O fiel depositário de uma ideia
URIBE DÁ ESTILO, CARÁTER E PERSONALIDADE AO CAMPEÃO. É ELE A REFERÊNCIA DA EQUIPA E O CENTRO DE COMANDO DO JOGO: ZELADOR DE EQUILÍBRIO E SEGURANÇA; SENTINELA DO EXÉRCITO AZUL E BRANCO E GALVANIZADOR QUE CONDUZ AO OBJETIVO FINAL
çSinal da evolução do treino (e suas componentes mais científicas) e do peso crescente de elementos ligados à estratégia, as equipas de futebol tornaram-se, mais do que nunca, produto de cumplicidades, automatismos, segredos, verdades e mentiras. Como se de mandamento sagrado se tratasse respeitam um vasto reportório de soluções táticas, que consolidam imensa cadeia de regras, movimentos, posicionamentos e decisões; jogam cada vez mais de memória (peso crescente, quase obsessivo, do trabalho levado a cabo no dia a dia), mas sem perder de vista os benefícios do instinto individual, só equacionado nos casos em que o processo global é menos consistente. A sofisticação coletiva, promovida pelos treinadores, com base em princípios e conceitos próprios, conduz à criação de uma espécie de Constituição interna que orienta o comportamento da comunidade. O FC Porto tem um mentor (Sérgio Conceição) e um fiel depositário da complexa teia ideológica em que assenta: Mateus Uribe.
O colombiano assimilou as bases que sustentam o funcionamento da máquina azul e branca. Domina as regras em vigor com tanta fiabilidade que as memorizou como quem decora a tabuada, prova do firme compromisso com as propostas do treinador. Uribe não é apenas o xerife implacável que intimida os potenciais invasores do terreno à sua guarda; é um agente da autoridade, sim, mas que não cria obstáculos aos impulsos conquistadores da comunidade – mais do que isso, tem argumentos técnicos para alimentá-los com técnica e imaginação.
Líder silencioso, de aparência distante, como se estivesse no centro de operações com auscultadores no máximo da potência, Uribe impõe-se pelo exemplo. Parece muitas vezes indiferente à temperatura do combate, alheado das emoções recorrentes, nada afetado pelas pulsações que sobem no campo de batalha em que é figura de primeira grandeza. Passa um jogo inteiro, se for preciso, a tomar decisões acertadas; a adivinhar
O COLOMBIANO É O MAIS IMPORTANTE JOGADOR DO FC PORTO NAS ÚLTIMAS QUATRO TEMPORADAS
gestos e movimentos; a cortar linhas de passe e a chegar aos factos centésimos de segundo antes de ocorrerem; a ser implacável em espaços curtos mas também em mar aberto, situações em que torna ainda mais visível o poder físico e a sua correta utilização nos duelos.
Uribe é o implacável fiscal que zela por regras superiores; abre e fecha a porta consoante a equipa tem ou não a bola; é determinante na pressão organizada e o motor de ambição e orgulho que inspira e reboca os companheiros para o destino final. Como elemento que cultiva a discrição como executor do plano, a sua invisibilidade é proporcional ao relevo que tem na equipa. Falta-lhe a magia instantânea dos artistas, da mesma forma que é raro vê-lo tomar as decisões heroicas que caracterizam os defesas mais disponíveis; mas é tão esmagador que mostra com regularidade toda a sua dimensão: é o mais importante jogador do FC Porto nas últimas quatro épocas, razão pela qual têm mais peso os erros que comete, como agora frente ao Gil Vicente, quando foi expulso aos 52’, com dois amarelos .
Otávio versatiliza o futebol e multiplica a produção coletiva; Pepê e Galeno aceleram o jogo, em ziguezagues ou linha reta; Taremi excede a pontaria e , principalmente em conexão com Eva- nilson, dá eficácia à manobra. Mas é Uribe quem dá estilo, caráter e personalidade ao campeão. É ele a referência da equipa e o centro de comando do jogo: zelador de equilíbrio e segurança; sentinela de serviço do exército e galvanizador da manobra que conduz ao objetivo final. Raros concentram argumentos tão sólidos para serem, com idêntico acerto, líberos dos avançados e pontas-de-lança dos defesas. Sem eles paira sempre insuportável sensação de órfandade.