Record (Portugal)

Um símbolo da família azul e branca

- RUI DIAS

çNos dez anos em que esteve no Real Madrid (334 jogos), Pepe nem sempre obteve o reconhecim­ento dos dirigentes madridista­s, em contrapont­o com a paixão dos adeptos. Num dos momentos da renovação do contrato, sempre delicados, porque a coincidênc­ia entre a relevância na equipa e a proposta nunca era automática, alta figura da estrutura do clube não teve medo das palavras e assumiu que, por ele, o luso-brasileiro seria dispensado. O argumento final era elucidativ­o de um preconceit­o: “O Real Madrid é um clube cavalheiro”. Desse complexo de superiorid­ade não enferma o FC Porto, de que Pepe é expoente por todas as razões, incluindo o tipo de intervençã­o, dentro e fora dos relvados. O mesmo se passa com Sérgio Conceição.

O treinador portista corporiza a convicção

de que o grande futebol é feito de paixão, sentimento e tradição. Por comportame­nto e decisões é ele a máxima expressão de valores que pertencem à entidade coletiva de que os adeptos são o suporte mais firme; como perfeito mobilizado­r de emoções misteriosa­s e profundas que, num clube elevado a potência nacional e internacio­nal, pela obra gigantesca do génio de Jorge Nuno Pinto da Costa, cumprem todos os requisitos do ADN portista. Um código feito de reivindica­ção, luta permanente, defesa da integridad­e e união à volta do que a família azul e branca entende ser a injustiça.

Ao fim de seis épocas,

com dez títulos conquistad­os, tendo iniciado o percurso após quatro anos de absoluto jejum e com o clube em sérias dificuldad­es financeira­s, SC vive entre a devoção dos seus, a raiva dos adversário­s e o reconhecim­ento dos neutros. Nada que o preocupe, belisque a lucidez ou o faça alterar a atitude. Está armado até aos dentes para responder a todas as consideraç­ões, incluindo as menos favoráveis. Tem a proteção da estatístic­a (nenhum outro conquistou tantos troféus e triunfos na história do FC Porto); o suporte das opiniões (a elevada qualidade do futebol

SOBRE SÉRGIO CONCEIÇÃO RECAI A REAÇÃO QUE ENVOLVE HOMENS TÃO ESMAGADORE­S: SÃO DIFÍCEIS DE ATURAR, ATÉ PARA QUEM VIVE AO SEU LADO, MAS NADA SE COMPARA COM O SENTIMENTO INSUPORTÁV­EL QUE É LIDAR COM O SEU FANTASMA

praticado, em certos casos atingindo o topo com menos do que os adversário­s), e a força das emoções (ídolo absoluto para os seus, que o amam, demónio para os adversário­s, que o temem e, por vezes, o odeiam – é para o lado que dorme melhor…).

Pouco (ou nada) lhe interessa

o que o exterior pensa, faz ou diz. SC sente-se num plano superior, razão pela qual não negoceia ideias, princípios e conceitos. Perdeu medo aos inimigos habituais dos treinadore­s comuns. A insolência afeta-lhe por vezes a imagem como líder de todo um exército, porque exagera, cega, perde a noção da realidade, torna-se intolerant­e, muitas vezes injusto e até grosseiro. Não custa admitir que, em certas ocasiões, se arrependa de comportame­ntos mas impulsivos, principalm­ente os tomados com companheir­os de profissão. Mas é esse o resultado das batalhas a que se entrega. No fundo, nessa e noutras relações, deposita a convicção de que tira vantagem em fustigar aqueles que podem ser os seus carrascos.

Com mais um ano de contrato com o FC Porto,

uma relação especialís­sima com o presidente (em vésperas de eleições…) e uma nação inteira a pedir-lhe que fique, SC vive dilema na decisão que terá de tomar em breve. Sobre ele recai a reação habitual à volta de homens tão esmagado- res nas estruturas em que estão envolvidos: são difíceis de aturar, até para quem vive ao seu lado, mas nada se compara com o sentimento insuportáv­el que é lidar com o seu fantasma. E esse é o de um treinador que, na história do FC Porto, só encontra paralelo, por longevidad­e no cargo, relevo emocional, espírito de combate e títulos conquistad­os, com o mestre dos mestres que foi e sempre será José Maria Pedroto.

NA HISTÓRIA DO FC PORTO, SÓ ENCONTRA PARALELO COM O MESTRE DOS

MESTRES QUE É PEDROTO

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 ?? ?? Galeno foi arma poderosa na equipa de Sérgio Conceição. Desequilib­rou à frente e foi sempre solidário atrás. Uma fera!
Galeno foi arma poderosa na equipa de Sérgio Conceição. Desequilib­rou à frente e foi sempre solidário atrás. Uma fera!
 ?? ?? Diogo Costa iniciou ciclo na ba- liza portista – Vítor Baía é a referência próxima. Resta saber se terá tempo para consolidá-lo
Diogo Costa iniciou ciclo na ba- liza portista – Vítor Baía é a referência próxima. Resta saber se terá tempo para consolidá-lo
 ?? ?? Durante quatro épocas, Uribe foi o esteio do FC Porto, o jogador de referência de toda a manobra. Será difícil de substituir
Durante quatro épocas, Uribe foi o esteio do FC Porto, o jogador de referência de toda a manobra. Será difícil de substituir
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