Record (Portugal)

O treinador certo e a porta errada

- Leonor Pinhão

BEM FARIA RUI COSTA EM PROCEDER A UMA RENUMERAÇíO DAS PORTAS DA LUZ

SCHMIDT É UM ALEMÃO ACABADO DE ATERRAR, VINDO DA EUROPA CIVILIZADA E, DIFICILMEN­TE, JÁ TERIA ESTUDADO A ENCICLOPÉD­IA DO FUTEBOL PORTUGUÊS A PONTO DE PODER RETORQUIR COM UM “SIM, JANTÁMOS, MAS DO QUE GOSTEI MAIS FOI DA FRUTA, VOCÊS EM FRUTA SÃO ESPETACULA­RES”.

Queixam-se os portistas, e com toda a razão, da pouca relevância que os órgãos de comunicaçã­o social emprestam aos feitos do seu clube. Como este último, por exemplo, de somar a Taça de Portugal ao título de campeão nacional. Lamentam que a cobertura mediática dos festejos do FC Porto, por comparação com o que acontece quando Benfica e Sporting têm motivos para celebrar, seja despachada nas 24 horas desses dias de glória e que, depois, vá definhando até se constituir numa breve resenha chutada para o fim dos alinhament­os dos serviços noticiosos. Têm os portistas razão nos seus protestos. Existe, sim, uma diferença de tratamento e qualquer não-portista com uma réstia de imparciali­dade reconhece esse fenómeno que não fica a dever à famosa “macrocefal­ia” da Capital, mas, sim, a questões de mercado.

E foi justamente o que sucedeu neste mês de maio.

Os sucessos internos do FC Porto duraram o tempo obrigatóri­o nas agendas dos jornais e nos alinhament­os das estações de televisão e logo se impuseram outras realidades de cariz menos regional. A chegada a Lisboa do novo treinador do Benfica e as notícias do interesse do Paris Saint-Germain nos serviços do atual treinador do Sporting saltaram para as primeiras páginas e engoliram a “dobradinha” portista que pas- sou a ser coisa do passado, antes mesmo da Taça de Portugal chegar ao museu dos dragões.

O departamen­to de comunicaçã­o do FC Porto entendeu, por sua vez, alinhar na agenda geral do país e atirou-se de alma e coração ao tema Roger Schmidt com o objetivo aparente de inquinar o ambiente em torno do treinador alemão antes mesmo da época começar. E o que disse Francisco J. Marques? Isto: “A nova época ainda não começou mas a Porta 18 voltou a abrir-se a um restrito grupo de jornalista­s, que ontem foram recebidos no Estádio da Luz para um primeiro encontro com Roger Schmidt, numa espécie de pré-época para master-cartilheir­os.” Os benfiquist­as, na sua maioria, veem Schmidt como o treinador certo para o Benfica, mas mais satisfeito­s ficariam se Schmidt tivesse respondido à letra a Marques, o que seria culturalme­nte impossível. Schmidt é um cavalheiro alemão, acabado de chegar a Lisboa vindo do primeiro mundo, da Europa civilizada e, dificilmen­te, já teria estudado em 24 horas a Enciclopéd­ia do Futebol Português a ponto de poder retorquir com um “sim, jantámos, mas do que gostei mais foi da fruta, já tinha ouvido falar muto da fruta portuguesa, vocês em fruta são espetacula­res”.

Na verdade, o encontro do treinador do Benfica

com os jornalista­s não tem nada de pecaminoso tal como Francisco J. Marques muito bem sabe. O ponto sensível da sua comunicaçã­o é a alusão à “Porta 18”. Antes de modernizar a Luz com ecrãs e leds, bem faria Rui Costa em proceder à renumeraçã­o das portas do estádio. São pormenores destes que estabelece­m reputações.

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