Pode perder mas já ganhou
PELA PRIMEIRA VEZ, PINTO DA COSTA NÃO ESTÁ VERDADEIRAMENTE SÓ NA CAMPANHA ELEITORAL. O ATUAL LÍDER TERÁ DE SE ESFORÇAR MAIS E EXPLICAR ALGUMAS COISAS QUE DEIXAM DÚVIDAS. VILLAS-BOAS AGITOU O FC PORTO
çA simples apresentação da candidatura eleitoral de André Villas-Boas marca o início de uma fase determinante para o futuro do Futebol Clube do Porto. Numa primeira análise, vai obrigar Pinto da Costa, caso avance, a fazer uma campanha eleitoral, coisa que nunca aconteceu em quase 40 anos de liderança do clube. Pela primeira vez, o presidente portista não está verdadeiramente só na campanha eleitoral.
Desta vez, Pinto da Costa terá de se esforçar um pouco mais
para explicar o desvario da situação em que o FCPorto se encontra. A começar pelas contas do clube. Terá de explicar porque não consegue converter o sucesso desportivo em sucesso financeiro. Terá de falar sobre os gastos, poderá ser confrontado com os canais subterrâneos por onde o dinheiro desaparece. Aborrecido!
A simples ideia de avançar com um portal da transparência
em matéria de divulgação das comissões, que fatiam o valor de cada transferência, é um verdadeiro punhal apontado à obscuridade dos últimos anos na matéria. Também a ideia de rever os protocolos de distribuição de bilhetes às claques é, em si, um gesto da maior coragem. Esta medida tem compor- tado uma fatura já muito eleva- da para a candidatura de Villas- -Boas e para o próprio, que foi alvo de uma cobarde campanha de intimidação.
Aliás, a forma como é distribuída esta parte da receita potencial do clube deveria ser muito mais do que uma questão interna. Os indícios, no FCPorto mas também em outros clubes, com excepção do Sporting na era de Frederico Varandas, de que o dinheiro in- directamente distribuído às claques alimenta um vasto leque de actividades criminosas, não deveriam ser tratados como uma mera questão inter- na. É uma vergonha colectiva a forma como a inacção das autoridades judiciais na matéria tem deixado criar uma velha hidra, que se alimenta à vista de todos, com excepção das polícias e das magistraturas, atacadas por uma cegueira sistémica.
Os sinais exteriores de riqueza de alguns dos personagens,
os negócios da segurança privada, o comportamento de guarda pretoriana do imperador, estão muito para lá dos pecadilhos privados, que se gerem em família. Como se viu no descalabro brunista do Sporting ou na hecatombe dos ‘No
Name Boys’, que o ‘vieirismo’ hipocritamente dizia não ser uma claque oficial do Benfica. Quando se manifestam, são um atentado à paz social e à integridade física de muita gente. Esperemos que estas eleições no FCPorto venham ajudar a virar também essa página e que isso signifique o início de um verdadeiro ciclo de bonança no futebol português. Na verdade, mesmo que perca em Abril, Villas-Boas e o FCPorto já ganharam com este processo eleitoral.