“PRECISAVA DE GANHAR ASAS” LUÍS MAXIMIANO
Na ressaca da descida do Granada, o guardião abriu o livro, diz que não sente mágoa por ter saído do Sporting após Adán ter ficado com o lugar e sobre o futuro... não pode fazer promessas
“AMORIM DISSE-ME QUE O ADÁN IA CONTINUAR A SER TITULAR E EU PEDI PARA ENCONTRAR UM NOVO PROJETO. VOLTARIA A SAIR”
“FUTURO? NO FUTEBOL AS COISAS MUDAM MUITO RÁPIDO. NÃO VALE A PENA ESTAR A PROMETER QUE VOU – OU NÃO – FICAR...”
Olhando para a sua época no Granada, onde foi titular indiscutível, sente hoje que a saída do Sporting foi a decisão mais acertada? Na altura, disse que lhe custou bastante dar esse passo.
LUÍS MAXIMIANO – O mais importante para um jogador, neste caso um guarda-redes jovem, é poder jogar, se possível ao mais alto nível. Fui para um contexto completamente diferente, mas sei que foi um passo certo na minha carreira: precisava de crescer e de aprender com o jogo – o treino é muito importante, mas não é o mesmo que jogar sempre.
Disse que era uma decisão que tinha mesmo de tomar.
LM – Sim. Saí do Sporting, toda a gente sabe que o Sporting é o meu clube, um lugar onde fui feliz e acarinhado… Foi uma decisão muito difícil – é a vida –, não achava que ia chegar tão rápido, mas são circunstâncias da carreira, coisas que acabam por aparecer e que tens de decidir o que é melhor para ti a cada momento. Era um momento para procurar outro projeto e ganhar asas.
Ainda sente alguma mágoa, neste caso por ter perdido a titularidade a saído de um clube que representou durante 10 anos?
LM – Hoje em dia já levo isso de forma natural. Sempre dei o meu melhor, portanto tenho sempre a minha consciência tranquila. Fiz tudo o que podia. O que acontece, são circunstâncias da vida, coisas que não controlas… O Adán, quando chegou, mereceu jogar: é um excelente guarda-redes e fez temporadas muito boas na sua carreira. Não guardo mágoa nenhuma: foi o momento de seguir a minha vida e as coisas acontecem por alguma razão – é assim que penso. Repito: sem mágoa.
Compreendeu quando Rúben Amorim escolheu Adán?
LM – Claro que compreendi a decisão. Antes de a temporada [2020/21] começar tive Covid, o Adán entrou, entrou bem, a equipa ganhou – não havia motivo para ele sair. O míster acabou por optar por ele. Cada treinador toma a decisão que acha que é melhor e os jogadores têm de respeitar. Antes de sair, perguntei ao míster sobre o que ia ser a época [2021/22] e ele disse-me que o Adán, que tinha jogado sempre e bem, ia continuar a ser titular. Pedi, então, para me deixarem encontrar um projeto onde me encontrasse de novo, onde ganhasse outra vez confiança e onde pudesse voltar a jogar.
Hoje voltava a sair?
LM – Sim.
Pergunto isto porque vemos outros guarda-redes da sua geração, como o Diogo Costa, a terem conseguido a titularidade, neste caso do FC Porto… O Max fez bem em não esperar?
LM – O [fazer] bem ou o mal, só se pode perceber no futuro. Eu tomei a decisão que senti que era a correta no momento – e que hoje sinto que foi a correta. Cada um tem a sua própria carreira, cada um tem o seu timing, uns chegam primeiros, outros chegam depois… Eu comecei a jogar primeiro e não joguei depois; o Diogo [Costa] não jogou durante dois anos e acabou por jogar depois… Não há duas carreiras iguais nem há dois jogadores que façam a mesma carreira. É simples.
Vamos ao Granada: jogou muito, como queria, mas acaba por ver o seu clube descer de divisão. Há sentimentos mistos?
