Record (Portugal)

LUVAS PRETAS

CHEGA AOS 70 ANOS Estrela da sua geração, foi um dos melhores médios da história do futebol nacional

- RUI DIAS

João Alves, um dos mais extraordin­ários jogadores da história do futebol português, faz hoje 70 anos. O eterno Luvas Pretas, cuja magia deu brilho aos relvados nacionais e internacio­nais nas décadas de 70 e 80, cumpre assim uma etapa relevante da vida: “É um momento que convida a olhar para trás e a refletir sobre o que alcancei, mas também para concluir que não geri a carreira como devia. Tenho orgulho no que fiz, na família que construí, no reconhecim­ento que obtive, mas não controlei a rebeldia da juventude, que me afetou até mais tarde.”

Benfiquist­a desde que nasceu (“em miúdo era louco pelo clube, chorava nas derrotas e sentia-me realizado com as vitórias”), João Alves aponta duas pessoas como responsáve­is pelo sucesso que obteve: “Houve muita gente importante, mas o meu avô, Carlos Alves, internacio­nal português, com presença nas Olimpíadas de 1928, e José Maria Pedroto, meu mestre e inspirador, foram decisivos.” Do avô Carlos herdou as luvas pretas: “Sempre me disse para jogar com elas mas eu, por vergonha, recusava-me a fazê-lo. Porém, depois da morte dele, em 1970, cumpri o seu desejo como homenagem pelo afeto que nos liga até aos dias de hoje. A sua morte marcou-me muito.” Quanto a Pedroto, “foi-me buscar ao Montijo, para o Boavista, e orientou os primeiros passos que dei ao mais alto nível, incluindo na Seleção, estimuland­o o melhor das minhas qualidades.” No Salamanca, que o elegeu o melhor jogador da sua história, foi ídolo e estrela do próprio futebol espanhol. Assinou duas épocas de ouro. “No final da segunda estava tudo acertado entre o clube e o Real Madrid. Cometi a asneira de recusar o maior clube do Mundo em nome da paixão pelo Benfica, a atravessar uma fase difícil. “Voltei mas só ganhei uma Supertaça”, recorda, explicando o passo seguinte: “Um pouco dececionad­o segui para o PSG. Estreei-me numa vitória sobre o Marselha e, no jogo seguinte, quase me destruíram uma perna, depois de entrada duríssima de Genghini, internacio­nal francês do Sochaux.” Regressou à Luz para cumprir um sonho (“queria ser campeão pelo Benfica”) e encontrar um treinador que lhe suscita sensações agridoces: “Com Eriksson tivemos uma época espetacula­r, que me despertou sensações agradáveis, mas que teve um final doloroso: deixou-me no banco em Bruxelas, na final da Taça UEFA – o que sucedeu pela primeira vez na minha carreira – e eu, dececionad­o, regressei ao Boavista, clube igualmente muito importante no meu percurso.” Depois de anos como treinador, que conta com uma vitória na Taça de Portugal pelo Estrela da Amadora, João Alves dedica-se hoje ao comentário televisivo, no qual deposita a elegância e o saber depurados ao longo de 70 anos de vida, que hoje completa. Parabéns ao eterno ‘Luvas Pretas’.

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