O imperador português
PARA OS SEUS DETRACTORES, O LUGAR DE JOSÉ MOURINHO NO INFERNO, AFINAL, AINDA NÃO ESTAVA PRONTO. MAS O PASSAPORTE PARA A IMORTALIDADE ESTÁ GARANTIDO
Lamento ver ainda tanta gente pequenina, mesquinha, medíocre e vários analfabetos funcionais a denegrirem o melhor treinador português de todos os tempos. Os vencidos da vida, pessoas ressabiadas e tristes odeiam sempre quem tem valor, quem é bom no que faz e tem currículo e sucesso.
José Mourinho marcou uma
época e foi o porta-estandarte do talento dos nossos treinadores, mas mantém-se na crista da onda depois da Liga Conferência por fazer com Udo Lattek e Giovanni Trapattoni o trio que venceu provas europeias diversas. Com Alex Ferguson e Trapattoni a constituir o triunvirato que conseguiu conquistar taças europeias em três décadas diferentes e o primeiro a levantar troféus deste continente por 4 emblemas distintos (FC Porto, Inter de Milão, Manchester United e Roma). É obra. São 26 títulos para os aziados que o odeiam enquanto ele sorri e faz a festa.
Mais: o último troféu europeu a ser ganho por um clube italiano foi em 2010. Imaginem lá: o Inter de Milão de José Mourinho. O setubalense é sinónimo de inquebrantável ambição e sede de vencer e atinge o zénite quando conduz plantéis com fome e tem o bal- neário consigo, para lá dos adeptos que já o ungiram a nova divindade romana.
Mourinho afirmou que a Roma precisa de robustecer o seu museu. E que muitas vezes a principal alegria dos ‘romanis- tas’ se bastava em ganhar o dérbi com a Lazio. Ora, uma cultura de vitória só se institui com vitórias, com rechear o palmarés e com um treinador habituado a isso. A Roma apostou no homem certo.
Ele que só no Tottenham não fez sentir o seu efeito ganhador porque o demitiram inusi- tadamente, impedindo-o de conquistar a Taça da Liga. Mas foi a Londres (ao rival Chelsea) que foi buscar uma peça-chave desta nova saga, quando ligou a Tammy Abraham e o convidou a trocar a chuva pelo sol da capital italiana, transformando-o no seu novel Didier Drogba.
Para os seus detractores,
o lugar de José Mourinho no inferno, afinal, ainda não estava pronto. Mas o passaporte para a imortalidade está garantido. E os auspícios para esta conquista eram bons, porque vi um gigantesco pano na Praça Madre Teresa em Tirana com o português numa Vespa naquela imagem já histórica que marcou a sua chegada a Roma. Os albaneses, para lá dos astros, estavam com ele.
No início da temporada aqui escrevi que dois dos maiores imperadores romanos, Trajano e Adriano, nasceram na Península Ibérica mas nenhum em terras da Lusitânia e que seria bom ter um imperador português, desejando-lhe o melhor. Como dito na genial série Gomorra, “o passado é que nos ensina a viver”. E a José Mourinho o passado ensinou-lhe a ser um catedrático em saber ganhar. Que assim continue. “Ave Imperator!”
P.S.: simpática chegada de Roger Schmidt a Portugal e com uma bela frase: “Quem ama o futebol, ama o Benfica”. O problema é que por aqui mais do que o desporto-rei se ama o respectivo clube. Esqueceram-se de lhe dizer isso.
OS VENCIDOS DA VIDA, PESSOAS RESSABIADAS E TRISTES ODEIAM QUEM TEM VALOR E SUCESSO
* Texto escrito com a antiga ortografia