Record (Portugal)

Uma família na arbitragem

Pode não ser inédito, mas é certamente pouco frequente. Pai, filho e filha dividem a paixão pela arbitragem e já alcançaram o sonho de arbitrar em conjunto. E há mais um Carreira a querer seguir-lhes as pisadas

- JORGE GUEDES

13 de novembro de 2022 vai ficar para a história da família Carreira, de Almeirim, no Ribatejo. Nesse dia, pouco antes das 9 da manhã, o pai, Tiago, o filho, também Tiago, e a filha, Raquel, entraram juntos em campo para arbitrar o jogo entre a Académica de Santarém e o Rio Maior, a contar para o distrital de iniciados da Associação de Futebol de Santarém.

Estava cumprido um sonho, iniciado há cerca de dois anos, quando o filho quis ir tirar o curso de arbitragem e o pai, que há muito tempo tinha essa ideia na cabeça, mas nunca tinha dado o passo em frente, decidiu ir com ele. O progenitor tirou a vertente de futebol de 11 e o jovem Tiago apostou no futsal. Pouco depois, fizeram o inverso e, já com ambos os diplomas na mão, começaram a apitar alguns jogos juntos. Mas faltava algo e a menina da família, Raquel, aluna do 11º ano do curso profission­al de Desporto, “cansada” de os ouvir a falar de arbitragem, decidiu também ir experiment­ar. “Ouvia-os falar, achei interessan­te e pensei: ‘Porque não?’ Fui tirar o curso e estou a gostar bastante”, diz a jovem, de 15 anos, que se estreou há cerca de um mês.

A dias de completar 40 anos, Tiago Carreira, técnico de audiovisua­is de uma empresa de Almeirim, não esconde que a estreia do trio foi um momento emocionant­e para si e a concretiza­ção de um objetivo que imaginou assim que a filha também entrou para a arbitragem. Mas o melhor pode ainda estar para vir. É que Dinis, o filho mais novo, atualmente futebolist­a a jogar nos sub-11, também quer ser árbitro. Em jeito de brincadeir­a, Tiago diz que “já lançou a escada” no Conselho de Arbitragem para o deixarem apitar mais umas épocas para poder arbitrar com os três filhos.

Cómodos com limitações

Se para o pai é um sonho, para os filhos é uma segurança acrescida. Raquel reconhece que se sente mais protegida ao lado do pai e do irmão, um “chato” que está sempre a ralhar e a corrigi-la. “Fui ver o primeiro jogo dela e filmei-a. A mãe disse logo que estava a implicar, mas em casa mostrei-lhe o vídeo e perguntei-lhe o que ela achava da sua atuação e ela notou logo que corria com os braços muito abertos”, relata Tiago, um perfecioni­sta assumido, sempre a pensar em melhorar. Jovens na flor da idade, Tiago e Raquel convivem bem com as limitações impostas pela arbitragem. Sair e ficar pela noite dentro “está fora de questão” e até os jantares com amigos ficam condiciona­dos. “Ainda a semana passada tive um jantar de aniversari­o, mas à meia noite estava em casa porque no dia seguinte ia ter jogo”, exemplific­a Raquel. Tiago assume que até nisso é “muito rigoroso” e vai ainda mais longe ao revelar que até com as redes sociais tem muito cuidado. Não deixa que os amigos lhe tirem fotos se estiver a beber ál

“OUVIA-OS FALAR [PAI E IRMÃO] E PENSEI: ‘PORQUE NÃO?’”, EXPLICA RAQUEL, DE 15 ANOS, ALUNA DO 11º ANO DE DESPORTO

cool e não partilha nada de clubes. O pai concorda e refere que “uma foto tirada hoje pode ser usada daqui a 3 ou 4 anos, fora de contexto”, prejudican­do seriamente a carreira.

Da mesma forma, nenhum revela o seu clube e têm um bom modelo. Apesar de andarem há dois anos a tentar descobrir o clube do colega e tutor de Tiago na arbitragem, ainda não conseguira­m, o que os motiva a seguirem-lhe o exemplo.

Com tudo isto, quem sofre mais lá em casa é a mãe e esposa, Ana Raquel, que, além de ter de lavar os equipament­os quase diariament­e – há treinos três vezes por semana e jogos ao sábado e ao domingo – passa os fins de semana sozinha em casa. “Enervo-me muito com os nomes que lhes chamam”, confessa. *

“ENERVO-ME MUITO COM OS NOMES QUE LHES CHAMAM”, DIZ A MÃE E ESPOSA, ANA RAQUEL, QUE PREFERE FICAR EM CASA

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