A festa do Mundial
Espero que o futebol aprenda com a história do râguebi e aproveite esta competição para levantar bem alto a bandeira do respeito e igualdade
çRecordo ,como se ainda fosse hoje,o dia 15 de Julho de 2018, data em que presenciei enquanto VAR,na companhia do meu amigo Daniele Orsato,a final do Mundial da Rússia entre a França e Croácia, apitada pelo também amigo Nestor Pitana.
Os 45 dias anteriores a esta data foram de euforia,alegria
e entusiasmo, mas também de muito stress e responsabilidade.Representar o meu país além fronteiras sempre foi um motivo de alegria,mas também sinónimo de enorme peso, pois sabia que tinha às costas o fardo de representar uma arbitragem e um país ao mais alto nível. Nessa altura estava longe de imaginar que este mesmo país, onde vivi momentos de alegria e onde as pessoas foram incrivelmente acolhedoras, está agora mergulhado num banho de sangue e de atrocidades humanas com o intuito de juntar mais uns milhares de km2 ao seu já tão vasto território.
Nos dias que correm,
este Mundial está de igual forma mergulhado em controvérsia, fruto do enorme ruído em redor da escolha do país organizador ou das notícias acerca da violação dos direitos humanos daqueles que ajudaram a tornar real as estruturas onde agora muitos vibrarão de alegria.
Absurdo como estes sentimentos convivem
lado a lado e manchar a festa do futebol ou ofuscar a beleza de um país organizador que tem tanto de bonito e excêntrico como de peculiar, fruto dos seus costumes e tradições.
A RIQUEZA DO HOMEM
Num dos últimos jogos em que tive o prazer de arbitrar neste país, questionei o meu motorista do porquê da maioria dos prédios estarem vazios.Ao que ele me respondeu que serviam para mostrar a “nossa grandeza e capacidade”.
Ensinaram-me que a História serve,
entre muitas outras coisas, para recordar e repetir o que de bom muitos fizeram, mas também para evitar repetir os erros cometidos. Quando será que o ser humano perceberá que a riqueza do Homem está nos pequenos comportamentos e atitudes do dia-a-dia e não no volume de betão que possam ostentar ou nos km2 que possam conquistar?
ESTÁ NAS ATITUDES DO DIA-A-DIA. TODOS DEVIAM SABER ISSO
O meu desejo, para além da Seleção ser campeã
e desta forma uma vez mais fazer história, é que o futebol saiba aprender com a história do râguebi que, em 1995, pela mão do carismático Nelson Mandela, soube a utilizar a força da linguagem do desporto, que todos mundialmente conhecem e entendem e, desta forma, ser capaz de levantar bem alto a bandeira do respeito e igualdade, que deveria existir para com todos os seres humanos.