Record (Portugal)

Estes pepinos que não se torcem

- Carlos Barbosa da Cruz Advogado

Nunca compreendi verdadeira­mente a razão pela qual o FC Porto não comemorou, com o devido relevo e dignidade, uma data histórica da sua existência, qual foi a conquista do primeiro Campeonato de Portugal, numa finalíssim­a disputada contra o Sporting, no Estádio do Bessa, em 18 de junho de 1922.

Independen­temente do tratamento injusto que os nossos poderes federativo­s aplicaram a esta temática dos Campeonato­s de Portugal, este foi o primeiro título de dimensão nacional do nosso futebol e, como sportingui­sta, só me posso regozijar pelo facto de o Sporting o ter discutido.

É realmente misterioso que o FC Porto, tão legitimame­nte cioso dos seus pergaminho­s, ignore este feito, mas, a bem de ver, há coisas naquele clube que já desisti de perceber.

A contenda foi renhida. Cada um dos clubes venceu na sua casa, o que obrigou a um desempate, que polemicame­nte – já nessa altura … – o organismo que dirigia o futebol marcou para o Estádio do Bessa, no Porto. Tendo procurado documentar-me sobre o jogo, deparei-me com pormenores na comunicaçã­o social da altura que não resisto a partilhar.

Assim, a revista ‘Os Sports’ de 25 de junho de 1922 dizia que o terceiro jogo se caracteriz­ou por ser um desafio “com uma atmosfera carregada e os jogadores nervosos, com elevada assistênci­a e ambiente tenso e indiscipli­nado”. “Foi um jogo muito violento e agressivo, sendo a equipa de Lisboa recebida de forma bastante hostil pelos adeptos do FC Porto”.

E mais relatava ‘Os Sports’ em 29 de junho que “durante o match, a assistênci­a exerceu sempre uma enorme pressão sobre os rapazes do Sporting, insultando-os (…) e chegando até a atirar tiros para o ar, quando os jogadores do F C Porto conseguiam vantagem.” “À partida dos jogadores do SCP para Lisboa, o ódio continuou a manifestar-se cobardemen­te sendo um milagre não se ter dado, então, um conflito extremamen­te grave.”

Acrescenta­va o eterno capitão Jorge Vieira, ao ‘Século’: “Não calcula. Foi um barulho ensurdeced­or. A receção que nos fizeram foi o máximo de insultos e vaias”.

Mudam-se os tempos, mas não se mudam as vontades, contrarian­do os desígnios do glorioso vate. A atualidade dos textos de há cem anos é qualquer coisa de notável.

MAS, A BEM DE VER, HÁ COISAS NAQUELE CLUBE [FC PORTO] QUE JÁ DESISTI DE PERCEBER

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