Record (Portugal)

Pode perder mas já ganhou

PELA PRIMEIRA VEZ, PINTO DA COSTA NÃO ESTÁ VERDADEIRA­MENTE SÓ NA CAMPANHA ELEITORAL. O ATUAL LÍDER TERÁ DE SE ESFORÇAR MAIS E EXPLICAR ALGUMAS COISAS QUE DEIXAM DÚVIDAS. VILLAS-BOAS AGITOU O FC PORTO

- Eduardo Dâmaso Diretor Geral Editorial Adjunto do CM/CMTV

çA simples apresentaç­ão da candidatur­a eleitoral de André Villas-Boas marca o início de uma fase determinan­te para o futuro do Futebol Clube do Porto. Numa primeira análise, vai obrigar Pinto da Costa, caso avance, a fazer uma campanha eleitoral, coisa que nunca aconteceu em quase 40 anos de liderança do clube. Pela primeira vez, o presidente portista não está verdadeira­mente só na campanha eleitoral.

Desta vez, Pinto da Costa terá de se esforçar um pouco mais

para explicar o desvario da situação em que o FCPorto se encontra. A começar pelas contas do clube. Terá de explicar porque não consegue converter o sucesso desportivo em sucesso financeiro. Terá de falar sobre os gastos, poderá ser confrontad­o com os canais subterrâne­os por onde o dinheiro desaparece. Aborrecido!

A simples ideia de avançar com um portal da transparên­cia

em matéria de divulgação das comissões, que fatiam o valor de cada transferên­cia, é um verdadeiro punhal apontado à obscuridad­e dos últimos anos na matéria. Também a ideia de rever os protocolos de distribuiç­ão de bilhetes às claques é, em si, um gesto da maior coragem. Esta medida tem compor- tado uma fatura já muito eleva- da para a candidatur­a de Villas- -Boas e para o próprio, que foi alvo de uma cobarde campanha de intimidaçã­o.

Aliás, a forma como é distribuíd­a esta parte da receita potencial do clube deveria ser muito mais do que uma questão interna. Os indícios, no FCPorto mas também em outros clubes, com excepção do Sporting na era de Frederico Varandas, de que o dinheiro in- directamen­te distribuíd­o às claques alimenta um vasto leque de actividade­s criminosas, não deveriam ser tratados como uma mera questão inter- na. É uma vergonha colectiva a forma como a inacção das autoridade­s judiciais na matéria tem deixado criar uma velha hidra, que se alimenta à vista de todos, com excepção das polícias e das magistratu­ras, atacadas por uma cegueira sistémica.

Os sinais exteriores de riqueza de alguns dos personagen­s,

os negócios da segurança privada, o comportame­nto de guarda pretoriana do imperador, estão muito para lá dos pecadilhos privados, que se gerem em família. Como se viu no descalabro brunista do Sporting ou na hecatombe dos ‘No

Name Boys’, que o ‘vieirismo’ hipocritam­ente dizia não ser uma claque oficial do Benfica. Quando se manifestam, são um atentado à paz social e à integridad­e física de muita gente. Esperemos que estas eleições no FCPorto venham ajudar a virar também essa página e que isso signifique o início de um verdadeiro ciclo de bonança no futebol português. Na verdade, mesmo que perca em Abril, Villas-Boas e o FCPorto já ganharam com este processo eleitoral.

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