papel no balneário do pai, Arnaldo Freitas, e o legado que vai deixar

- GONÇALO VASCONCELO­S

Arnaldo Gonçalves Freitas e João Freitas protagoniz­aram um caso que deve ser inédito a nível nacional e não só: são pai e filho e sentaram-se juntos, semana após semana, no banco do Marítimo. O histórico massagista, de 69 anos, passou este esta época a ter a companhia do filho, médico de 40 anos, nos jogos da Liga Bwin. “Há dias o João contou a um jogador que era filho do Arnaldo e ele não quis acreditar. 70 por cento da equipa já sabia, mas houve quem não acreditass­e antes de ver fotografia­s”, conta o massagista no seu estilo bem disposto, recordando que o filho trabalha no Marítimo desde 2017/18 e já tinha feito alguns jogos com as equipas A, B e Sub-23. Quando Arnaldo voltou ao Marítimo em 1995 – já tinha sido jogador nos anos 1970 – o filho tinha 13 e estava nos iniciados. “Foi jogador das nossas escolinhas até os juniores. Depois abandonou para ir para Lisboa estudar. Um dia, chegou a casa e disse: ‘pai, vou parar’”, recorda. E o destino estava traçado. “Desde criança que queria ser médico. A minha mãe também queria, mas queria ainda mais que fosse jogador de futebol”, revela João Freitas.

Mais que massagista

O agora médico do Marítimo integrou-se com naturalida­de. “No início eu apresentav­a-me como filho do Arnaldo. Acho que é um orgulho para mim. Tenho essa sorte e, depois de cá chegar, consigo perceber o peso do meu pai no clube e no grupo. E antes não tinha essa noção. E sinto que ainda hoje estou a aprender em muitos jogos. Era só a pessoa mais antiga do balneário, foi jogador e era a única pessoa que estava cá todos os dias e a toda a hora, enquanto os jogadores se estavam a preparar para o treino. Tem essa experiênci­a como atleta, que passa para os jogadores, e sabia no momento certo espicaçar, colocá-los à prova, perceber até onde eles estão a ir e a fazer o bem do grupo. E isso não se ganha de um dia para outro”, assinala, apontando: “Sinto que sou muito melhor médico do desporto por ser filho do meu pai, mas ainda tenho muito para aprender para saber um décimo do que ele sabe”, conta João Freitas, que enaltece ainda os ensinament­os do antigo médico Ângelo Rui. Já o pai releva, com orgulho, a competênci­a e a forma como o filho se integrou no grupo. “Os jogadores gostaram da sua maneira de ser”, diz. Arnaldo sempre foi mais que um massagista, pois tinha um papel ‘invisível’ a nível das refeições, logística e disciplina do plantel, nomeadamen­te nos hotéis, e vai deixar um legado importante agora que encerra o ciclo. “Ele transporto­u a mística do Marítimo para o balneário. Uma pessoa que tem a história do clube dentro de si e tem o prazer de a passar. E isso via-se diariament­e no contacto com o meu pai. Uma pessoa que contava as histórias, trazia-as ao grupo de forma divertida, ajudando a criar um grupo de trabalho mais feliz e interativo. Era uma grande mais-valia e sinto que os próprios atletas vão ficar tristes e que algo se vai perder com o meu pai a sair. E já ouvi isso da parte deles”, sublinha.

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HISTÓRICO MASSAGISTA ENCERROU UM PERCURSO DE 32 ANOS NO CLUBE NA TEMPORADA QUE AGORA TERMINA

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 ?? ?? ÚLTIMO JOGO. Pai e filho prestam assistênci­a ao lesionado Matheus Costa, central maritimist­a, no último jogo dos madeirense­s na Liga Bwin, contra o Portimonen­se, que marcou a despedida de Arnaldo Gonçalves. O histórico massagista vai ser substituíd­o na próxima temporada, mantendo-se o médico junto da equipa
ÚLTIMO JOGO. Pai e filho prestam assistênci­a ao lesionado Matheus Costa, central maritimist­a, no último jogo dos madeirense­s na Liga Bwin, contra o Portimonen­se, que marcou a despedida de Arnaldo Gonçalves. O histórico massagista vai ser substituíd­o na próxima temporada, mantendo-se o médico junto da equipa
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