A guerra surda entre a Liga e a FPF
A ENTIDADE PRESIDIDA POR PEDRO PROENÇA, QUE VEM SOMANDO REVESES CONSECUTIVOS NESTE BRAÇO-DE -FERRO, PRECISA PERCEBER QUE NÃO É A SEMEAR URTIGAS QUE SE PROVA SER UM AGRICULTOR COMPETENTE...
çSó alguém muito aéreo não terá ainda reparado na guerra surda que há muito persiste entre a Liga de Clubes e a Federação (FPF), como voltou a ficar demonstrado nas últimas semanas. Seria demasiado especulativo e até arriscado estar aqui a arrolar as responsabilidades e as motivações de cada uma das partes, mas é cada vez mais manifesto que a entidade presidida por Pedro Proença vem somando reveses consecutivos neste braço-de-ferro.
Um exemplo evidente desta peleja não assumida aconteceu na última assembleia geral da FPF, onde a Liga não conseguiu que fossem sequer votadas as cinco alterações que havia proposto ao regulamento disciplinar. Na reunião magna, a direção da FPF e o Conselho de Disciplina levantaram obstáculos, alegando ilegalidades. A verdade é que, independentemente de haver ou não ilicitudes, é difícil de entender os propósitos benignos de quem queria que aos jogadores faltosos às convocatórias das seleções se aplicasse um clausulado que, independentemente de remeter para as regras da FIFA, é claramente menos castigador que o vigente. Da mesma forma, pareceu hostil e até perversa a proposta para que o Conselho de Disciplina ficasse impedido, entre outras restrições que lhe eram impostas, de publicitar a instauração de processos disciplinares até que os arguidos fossem notificados. É difícil entender este tipo de proposituras quando se reclama uma justiça desportiva mais atuante e célere...
A Liga ainda tentou passar a ideia de ter havido insídia e hipo- crisia por parte da FPF, mas a divulgação da carta que José Couceiro enviou a Pedro Proença confirma que o vice-presidente federativo com assento nas reu- niões da Liga de Clubes alertou antecipadamente para as ilegali- dades, que nalguns casos podiam mesmo, segundo alguns ju- ristas, ferir o Regime Jurídico das Federações.
Na passada sexta-feira, os clubes da 1.ª e 2.ª Liga reuniram-se e deci- diram retirar as propostas. Mas o que poderia ser vista como uma decisão prudente e judiciosa, aca- bou por denunciar mau perder. Foi isso que transpareceu quando se alegou que o futebol profissional “não se presta a alimentar mais conflitos artificialmente criados”.
E se o ambiente já estava apimentado com este e com outros anteriores episódios pior ficou após o diretor-executivo da Liga, Rui Caeiro, ter revelado publicamente que o organismo que representa os clubes profissionais estava a “trabalhar no sentido de poder fazer a implementação” do VAR na 2.ª Liga “já nesta época 22/23”, tendo ainda afiançado que esse desiderato estava assegurado para 20023/24. Poucas horas depois, a FPF emitiu um comuni- cado a negar uma e outra coisas.
As notícias posteriores vindas a público confirmaram que as duas partes vêm debatendo o tema desde 6 de maio, mas surgiram versões contraditórias sobre a possibilidade de a Liga não ter aceitado a vontade da FPF de pagar apenas 75% do valor necessário (e apenas durante os próximos 4 anos, quando a Liga reclamava por mais 5 ou 6).
A implementação do sistema de vídeo-arbitragem custa mais de um milhão de euros por ano e é esse encargo que a FPF vem assumindo desde há cinco épocas na liga principal. Não faz mais do que a sua obrigação, dirá quem cede os jogadores que a seleção manuseia para obter chorudas receitas nos Europeus e nos Mundiais. É um argumento válido, mas que não anula o facto de a Liga se ter apressado a anunciar um acordo similar para a 2.ª Liga que não estava ainda totalmente acordado e, muito menos, contratualizado. Rui Caeiro fez um anúncio unilateral, ignorando quem se propunha saldar o grosso da fatura, o que pode ser visto como uma deslealdade.
É por isso normal que a FPF se tenha sentido como o progenitor que paga a boda e depois nem tem direito a saber o dia e a hora da festança… Já vai sendo tempo de a Liga liderada por Pedro Proença perceber que não é a semear urtigas que se prova ser um agricultor competente…
A FPF SENTIU-SE COMO O PROGENITOR QUE PAGA A BODA E DEPOIS NEM SABE O DIA E A HORA DA FESTANÇA...