A máquina da batota
DO PONTO DE VISTA MORAL E LEGAL, É TUDO ABJETO. TANTO O DINHEIRO DE PETER LIM COMO O DOPING DOS HOMENS QUE TRAFICAVAM SANGUE E SUBSTÂNCIAS PARA DOPAR CAVALOS E GADO. SE PENSAM QUE SERÃO ESSAS ‘DINÂMICAS COMPETITIVAS’ A PUXAR ESPECTADORES PARA O DESPORTO, ESTÃO COMPLETAMENTE ENGANADOS
Que relação tem a guerra declarada pelos adeptos do Valencia ao dono do clube, o empresário Peter Lim, com o processo de doping da PJ e do Ministério Público do Porto sobre a equipa de ciclismo W52-Quintanilha e FCPorto? Obviamente, nada! O único traço de união possível está na falsificação da ideia de desporto, na construção de uma máquina da batota por via do dinheiro e do doping.
O Valencia é um caso tragicamente exemplar de aquisição de um clube histórico por parte de um investidor, numa altura em que era anunciada uma nova era no financiamento do futebol. A transformação do clube numa mera montra de futebolistas, quais cavalos de corrida, numa casa de apostas e transação de jogadores, de mais-valias abstratas e comissões chorudas para os sujeitos ativos do negócio, com total desprezo por tudo o que o clube representa para a cidade, região e país, com total desprezo para a massa associativa, é uma falsificação da verdade desportiva. A equipa foi subalternizada à dinâmica dos negócios, transformada esta em verdadeiro doping comercial para meia dúzia de pessoas, no caso Peter Lim e Jorge Mendes.
A injecção de dinheiro que não serve o coletivo, a história e a tra- dição, é o mesmo que o verdadei- ro carrossel de substâncias proi- bidas montado na alimentação das necessidades competitivas da W52-Quintanilha e do FCPor- to, célebre máquina da batota que meia dúzia de vampiros criaram.
Ler as escutas do processo de corrupção no ciclismo é muito eloquente, desde logo sobre a noção que alguns alegados diri- gentes e atletas têm daquilo que poderá ser a verdade desportiva. Do ponto de vista moral e legal, é tudo abjeto. Tanto o dinheiro de Peter Lim como o doping dos homens que traficavam sangue e substâncias para dopar cavalos e gado. Por outro lado, se pensam que serão essas ‘dinâmicas competitivas’ a puxar espectadores para o desporto, estão completamente enganados. E se quem manda, na tutela política e federativa, não perceber que esta gente, e respetivos cúmplices, têm de ser arredados de qualquer palco competitivo, então, estarão a comportar-se como verdadeiros agentes funerários de algumas das modalidades mais fascinantes e socialmente relevantes da história do desporto.
PS: O jornalista Pedro Neves de Sousa, da CMTV, foi cobardemente atacado por um grupo de atrasados mentais, quando estava em serviço nas imediações do estádio de Alvalade. Espera-se que as autoridades saibam reagir, enquadrar e reprimir este tipo de comportamentos. O direito e o dever de informar não são letra morta nas leis e na Constituição da República. Seria bom que todos estivessem à altura do repúdio e repressão que estas ações criminosas merecem.