“QUANDO PERDES UM AMIGO PERCEBES QUE NÃO VALES NADA”
çOnde começou a jogar?
CAPEL - Eu jogava na rua com os meus amigos, em Albox. Depois o meu tio levou-me a um clube em Olula del Rio e foi aí que tudo começou.
Ⓡ Que idade tinha?
C - 11 anos. Não é como agora que há Academias em todo o lado. Eu cresci no futebol de rua.
Ⓡ Faz falta hoje em dia?
C -Faz. Está tudo muito mecanizado. Perdeu-se essa magia.
Ⓡ Vê um Capel no futebol atual?
C - O Bryan Gil [Tottenham]. Há muitos alas que carregam a bola mas não aqueles jogadores com capacidade no 1x1. Ele parece-se muito comigo.
Ⓡ Chegou a fazer testes no Barcelona. Não se deu bem com a distância de casa?
C -Foi tudo muito depressa, não esperava. Tinha começado há 4 meses no Olula. Um empresário viu-me e disse-me para ir fazer testes no Barcelona. Estavam lá Piqué, Iniesta, Cesc Fàbregas, Victor Valdés, Messi... Foi muito difícil. Era uma mudança muito grande e não consegui adaptar-me. Decidi voltar para casa e estar perto da minha família.
Ⓡ O Sevilha haveria de tornar-se o clube da sua vida, e foi onde viveu a trágica morte de Antonio Puerta. Como foi passar por aquele momento?
C -Nenhuma pessoa está preparada para passar por algo assim. Eu era muito jovem. Ainda por cima tinha vivido muitas coisas com ele na equipa B. Chegámos os dois à equipa principal. Quando vês que uma pessoa de quem gostas, com quem cresceste, morre num campo de futebol, no melhor momento da sua carreira, da sua vida… Não é fácil digerir algo assim. Durante dois meses não conseguimos ganhar porque não estávamos bem mentalmente.
+Fala-se cada vez mais em saúde mental. É um problema que merece mais atenção?
C - Como é evidente. As pessoas pensam que os jogadores vivem numa nuvem mas não é assim. Nós chegamos a casa e temos problemas. E muitos não sabem colocar-se no nosso lugar.
+Em 2019 voltou a passar por um momento muito difícil, com a morte de José António Reyes. Tinha estado com ele na manhã antes do acidente…
C -Foi uma situação de estarmos aqui sentados de manhã e duas horas depois ele morrer num acidente de carro. Imaginem o que isto é… Quando perdes um amigo percebes que não vales nada. Compreendi que o futebol já não era prioritário. O importante era dizer à minha mãe ‘gosto de ti’.
+Foi nessa altura que começou a pensar em desistir de jogar?
C - Comecei a ver o futebol de uma maneira totalmente diferente. Mas quis continuar.
Ⓡ Qual é a melhor memória que guarda do Sevilha?
C -A minha estreia na 1.ª divisão, os títulos que consegui, a final da Taça do Rei onde pude fazer um golo [em maio de 2010, no Camp Nou, contra o Atlético Madrid]… Foi o melhor Sevilha da história.
Ⓡ E do Génova [2015/16]?
C -Joguei em sítios onde nunca tinha jogado na vida: médio descaído sobre o corredor, número 9… Gasperini era um treinador que tinha a sua maneira de jogar e eu tive de adaptar-me.
Ⓡ Faltou-lhe Inglaterra?
C - Esteve perto de acontecer, para o Tottenham. Depois apareceu o Everton e muitos clubes mais. Teria sido bonito jogar na Premier mas não aconteceu.
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“AS PESSOAS PENSAM QUE OS JOGADORES VIVEM NUMA NUVEM MAS NÃO É ASSIM. TEMOS PROBLEMAS”