Estes pepinos que não se torcem
Nunca compreendi verdadeiramente a razão pela qual o FC Porto não comemorou, com o devido relevo e dignidade, uma data histórica da sua existência, qual foi a conquista do primeiro Campeonato de Portugal, numa finalíssima disputada contra o Sporting, no Estádio do Bessa, em 18 de junho de 1922.
Independentemente do tratamento injusto que os nossos poderes federativos aplicaram a esta temática dos Campeonatos de Portugal, este foi o primeiro título de dimensão nacional do nosso futebol e, como sportinguista, só me posso regozijar pelo facto de o Sporting o ter discutido.
É realmente misterioso que o FC Porto, tão legitimamente cioso dos seus pergaminhos, ignore este feito, mas, a bem de ver, há coisas naquele clube que já desisti de perceber.
A contenda foi renhida. Cada um dos clubes venceu na sua casa, o que obrigou a um desempate, que polemicamente – já nessa altura … – o organismo que dirigia o futebol marcou para o Estádio do Bessa, no Porto. Tendo procurado documentar-me sobre o jogo, deparei-me com pormenores na comunicação social da altura que não resisto a partilhar.
Assim, a revista ‘Os Sports’ de 25 de junho de 1922 dizia que o terceiro jogo se caracterizou por ser um desafio “com uma atmosfera carregada e os jogadores nervosos, com elevada assistência e ambiente tenso e indisciplinado”. “Foi um jogo muito violento e agressivo, sendo a equipa de Lisboa recebida de forma bastante hostil pelos adeptos do FC Porto”.
E mais relatava ‘Os Sports’ em 29 de junho que “durante o match, a assistência exerceu sempre uma enorme pressão sobre os rapazes do Sporting, insultando-os (…) e chegando até a atirar tiros para o ar, quando os jogadores do F C Porto conseguiam vantagem.” “À partida dos jogadores do SCP para Lisboa, o ódio continuou a manifestar-se cobardemente sendo um milagre não se ter dado, então, um conflito extremamente grave.”
Acrescentava o eterno capitão Jorge Vieira, ao ‘Século’: “Não calcula. Foi um barulho ensurdecedor. A receção que nos fizeram foi o máximo de insultos e vaias”.
Mudam-se os tempos, mas não se mudam as vontades, contrariando os desígnios do glorioso vate. A atualidade dos textos de há cem anos é qualquer coisa de notável.
MAS, A BEM DE VER, HÁ COISAS NAQUELE CLUBE [FC PORTO] QUE JÁ DESISTI DE PERCEBER