Record (Portugal)

Um icebergue carregado de tontinhos

A NECESSIDAD­E DE GERIR BEM O SPORTING ATRIBUIU O TRABALHO A RÚBEN AMORIM: OLHAR PARA QUEM FICOU, ‘PESCAR’ NA ACADEMIA E RECONSTRUI­R A EQUIPA

- DANIEL SÁ Alexandre Pais Ex-Diretor Record BRUNO PRATA

Teria de ser Pedro Neves de Sousa, repórter exemplar, a esbarrar na criatura: aquele jovem perturbado que disse preferir ter estado nas Torres Gémeas em setembro de 2001 do que assistir à derrota europeia do Sporting. O problema é que esse tolo é a ponta de um icebergue carregado de tontinhos. Infelizmen­te, conhecemos de outros sectores da sociedade a sua aterradora capacidade de se multiplica­rem – um susto.

No sábado, perante a clara

supremacia leonina frente ao V. Guimarães, essa rapaziada voltou a mergulhar nas profundeza­s. Mas virá à superfície não tarda, pois os milagres não acontecem sempre. A necessidad­e de sanear financeira­mente o clube de Alvalade, com uma gestão apertada e a cedência dos melhores jogadores, deixou a Rúben Amorim um único caminho: olhar para quem ficou, ‘pescar’ na Academia e utilizar o seu talento na reconstruç­ão da equipa. Não para discutir o campeonato, antes para o poder fazer amanhã – se, entretanto, não se tornar imperioso acudir a outras prioridade­s, vendendo mais ativos e recomeçand­o tudo.

Claro que a direção de Varan-

das não está isenta de erros. Quando há pouco dinheiro, não só é preciso realizar capital, despachand­o, por exemplo, Matheus Nunes dias depois de se ter perdido Palhinha, como se cai na armadilha de contratar ‘reforços’ fisicament­e de vidro, como St. Juste, que custou quase 10 milhões de euros para ficar no banco ou de baixa.

Esse foi o ponto a que chegou o Sporting e vá lá, vá lá: outra direção poderia optar por con- tinuar a pedir emprestado e a aumentar a dívida para perseguir a utopia do título nas pre- sentes circunstân­cias. Daí que exigir a demissão dos atuais dirigentes, sem ter a mínima noção do que é gerir o orçamento lá de casa – quanto mais o de uma sociedade desportiva do nível do Sporting – coloca os promotores ao nível do troglodita que foi buscar as Torres Gémeas para o seu tris- te momento de ‘glória’ televisiva.

Fui um daqueles ‘profetas’ que não acreditara­m no sucesso de Roger Schmidt no Benfica. Ainda não ganhou nada, é certo, mas tenho andado a pensar como poderei dar uma volta ao texto para fazer menos figura de parvo.

Cristiano Ronaldo recusa entrar em campo, é posto a treinar com os juniores, paga uma multa, fala com o treinador, passa a ser titular e nunca mais é sequer substituíd­o. E no jogo de ontem – 18 dias após o ‘crime’ – foi até capitão do MU. Se “o seu ego está fora de controlo”, como alguns ‘sábios’ dizem, imagine-se o de Ten Hag!

Uma palavra para Vasco Fernandes, o capitão que qualquer equipa gostaria de ter. Depois da lucidez e do ‘fair play’ revelados no final do Sporting-Casa Pia, vimo-lo a incentivar os companheir­os antes da partida contra o Rio Ave, apoiando de forma sublime o seu treinador, Filipe Martins, cujo pai havia partido. É o patamar de cima do futebol português, que não está, desgraçada­mente, ao alcance de todos.

Parágrafo final para Sérgio Conceição, que só falha aos que o admiram quando lhe sobem os calores e perde a cabeça. O gesto, de uma generosida­de imensa, que teve com os desafortun­ados jogadores do Villa Athletic – revelado não por ele mas por Edinho – define o homem. Chapeau!

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