LM – Quando jogas futebol pensas sempre, primeiro, em ganhar, em obter bons resultados coletivos. Aí ficámos muito aquém das expectativas, porque o Granada não é um clube para ficar nessa posição, de descida de divisão; por outro lado, individualmente, sei que fiz uma boa temporada, que as coisas me correram bem… É um misto de emoções, porque por um lado ficas contente por veres o teu trabalho valorizado, mas coletivamente – o mais importante – acaba por não ser tão bom. Mas são experiências que se passam na carreira – há que seguir em frente e é o que vou fazer.
O que é que vos faltou? A liga é equilibrada e imprevisível?
LM – Uma das coisas que me surpreendeu muito quando cheguei a Espanha foi o facto de as equipas
que estão mais em baixo na tabela fazerem muitos pontos. Não ficam com muita distância das que estão a meio da tabela, ou mais acima. Nós, por exemplo, descemos [na 18.ª posição] com 38 pontos [n.d.r.: a distância para o 9.º classificado, o Valencia, foram 10 pontos]. São pontos que poderiam dar a permanência, mas neste caso não, precisávamos de mais um. Todas as equipas têm qualidade, os jogos são sempre competitivos e defrontas sempre adversários com muita qualidade, inclusive as equipas que desceram.
Ⓡ Após o jogo com o Espanyol, que ditou a descida, apontou ao “momento mais difícil” de toda a sua carreira... Quer partilhar?
LM – A vida de muita gente dependia daquilo, se ficássemos ou se descêssemos. Sentíamos que era algo muito importante para todos, para os adeptos, para as pessoas que trabalham no Granada, porque quando acontece uma catástrofe destas, acabam por haver muitas mudanças – para todos. Não podia acontecer. Os sentimentos estão à flor da pele, muito intensos de se viver. Além disso, tínhamos tudo na mão, jogávamos em casa, os outros dois [Cádiz e Maiorca] jogavam fora e tínhamos vantagem sobre eles. Ainda por cima o Espanyol [adversário do Granada] já não tinha nada em jogo. Foi muito duro de aceitar, um choque, porque ninguém pensava que poderia acontecer.
Ⓡ Prometeu que o Granada voltará à primeira divisão. E pergunto: com ou sem Max?
LM – Não é uma pergunta que possa responder já, porque há coisas que também não depende só de mim. Comigo ou sem mim, o Granada continuará a ser um grande clube e estou seguro que vai voltar à primeira divisão, que é onde pertence.
Ⓡ Não pode fazer promessas?
LM – No mundo do futebol tudo muda muito rápido e há muitas decisões, fatores, que não dependem só dos jogadores… Não vale a pena estar a fazer promessas, se vou ficar ou se vou sair.
Ⓡ Mas qual é o seu objetivo?
LM – Crescer, tornar-me um bom guarda-redes e estar ao mais alto nível – sei que posso chegar lá. É para isso que trabalho todos os dias, é isso que acredito que posso fazer e é para aí que direciono a minha energia. Quero tornar-me na minha melhor versão possível.
Ⓡ Imagine que eu era um dirigente de um clube que vai jogar a Champions e que tinha aqui um contrato para você assinar.
LM – Qualquer jogador quer jogar a Liga dos Campeões e quando és ambicioso, ambicionas estar nesse patamar. Se aparecesse essa oportunidade, não iria pensar muito, porque temos de ser ambiciosos na carreira. Se tivermos qualidade para estar nesse nível, tens de ser o primeiro a querer estar nesse nível.
Ⓡ E quer jogar na Seleção A...
LM – Se continuar a jogar – e a jogar bem – sei que posso ser chamado. É um objetivo.
*
“QUALQUER JOGADOR QUER JOGAR A CHAMPIONS. SE APARECESSE A OPORTUNIDADE, NÃO IRIA PENSARIA MUITO”