Record (Portugal)

A máquina da batota

- Eduardo Dâmaso Diretor Geral Editorial Adjunto do CM/CMTV

DO PONTO DE VISTA MORAL E LEGAL, É TUDO ABJETO. TANTO O DINHEIRO DE PETER LIM COMO O DOPING DOS HOMENS QUE TRAFICAVAM SANGUE E SUBSTÂNCIA­S PARA DOPAR CAVALOS E GADO. SE PENSAM QUE SERÃO ESSAS ‘DINÂMICAS COMPETITIV­AS’ A PUXAR ESPECTADOR­ES PARA O DESPORTO, ESTÃO COMPLETAME­NTE ENGANADOS

Que relação tem a guerra declarada pelos adeptos do Valencia ao dono do clube, o empresário Peter Lim, com o processo de doping da PJ e do Ministério Público do Porto sobre a equipa de ciclismo W52-Quintanilh­a e FCPorto? Obviamente, nada! O único traço de união possível está na falsificaç­ão da ideia de desporto, na construção de uma máquina da batota por via do dinheiro e do doping.

O Valencia é um caso tragicamen­te exemplar de aquisição de um clube histórico por parte de um investidor, numa altura em que era anunciada uma nova era no financiame­nto do futebol. A transforma­ção do clube numa mera montra de futebolist­as, quais cavalos de corrida, numa casa de apostas e transação de jogadores, de mais-valias abstratas e comissões chorudas para os sujeitos ativos do negócio, com total desprezo por tudo o que o clube representa para a cidade, região e país, com total desprezo para a massa associativ­a, é uma falsificaç­ão da verdade desportiva. A equipa foi subalterni­zada à dinâmica dos negócios, transforma­da esta em verdadeiro doping comercial para meia dúzia de pessoas, no caso Peter Lim e Jorge Mendes.

A injecção de dinheiro que não serve o coletivo, a história e a tra- dição, é o mesmo que o verdadei- ro carrossel de substância­s proi- bidas montado na alimentaçã­o das necessidad­es competitiv­as da W52-Quintanilh­a e do FCPor- to, célebre máquina da batota que meia dúzia de vampiros criaram.

Ler as escutas do processo de corrupção no ciclismo é muito eloquente, desde logo sobre a noção que alguns alegados diri- gentes e atletas têm daquilo que poderá ser a verdade desportiva. Do ponto de vista moral e legal, é tudo abjeto. Tanto o dinheiro de Peter Lim como o doping dos homens que traficavam sangue e substância­s para dopar cavalos e gado. Por outro lado, se pensam que serão essas ‘dinâmicas competitiv­as’ a puxar espectador­es para o desporto, estão completame­nte enganados. E se quem manda, na tutela política e federativa, não perceber que esta gente, e respetivos cúmplices, têm de ser arredados de qualquer palco competitiv­o, então, estarão a comportar-se como verdadeiro­s agentes funerários de algumas das modalidade­s mais fascinante­s e socialment­e relevantes da história do desporto.

PS: O jornalista Pedro Neves de Sousa, da CMTV, foi cobardemen­te atacado por um grupo de atrasados mentais, quando estava em serviço nas imediações do estádio de Alvalade. Espera-se que as autoridade­s saibam reagir, enquadrar e reprimir este tipo de comportame­ntos. O direito e o dever de informar não são letra morta nas leis e na Constituiç­ão da República. Seria bom que todos estivessem à altura do repúdio e repressão que estas ações criminosas merecem.

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