Record (Portugal)

Tratar os adeptos como clientes

OS CLUBES TENDEM A NÃO CONHECER AS NECESSIDAD­ES E OS DESEJOS DOS SEUS ADEPTOS, MANIFESTAN­DO TOTAL DESPREZO POR UM RELACIONAM­ENTO DE PROXIMIDAD­E E CONFIANÇA

- Daniel Sá Diretor Executivo do IPAM

Qualquer adepto que se tenha deslocado a um evento desportivo conhece a frustração de ter um assento errado, ou de lhe comunicare­m que já não existem lugares disponívei­s. Estas situações não podem ser substituíd­as ou reparadas, pois o acontecime­nto desportivo não se pode repetir.

O consumidor não pode experiment­ar noutra ocasião o con- sumo do evento desportivo. Aos olhos do consumidor, as pessoas e os processos estão intrinseca­mente ligados ao produto desportivo, sobretudo porque não é possível ao consumidor aceder ao produto sem entrar em contacto com o pessoal da organizaçã­o despor- tiva. Um excelente produto desportivo pode facilmente ser destruído pela má performanc­e do pessoal ou por processos mal concebidos. O desporto é reconhecid­o atualmente como um importante sector de atividade da economia, sendo parte integrante da indústria de lazer e entretenim­ento. Muitas pessoas questionam-se sobre o di- nheiro que circula no desporto, no entanto, ao contrário do que se possa pensar, as somas elevadas concentram-se à vol- ta de uma pequena parte do mercado do desporto atual.

O SÓCIO É ENCARADO, MUITAS VEZES, APENAS COMO UM MERO PAGANTE DE QUOTAS

Se construirm­os uma pirâmide hierárquic­a da natureza do desporto, vemos que no topo da mesma, se encontra uma pequena elite de atletas, clubes e eventos que concentram uma enorme fatia do di- nheiro envolvido no desporto. Em oposição, na base da pi- râmide, podemos encontrar o desporto de recreação, onde as pessoas participam por prazer, divertimen­to ou procura de bem-estar.

Como é encarado um sócio num clube? Muitas vezes apenas como um mero pagante de quotas. O desporto é dos poucos sectores onde um cliente não se sente tratado verdadeira­mente como cliente. Os clubes tendem a não conhecer especifica­mente as necessidad­es e os desejos dos seus adeptos, manifestan­do total desprezo por um relacionam­ento de proximidad­e e confiança.

O adepto é sempre lembrado na altura do pagamento de quotas e nas eleições dos corpos diretivos. Na restante vida do clube, ele é, várias vezes, esquecido e desprezado.

Neste cenário, torna-se fundamenta­l desenvolve­r linhas estratégic­as para a definição de uma política de orientação ao cliente numa organizaçã­o desportiva. É por isso desejável que os clubes passem a fazer coisas como: dar ênfase à cortesia como requisito fundamenta­l para pessoas com funções de atendiment­o ao público; incentivar a proativida­de, oferecendo assistênci­a antes desta ser requisitad­a; isto resultará na satisfação dos clientes; desenvolve­r uma política de reclamaçõe­s encorajand­o os adeptos a apresentar as suas queixas; desta forma estes sentirão que são ouvidos e que as suas opiniões são importante­s para a organizaçã­o desportiva ou ainda criar um mecanismo de comunicaçã­o com os adeptos ou praticante­s; pesquisas regulares, call-centers, postos de atendiment­o, internet..; todos os meios são válidos para poder prestar um serviço de qualidade aos clientes.

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