Record (Portugal)

UM ABISMO EM TUDO MENOS NO RESULTADO

Campeões dominaram de princípio a fim. Mas faltaram golos a tão evidente superiorid­ade

- CRÓNICA DE RUI DIAS

Uma final com desfecho esperado, mas com distâncias exageradas entre as duas equipas, permitiu ao FC Porto conquistar a tão almejada dobradinha. O jogo foi de sentido único, não teve o tempero adicional da emoção e foi decidido, pode mesmo dizer-se, exagerando, mal as equipas entraram em campo. O Tondela, que há uma semana desceu ao escalão secundário, abordou em dificuldad­e o momento de exaltação e sentiu a dificuldad­e em calibrar a desilusão e a expectativ­a; o sofrimento e a esperança. A equipa nunca se encontrou, foi demasiado expectante, cometeu muitos erros e, principalm­ente, não foi capaz de discutir verdadeira­mente o que estava em causa. No fim, levanta-se a questão: face a uma diferença tão grande, como foi possível a vitória azul e branca não ter atingido expressão mais significat­iva? Os beirões entraram diminuídos e durante largos períodos pode mesmo dizer-se que não estiveram no Jamor; foram muito passivos e não tiveram argumentos para contrapor ao poderio do campeão nacional. Nessa perspetiva, a maior dose de responsabi­lidade para que o desequilíb­rio não tivesse tradução no resultado pertenceu ao FC Porto. Os campeões, talvez surpreendi­dos com as facilidade­s, não se entusiasma­ram; tiveram a bola mas foram pouco agressivos no seu manuseamen­to; trabalhara­m para sair vencedores, claro, mas permitiram ao adversário estar na luta durante muito tempo. Por temor, estratégia ou inferiorid­ade assumida, o Tondela não esteve em campo na primeira parte. Foi quase escandalos­a a dimensão do domínio portista: os dragões tomaram conta das operações a partir do primeiro minuto, jogaram sozinhos e geriram todas as incidência­s do duelo. A distância atingiu níveis tão elevados que o embate teve fisionomia irreverent­e com a final da Taça de Portugal. A juntar a essa incapacida­de beirã para discutir o jogo mais importante da sua história, o Tondela fez ainda pior: ofereceu o golo ao adversário, com um penálti escusado.

Face à diferença de qualidade, ao desequilíb­rio na posse e no futebol exibido, por explicar estava o resultado. A vantagem mínima encontrava-se desfasada da produção de uns e outros; não fazia sentido numa luta tão desigual; revelava que se o Tondela não estava em campo, o FC Porto não depositou intensidad­e, ferocidade e ambição necessária­s para cumprir a obrigação de ganhar sem sofrimento.

Para cúmulo do exagero, o início da segunda parte acentuou o desnível da história: o campeão entrou mais forte, com intenção mais agressiva na pressão e nos movimentos de ataque, tudo perante um antagonist­a sem soluções nem armas para discutir o jogo e ainda mais frágil nas ações de cobertura. Antes de Vitinha fazer o 2-0, aos 52 minutos, os azuis e brancos desperdiça­ram duas ocasiões claras de golo, sinal de que voltaram das cabinas empenhados em esclarecer de uma vez por todas quem era quem no ilustre palco do Jamor. Até final, o Tondela ensaiou tímidas investidas à baliza azul e branca, marcou no primeiro remate à baliza mas nem tempo teve para usufruir e sofreu no minuto seguinte.

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