Caiu o Carmo e o Oliveira
çA mise-en-scène criada à volta da transferência de David Carmo para o FC Porto atesta o grau de cegueira clubística que enferma o futebol português. Claro que, do ponto de vista forense, é sempre possível questionar se, no limite, há conflito de interesses num acordo em que o Braga pode acrescentar aos 20M€ mais 0,5M€ por cada título nacional conquistado pelo FC Porto nas próximas cinco épocas (no máximo de 2,5M€). Mas, em vez de se esbravejar precipitadamente contra a “falta de vergonha” e a putrefação moral, seria bem mais profilático e ajuizado discutir se vale a pena impor restrições a este tipo de acordos de transferência. Até porque há muito se sabe de situações análogas noutras ligas bem mais ilustres e competitivas – na Premier League, a situação já se colocou de forma bem concreta. Ou seja, a discussão em redor dos princípios morais até pode ser proficiente, mas só gente despudorada pode insinuar que jogadores, treinadores e até o presidente do Braga admitiriam lucrar com uma derrota da sua equipa. Muito discutida foi também a transferência de Sérgio Oliveira para o Galatasaray. Questionaram-se os escassos 3M€ que o FC Porto irá receber, mas faltou dizer o essencial: o grande prejudicado, do ponto de visto desportivo, foi o jogador. Oliveira estava perto de ficar livre no final de 2020/21, quando brilhou e foi o melhor portista tanto a nível interno como na Champions, marcando o total de 20 golos. Tinha propostas de boas equipas das melhores ligas. Mas o FC Porto convenceu-o a renovar, acenando-lhe com 2,5M€ limpos por ano. A ideia era conseguir depois uma transferência que contentasse todas as partes. Mas falhou a mudança para a Fiorentina e o empréstimo à Roma não resultou. E, como o FC Porto não suporta outro contrato idêntico ao de Otávio, não lhe restou outra solução do que mudar-se para o 13º classificado da última liga turca, onde irá receber (2,7M€ net) quase tanto como o FC Porto encaixou…