Record (Portugal)

“PRECISAVA DE GANHAR ASAS” LUÍS MAXIMIANO

Na ressaca da descida do Granada, o guardião abriu o livro, diz que não sente mágoa por ter saído do Sporting após Adán ter ficado com o lugar e sobre o futuro... não pode fazer promessas

- TEXTOS: BRUNO FERNANDES

“AMORIM DISSE-ME QUE O ADÁN IA CONTINUAR A SER TITULAR E EU PEDI PARA ENCONTRAR UM NOVO PROJETO. VOLTARIA A SAIR”

“FUTURO? NO FUTEBOL AS COISAS MUDAM MUITO RÁPIDO. NÃO VALE A PENA ESTAR A PROMETER QUE VOU – OU NÃO – FICAR...”

Olhando para a sua época no Granada, onde foi titular indiscutív­el, sente hoje que a saída do Sporting foi a decisão mais acertada? Na altura, disse que lhe custou bastante dar esse passo.

LUÍS MAXIMIANO – O mais importante para um jogador, neste caso um guarda-redes jovem, é poder jogar, se possível ao mais alto nível. Fui para um contexto completame­nte diferente, mas sei que foi um passo certo na minha carreira: precisava de crescer e de aprender com o jogo – o treino é muito importante, mas não é o mesmo que jogar sempre.

Disse que era uma decisão que tinha mesmo de tomar.

LM – Sim. Saí do Sporting, toda a gente sabe que o Sporting é o meu clube, um lugar onde fui feliz e acarinhado… Foi uma decisão muito difícil – é a vida –, não achava que ia chegar tão rápido, mas são circunstân­cias da carreira, coisas que acabam por aparecer e que tens de decidir o que é melhor para ti a cada momento. Era um momento para procurar outro projeto e ganhar asas.

Ainda sente alguma mágoa, neste caso por ter perdido a titularida­de a saído de um clube que represento­u durante 10 anos?

LM – Hoje em dia já levo isso de forma natural. Sempre dei o meu melhor, portanto tenho sempre a minha consciênci­a tranquila. Fiz tudo o que podia. O que acontece, são circunstân­cias da vida, coisas que não controlas… O Adán, quando chegou, mereceu jogar: é um excelente guarda-redes e fez temporadas muito boas na sua carreira. Não guardo mágoa nenhuma: foi o momento de seguir a minha vida e as coisas acontecem por alguma razão – é assim que penso. Repito: sem mágoa.

Compreende­u quando Rúben Amorim escolheu Adán?

LM – Claro que compreendi a decisão. Antes de a temporada [2020/21] começar tive Covid, o Adán entrou, entrou bem, a equipa ganhou – não havia motivo para ele sair. O míster acabou por optar por ele. Cada treinador toma a decisão que acha que é melhor e os jogadores têm de respeitar. Antes de sair, perguntei ao míster sobre o que ia ser a época [2021/22] e ele disse-me que o Adán, que tinha jogado sempre e bem, ia continuar a ser titular. Pedi, então, para me deixarem encontrar um projeto onde me encontrass­e de novo, onde ganhasse outra vez confiança e onde pudesse voltar a jogar.

Hoje voltava a sair?

LM – Sim.

Pergunto isto porque vemos outros guarda-redes da sua geração, como o Diogo Costa, a terem conseguido a titularida­de, neste caso do FC Porto… O Max fez bem em não esperar?

LM – O [fazer] bem ou o mal, só se pode perceber no futuro. Eu tomei a decisão que senti que era a correta no momento – e que hoje sinto que foi a correta. Cada um tem a sua própria carreira, cada um tem o seu timing, uns chegam primeiros, outros chegam depois… Eu comecei a jogar primeiro e não joguei depois; o Diogo [Costa] não jogou durante dois anos e acabou por jogar depois… Não há duas carreiras iguais nem há dois jogadores que façam a mesma carreira. É simples.

Vamos ao Granada: jogou muito, como queria, mas acaba por ver o seu clube descer de divisão. Há sentimento­s mistos?

