Record (Portugal)

Viagem entre o dever e o prazer

RONALDO MARCOU O SEU MELHOR NÃO-GOLO: FOI A SUA AÇÃO QUE LEVOU A BOLA PARA O FUNDO DA BALIZA. EMERGIU FERNANDES E BERNARDO É UM COMPÊNDIO DE BEM JOGAR TAMBÉM NO RELVADO

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çEduardo Galeano, o egrégio pensador uruguaio, disse um dia numa entrevista que “o futebol é uma viagem entre o dever e o prazer”. E, de facto, Portugal começou a vencer o Uruguai e a garantir o apuramento para os ‘oitavos’ ainda durante a semana, quando Fernando Santos assinou por baixo a ensinadela monumental que Bernardo Silva deu a todos aqueles que se fartaram de postular uma marcha atrás na ideia de jogo e uma revolução no ‘11’, como se o ‘particular’ com a Nigéria e a maior parte da estreia mundialist­a com o Gana não tivessem servido para provar que a seleção portuguesa estava finalmente no trilho certo.

A exibição não foi perfeita,

como é óbvio. No último quarto de hora da primeira parte tivemos mais dificuldad­e em ter bola (mas antes controlámo-la de forma esmagadora), fruto dos erros no passe e de outras más definições, designadam­ente nos cruzamento­s. Mais tarde, quando saiu Rúben Neves e entrou Rafael Leão (a ideia era dar mais profundida­de e largura, com os respetivos ajustes no miolo) passamos pelo pior período, com dificuldad­es até na transição defensiva (Valverde também acelera como poucos), isto numa altura em que o Uruguai já tinha abdicado da linha de cinco lá trás e apostado em ‘setas’ nas alas, passando a atacar quase em 4x2x4. Mas Santos emendou a mão de forma exemplar, lançando de uma só vez Palhinha, Matheus Nunes e Ramos.

Portugal estabilizo­u imediatame­nte. E voltou a ter a bola. E isso é que é fundamenta­l para uma equipa que finalmente aproveita o talen- to, que se expressa agora com o inerente jogo associativ­o e que se assume como de ação e menos de reação. A verdade é que, em boa parte de duelo com um adversário forte, já vi- mos um Portugal forte na rea- ção à perda e capaz de ferir o adversário com a liberdade e a mobilidade de movimentos que é o seu novo paradigma.

Falta ainda alguma orientação mais vertical, mas, espero, lá chegaremos.

Foi também um jogo de grandes

respostas individuai­s. A come- çar por Diogo Costa, como se ele pudesse ser hoje questiona- do. Ronaldo marcou o seu melhor não-golo, porque foi a sua ação que levou a bola de Bruno Fernandes para o fundo da ba- liza. Ainda sai demasiado do rectângulo mágico, mas parece cada vez em melhor condição a desempenha­r o papel em que mais faz a diferença. Bruno Fernandes fez um jogo cheio e emergiu completame­nte quando os uruguaios entraram em delírio. E Bernardo confirmou-se como um compêndio de bem jogar também no relvado. Mas, como também diria Galeano, “o futebol é uma alegria que dói”, e custou ver sair em lágrimas o lesionado Nuno Mendes.

FOI TAMBÉM UM JOGO DE GRANDES RESPOSTAS INDIVIDUAI­S, A COMEÇAR POR DIOGO COSTA

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