A joia da coroa azul e branca
A juventude corresponde ao momento da expressão precoce de um talento; à criação e desenvolvimento de todas as ilusões, nas quais o homem deposita instinto, descaramento e boas doses de autoestima; o tempo concede a riqueza de argumentos que equilibram o embate com a selva em que vivemos: dá-nos capacidade para aprender e acumular dados que preenchem o disco rígido e estimula valores adultos como responsabilidade, rigor, exigência e maturidade. Só quando interpretamos vitórias como êxitos parciais, e não como conquistas definitivas de uma glória descontextualizada, estamos em condições de reagir ao erro com serenidade; só assim abordamos a realidade sem que ela desestabilize a confiança e nos consolidamos como seres humanos.
O futebol tem mantido relação ambígua com a juventude,
porque tanto exalta a inspiração de miúdos geniais que nos iluminam a vida, como a utiliza para crucificar exageros; funciona como tónico de esperança mas também pode prenunciar o apocalipse. Em campo nem todos são iguais, face à elevada complexidade das funções no xadrez de uma equipa. Cada jovem que se atreve a conquistar o Mundo por deslumbramento e talento também tem incorporada uma vocação expressa por exercícios solitários, exuberância técnica, magia e até em capacidade concretizadora – ainda que, fenómenos à parte, os goleadores, bons ou mesmo muito bons, tenham tendência para não se mostrar automaticamente.
Os guarda-redes são quem mais sofre com a juventude.
Sempre assim foi e será, apesar de a história nos mostrar exemplos de prodígios inconscientes, cuja afirmação resiste a todas as dúvidas. Diogo Costa é o caso mais recente em Portugal. Aos 23 anos, também ele ultrapassou com tenra idade os obstáculos tradicionais, inerentes a características técnicas, táticas e psicológicas, indissociáveis da evolução humana de cada um. Ainda não era dono da baliza do FC Porto, muito menos de Portugal,
AINDA NÃO ERA DONO DA BALIZA DO FC PORTO E JÁ EXPRESSAVA UMA GRANDEZA IMENSA. RAROS SÃO OS GUARDA-REDES PORTUGUESES QUE ATINGEM O GRAU DE FENÓMENOS PERFEITOS COMO GUARDIÕES DOS TEMPLOS SAGRADOS DAS GRANDES POTÊNCIAS MUNDIAIS
e já expressava a grandeza imensa dos seus argumentos, correspondente a fatores diversificados como a escravidão do trabalho, o estímulo da responsabilidade e a sagrada valorização de precisão no mais singelo dos gestos ou movimentos.
Aproxima-se da perfeição nos diagnósticos e na ação.
O tempo, esse eterno aliado do guarda-redes, está a completá-lo como referência mundial. Cumpre todas as tarefas exigidas no futebol moderno (a capacidade para jogar com os pés é apenas a mais exuberante), num processo de aquisição de valores cuja finalidade é a construção de um fenómeno das balizas para a próxima década e meia. Está numa fase em que só precisa de não danificar as armas juvenis que o trouxeram até aqui (instinto, sonho, magia, ilusão) e dar sentido ao que continua a aprender; manter níveis de coragem, reflexos, agilidade, paixão e presença, e juntar-lhes reflexão, serenidade, ponderação, análise e visão.
Diogo Costa, que não assinou um Mundial à altura
do seu do talento (erros graves a mais para troço tão curto), está na mira de alguns dos maiores tubarões do futebol europeu. Em equação está a cláusula de 75M€ mas também o preconceito de não gastar fortunas com guarda-redes – na história do futebol português só Vítor Baía justificou avanço de um gigante como o Barcelona, mesmo tendo voltado ao lar azul e branco cerca de dois anos depois. Diogo é a joia mais valiosa da coroa azul e branca, pela qua- lidade superior ou pela verba milionária que a sua transferência envolverá. De um modo ou de outro, a conclusão é a mesma, porque raros são os guarda-redes nacionais que atingem o grau de fenómenos perfeitos como guardiões dos templos sagrados das grandes potências.
AGORA SÓ PRECISA DE NÃO DANIFICAR AS QUE O TROUXERAM ATÉ AQUI