Record (Portugal)

Qatar 2022: vergonha ou paixão?

Ficou bem clara a forma como muitos lucraram com a atribuição deste Mundial ao emirado. A família real, por exemplo, comprou o PSG...

- DANIEL SAMPAIO Psiquiatra

ç1- A organizaçã­o do Mundial do Qatar envergonha o Mundo. A corrupção no futebol mundial vem de longe. João Havelange chegou a presidente da FIFA em 1974 e depressa começou com os patrocínio­s milionário­s. O sucessor Blatter andou pelas mesmas águas turvas, que envolveram também um presidente francês e uma velha estrela do futebol, o grande jogador Platini.

Quando se tomou a decisão de realizar no Qatar

o Mundial 2022 ficou bem claro como muitos lucraram de forma indigna com a deliberaçã­o, com a família real do emirado a comprar o PSG e a França a ver crescer as suas relações comerciais com aquele país.

Mais tarde começaram a aparecer notícias terríveis

sobre a organizaçã­o da competição: contrataçã­o de estrangeir­os para claques, propaganda oficial a tentar branquear os contínuos atropelos aos direitos humanos e, acima de tudo, morte de milhares de operários que construíra­m os estádios, em condições inumanas de altas temperatur­as e de isolamento.

PORTUGAL PRECISA DE AMBIÇÃO, FUTEBOL DINÂMICO E AGRESSIVO PARA TER SUCESSO

Por tudo isto, este campeonato é o Mundial da vergonha.

Mas o que acontecerá depois de a bola começar a rolar, sobretudo quando nos aproximarm­os do final da competição? É provável que a paixão pelo futebol prevaleça, sobretudo se tudo correr bem a Portugal. O futebol sempre foi perito a esconjurar os seus defuntos e todos nós precisamos de entusiasmo e emoções fortes. Pode ser que esta competição se transforme no Mundial da paixão. Considero importante que os nossos dirigentes políticos apoiem a nossa seleção, mas espero que aproveitem os microfones para denunciar os atentados aos direitos humanos que caracteriz­am o país organizado­r.

2- E a nossa seleção?

Estou entre aqueles que consideram termos neste Mundial um extraordin­ário lote de jogadores, por vezes com duas excelentes opções para cada lugar, tornando difícil a escolha. Mas precisamos de ambição, futebol dinâmico e agressivo, nunca jogar para o empate ou para ganhar por um. Tenho pena (mas aceito) que lá não estejam jogadores do Sporting, mas o único responsáve­l por isso é Frederico Varandas, com um péssimo planeament­o da época que atirou o clube para um triste quarto lugar na Liga.

Acredito que faremos um grande Mundial. E sem esquecer a vergonha da organizaçã­o, vou viver os nossos jogos com paixão.

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