Campeonato do incenso
QUANTO À DESIGNAÇÃO DO TREINADOR DO BENFICA COMO “O ALEMÃO”, TAMBÉM ESTÁ BONITO. VÁ LÁ QUE ROGER SCHMIDT NÃO FOI DESIGNADO COMO “O BOCHE” QUE ERA COMO POR CÁ SE TRATAVAM DEPRECIATIVAMENTE OS ALEMÃES DURANTE A I GUERRA MUNDIAL DO SÉCULO PASSADO
Miguel Braga abandonou a comunicação do Sporting depois de três anos e meio de “profícuo trabalho”. A cada temporada corre paralelamente ao campeonato nacional de futebol o campeonato da comunicação entre os grandes. É um despique sem grande imaginação porque a decisão derradeira sobre quem é o campeão do futebol falado coincide, posto a posto, com a tabela final do futebol jogado. Assim, no culminar da temporada de 2022/2023, a classificação do campeonato dos departamentos de comunicação é, uma vez mais, igualzinha à tabela da nossa Liga depois de concluída a 34.ª jornada. Em 1.º lugar a comunicação do Benfica, em 2.º lugar a comunicação do FC Porto, em 3.º lugar a comunicação do Sporting de Braga e, por último, em 4.º lugar a comunicação do Sporting.
É deste modo pragmático que os adeptos olham para a nobre arte de comunicar
nas sedes dos seus respetivos clubes. Se ganhamos o campeonato a nossa comunicação é genial por muito que tenha sido criticada – deviam dizer isto, deviam fazer aquilo, isto não vai lá com comunicados, etc… – durante o desenrolar do campeonato sempre que a nossa equipa não ganhou em campo. Por sua vez, se perdemos o campeo- nato nacional então é porque a nossa comunicação é uma lástima e quanto mais baixo for o lugar na tabela final maior lástima é a nossa comunicação.
Não foi, certamente, por esta razão, que Miguel Braga deixou de dirigir a comunicação do Sporting na mesma semana em que se fecharam as contas do campeonato embora até possa parecer porque o Sporting, classificando-se um lugar abaixo do pódio do campeonato nacional de futebol, classificou-se automaticamente na mesma posição no campeonato dos departamentos de comunicação pelas razões já aduzidas. Mas há que reagir. E, em Alvalade, este pecadilho foi ressarcido no mesmo dia em que Miguel Braga saiu com a publicação de um artigo de opinião assinado por Tito Fontes no jornal do clube. “Não temos de aturar o ‘incensado’ alemão e os seus apaniguados…” assim começava o articulista a exposição da sua ideia. “Incensado” é um belo adjetivo – significa “aquele que se incensou” ou que foi “defumado com incenso” – e uma rutura com a anterior forma de comunicar. Mas também pode ser um verbo. Eu incenso, tu incensas, ele incensa, nós incensamos, vós incensais, eles incensam. Quanto à designação do treinador do Benfica como “o alemão”, também está bonito. Vá lá, vá lá que não foi designado como “o boche” que era como por cá se tratavam depreciativamente os alemães durante a I Guerra Mundial.
É claro que não têm de aturar “o alemão”.
Cada clube tem apenas de aturar o seu respetivo treinador mais ou menos “incensado” de acordo com os ímpetos populares. E, no campeonato do incenso, convenhamos que ninguém leva a melhor sobre Rúben Amorim. É um mérito todo seu.
NO CAMPEONATO DO INCENSO NINGUÉM LEVA A MELHOR SOBRE RÚBEN AMORIM