Record (Portugal)

O Senhor Terceiro Anel

COM O DINHEIRO DA VENDA DE FERNANDO CHALANA AOS FRANCESES DO BORDÉUS, O PRESIDENTE FERNANDO MARTINS TRANSFORMO­U A LUZ NUM DOS MAIORES ESTÁDIOS DO MUNDO

- Octávio Ribeiro Jornalista

Testemunhe­i de perto o génio ímpar de Fernando Chalana, a partir da escola preparatór­ia. Aquele miúdo franzino, que driblava todos, desde o seu guarda-redes à baliza contrária, obviamente estava destinado ao brilho ímpar.

Com 14 anos, já Chalana estava no Barreirens­e. Nos treinos de conjunto, a jogar pelas reservas, punha de tal forma a cabeça à roda ao lateral-direito titular – o meu querido amigo e também já desapareci­do Romão -, que este, para gargalhada geral, pediu ao técnico Manuel de Oliveira: “míster, tire-me este miúdo daqui, se não ainda faço alguma desgraça”. Logo na época seguinte, Chalana deixou de ser um problema para os treinos do louro lateral do Barreirens­e. O meu clube do coração vendeu o pequeno génio ao Benfica, onde se afirmou logo como a estrela de uma excelente equipa de juniores.

Depressa se estreou na primeira equipa da Luz e chegou à seleção principal. Após o Europeu de 1984, Chalana foi vendido pelo presidente Fernando Martins ao Bordéus. A avultada verba não foi gasta com as chorudas co- missões do presente, antes serviu para fechar o ‘terceiro- -anel’, tornando o antigo Estádio da Luz num dos maiores estádios do mundo. O som dos quase 120 mil espectador­es, comportado­s por aquele monumento à emoção, fazia tremer qualquer adversário, ainda antes da bola rolar. Se um Chalana surgisse hoje, seria uma estrela global.

Convido os leitores mais jovens a procurarem todos os vídeos do pequeno génio, para verificare­m que, se este texto peca, é apenas pela incapacida­de de cantar tanto talento concentrad­o num homem só.

O futebol de Chalana era deslumbran­te. Em sprint, sem tocar na bola, com um simples menear dos ombros, fazia sentar adversário­s. Chalana sabia tudo sobre o jogo coletivo. Uma sabedoria inata, que lhe permitia optar pela melhor solução de jogada na maioria das situações. Os grandes dribladore­s são, em regra, melhores a assistir para golo do que na concretiza­ção própria. Chalana era um caso à parte, ora servia, ora rematava, consoante o que a jogada mais pedisse. Apesar de baixo e leve, até com a cabeça tinha um golpe certeiro.

Morreu Fernando Chalana.

Morreu o maior símbolo de um grande Benfica da era pós-Eusébio. Morreu precocemen­te, vítima de uma doença degenerati­va, o homem que, no final da década de 70 e início da de 80, carregou Benfica e Seleção para noites épicas. Chalana fazia-nos sentir que tudo era possível.

O Benfica irá certamente despedir-se dele com as homenagens merecidas. E eternizá-lo. Pois, na memória do futebol, Chalana já é eterno.

CONVIDO OS MAIS JOVENS A PROCURAREM VÍDEOS DE CHALANA. PARA VÊ-LO EM AÇÃO

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