Geometrias de poder
Desde os seus primórdios, o desporto tem inscrito uma lógica de afirmação de poder, através da vitória, no respeito por um código de regras, sobre um oponente individual ou coletivo.
Não raras vezes, ao longo da
história, esse oponente projetou-se da arena desportiva para o contexto político onde, no palco de uma competição, parece estar em disputa a hegemonia entre duas nações.
Nesta perspetiva, a afirmação política de um país através do desporto tem-se centrado predominantemente no investimento dos estados numa corrida a medalhas e resultados de excelência da sua elite desportiva. O seu poderio mede-se, portanto, pelas conquistas.
Porém, afigura-se hoje cada
vez mais evidente que a supremacia de estados e nações se transfere para outras geometrias de poder onde a capacidade económica na organização de grandes eventos, comercialização de direitos televisivos, monetização de patrocínios e influência em decisões estratégicas e eleições para cargos de liderança prevalece em relação às conquistas desportivas.
Inverteram-se papéis, e a política, a liderança e a estratégia encontram-se cada vez mais capturadas pelo poder económico, reconfigurando os centros de decisão e o paradigma clássico de confronto entre o bloco ocidental e o pós-soviético no desporto internacional.
O Médio-Oriente protagonizou esta mudança e, perante a incredulidade de muitos que recusavam plausível tal cenário, assume hoje um posicionamento decisivo, pois o desporto é um instrumento central nos seus mais diversos propósitos político-diplomáticos, e não apenas um complemento, não armado, para afirmação da sua hegemonia.