LM – Quando jogas futebol pensas sempre, primeiro, em ganhar, em obter bons resultados coletivos. Aí ficámos muito aquém das expectativ­as, porque o Granada não é um clube para ficar nessa posição, de descida de divisão; por outro lado, individual­mente, sei que fiz uma boa temporada, que as coisas me correram bem… É um misto de emoções, porque por um lado ficas contente por veres o teu trabalho valorizado, mas coletivame­nte – o mais importante – acaba por não ser tão bom. Mas são experiênci­as que se passam na carreira – há que seguir em frente e é o que vou fazer.

O que é que vos faltou? A liga é equilibrad­a e imprevisív­el?

LM – Uma das coisas que me surpreende­u muito quando cheguei a Espanha foi o facto de as equipas

que estão mais em baixo na tabela fazerem muitos pontos. Não ficam com muita distância das que estão a meio da tabela, ou mais acima. Nós, por exemplo, descemos [na 18.ª posição] com 38 pontos [n.d.r.: a distância para o 9.º classifica­do, o Valencia, foram 10 pontos]. São pontos que poderiam dar a permanênci­a, mas neste caso não, precisávam­os de mais um. Todas as equipas têm qualidade, os jogos são sempre competitiv­os e defrontas sempre adversário­s com muita qualidade, inclusive as equipas que desceram.

Ⓡ Após o jogo com o Espanyol, que ditou a descida, apontou ao “momento mais difícil” de toda a sua carreira... Quer partilhar?

LM – A vida de muita gente dependia daquilo, se ficássemos ou se descêssemo­s. Sentíamos que era algo muito importante para todos, para os adeptos, para as pessoas que trabalham no Granada, porque quando acontece uma catástrofe destas, acabam por haver muitas mudanças – para todos. Não podia acontecer. Os sentimento­s estão à flor da pele, muito intensos de se viver. Além disso, tínhamos tudo na mão, jogávamos em casa, os outros dois [Cádiz e Maiorca] jogavam fora e tínhamos vantagem sobre eles. Ainda por cima o Espanyol [adversário do Granada] já não tinha nada em jogo. Foi muito duro de aceitar, um choque, porque ninguém pensava que poderia acontecer.

Ⓡ Prometeu que o Granada voltará à primeira divisão. E pergunto: com ou sem Max?

LM – Não é uma pergunta que possa responder já, porque há coisas que também não depende só de mim. Comigo ou sem mim, o Granada continuará a ser um grande clube e estou seguro que vai voltar à primeira divisão, que é onde pertence.

Ⓡ Não pode fazer promessas?

LM – No mundo do futebol tudo muda muito rápido e há muitas decisões, fatores, que não dependem só dos jogadores… Não vale a pena estar a fazer promessas, se vou ficar ou se vou sair.

Ⓡ Mas qual é o seu objetivo?

LM – Crescer, tornar-me um bom guarda-redes e estar ao mais alto nível – sei que posso chegar lá. É para isso que trabalho todos os dias, é isso que acredito que posso fazer e é para aí que direciono a minha energia. Quero tornar-me na minha melhor versão possível.

Ⓡ Imagine que eu era um dirigente de um clube que vai jogar a Champions e que tinha aqui um contrato para você assinar.

LM – Qualquer jogador quer jogar a Liga dos Campeões e quando és ambicioso, ambicionas estar nesse patamar. Se aparecesse essa oportunida­de, não iria pensar muito, porque temos de ser ambiciosos na carreira. Se tivermos qualidade para estar nesse nível, tens de ser o primeiro a querer estar nesse nível.

Ⓡ E quer jogar na Seleção A...

LM – Se continuar a jogar – e a jogar bem – sei que posso ser chamado. É um objetivo.

*

“QUALQUER JOGADOR QUER JOGAR A CHAMPIONS. SE APARECESSE A OPORTUNIDA­DE, NÃO IRIA PENSARIA MUITO”

 ?? FOTOS: RUI MINDERICO ??
FOTOS: RUI MINDERICO
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal