“Scaloni era o gajo mais inteligente do Corunha”
Nunca se arrependeu de sair do FC Porto?
JORGE ANDRADE - Não, porque realmente dois anos a perder ali é muito duro. Deco era o jogador-estrela da nossa equipa e todos o iam ver, mas o Pinto da Costa não o deixou sair. Nisto apareceu o Corunha com disponibilidade financeira e eu era o jogador a seguir ao Deco com mais mercado. Aproveitei. Foi de mútuo acordo. Melhorei em termos salariais, fui para uma das melhores ligas e o FC Porto ganhou uma almofada para poder gerir nesses anos.
Ⓡ Ainda era um Super Depor?
JA - Ah, sim. Fazíamos grandes resultados contra o Real Madrid. A equipa jogava junta há 4 anos. Eu adaptei-me rapidamente. Os galegos olham para os portugueses como irmãos e primos. Há muita afinidade e havia o Naybet, que tinha jogado no Sporting. Era um grande grupo. Tínhamos Molina na baliza, Naybet, Donato, Fran, Mauro Silva, Roy Makaay, Tristán, Pandiani... Scaloni. Mas os nossos melhores jogadores eram Djalminha e Valerón. Depois Luque, Amavisca...
Ⓡ E esse ‘tal’ de Scaloni, já era vivaço na altura?
JA - O Scaloni ali era o gajo mais inteligente de todos. Era um jogador que jogava sempre que havia brecha. Não era titularíssimo, o titular era o Manuel Pablo, mas ele fazia duas posições: extremo-direito ou lateral-direito. Como ele perdeu um pouco de velocidade, passou a lateral, mas estava sempre atento a tudo. A uma falha do adversário, a um detalhe. Era vivo. Agora no Mundial que ganhou como selecionador, pôs o Agüero a dormir com o Messi só para tirar ansiedade. Tem visão, sempre foi focado.
Ⓡ Mas como era com tanto sul-americano no ‘bando’?
JA - Mal cheguei tive uma cena gira com o Mauro Silva. Como se falava tanto espanhol, ele virou-se para mim e disse “chico, este es mi número’ e tal. A querer dar-me o contacto dele. E eu disse que ele comigo podia tentar falar em português .... [risos]. Mas aquele grupo também se enervava às vezes.
Ⓡ Como assim?...
JA - Era culpa do espanhol e do sul-americano, que está sempre a puxar por nós, a ver se caímos na esparrela, a quererem ficar com o nosso lugar. Eu atento a tudo. Era sempre o último a sair do balneário. Quem passa pouco tempo no balneário, não percebe nada do que acontece. Mas havia tipos giros como o Pandiani, que tinha aí uns 12 carros...
Ⓡ Conte lá isso...
JA - Ele era avançado e tinha de concorrer com o Makaay e o Tristán. Ele esforçava-se mais no treino, mas os outros roubavam-lhe o lugar mesmo assim. Ele aparecia de camião no treino, com uma espingarda pintada porque era a alcunha dele, ‘El Rifle’.
“ERA O ÚLTIMO A SAIR DO BALNEÁRIO. ESTAVA SEMPRE ATENTO PARA NUNCA CAIR NUMA ESPARRELA”