Dois superheróis à solta na cidade que nunca dorme
Ao contrário do habitual, Nova Iorque correu-se num dia incrivelmente quente, duro para todos
Nova Iorque é uma maratona especial. Não só por fazer parte do circuito das seis mais importantes do Mundo. É uma maratona diferente. O percurso é duríssimo e poderia fazer-nos querer evitá-la, mas é impossível ir lá e não ficar com vontade de regressar. Porque ali o ambiente é distinto do que vivemos noutra qualquer. Tem de ser para desfrutar. É obrigatório, diria.
São milhares nas ruas ao longo de praticamente todo o percurso. A apoiar, a gritar, a ajudar-nos da forma possível. Durante horas e horas. Provavelmente alguns nem têm conhecidos a correr. Mas saem às ruas e dão um empurrão a quem se desafia na maratona. O discurso pode parecer romântico, mas basta andar com a medalha nos dias seguintes para perceber que esta gente valoriza e eleva os maratonistas a heróis. Diferentes realidades, eu sei…
Por isso, quando soube que ia voltar (já lá tinha estado em 2019), defini que seria para viver o momento, para desfrutar e ignorar o relógio. Isso, e para voltar a correr disfarçado, no caso de Homem Aranha, tal como em Paris. ‘Se correr vestido de forma normal já é incrível, mascarado deve ser fantástico’, pensei eu. E confirmei. Foi uma absoluta loucura. Ainda para mais quando o desafio foi também seguido por uma amiga norueguesa, que se disfarçou de Mulher-Maravilha. Primeiro, na zona de partida. Inesperadamente, dei por mim a ser abordado para tirar fotos. Eu, um jornalista anónimo. Depois… praticamente na totalidade do percurso que liga Staten Island a
Manhattan, com passagem por Brooklyn, Bronx e Queens. Excetuando a parte judaica, onde é como se não existisse maratona, arrisco dizer que todos estavam no espírito. Ao longo destes 42 quilómetros perdi a conta aos hi5’s que dei – até os polícias alinhavam na brincadeira –, às vezes em que ouvi gritar ‘Go Spider Man’. Mas, principalmente, dos sorrisos que arranquei às crianças que estavam a seguir a prova. Sempre que o fazia, confesso, eu próprio esboçava um sorriso.
Um desafio adicional
A minha Maratona de Nova Iorque foi assim. Um passeio divertido à descoberta de uma cidade que tem uma mescla enorme de culturas. É quase como se passássemos por países distintos dentro da mesma cidade. Itália, China, México, Porto Rico… Quase me sentia nalgum desses destinos. Até a forma como nos apoiavam era diferente. Mas havia sempre apoio. Sempre.
E isso acabou por compensar e fazer valer a pena o principal obstáculo desta maratona. Não foram as subidas – que não sendo muito íngremes, são chatas e num constante sobe e desce. Mas sim o calor. Ao contrário do habitual (entre 5 e 10 graus), neste dia tivemos cerca de 20 graus do início ao fim. Isso tornou toda a experiência algo bem mais difícil do que se esperava. Mas nada disso apagou uma experiência para mais tarde recordar (e repetir) em Nova Iorque. Porque esta maratona é diferente. É especial. É cara? Sim! Mas é daquelas experiências que, como maratonistas, devemos viver pelo menos uma vez na vida. *
É UMA MARATONA DIFERENTE, AO LONGO DE 42 KM É COMO SE PASSÁSSEMOS POR ITÁLIA, CHINA, MÉXICO, PORTO RICO