“Vamos lutar para sair daqui como heróis”
Sem receber há três meses, Ricardo Nunes dá voz a um grupo que recusa desistir
Vivem-se tempos muito conturbados no Varzim. Com três meses de salários em atraso, uma comissão administrativa dependente de burocracias para agir e uma nuvem de incerteza quanto ao futuro deste histórico do futebol português. Enquanto isso, dentro de campo, há um grupo de jogadores que luta por um regresso aos campeonatos profissionais, capitaneado por Ricardo Nunes, um filho da terra e que tem sido, por estes dias, guarda-redes, psicólogo, amigo e, sobretudo, líder. “Temos casos aqui em situação muito, muito difícil. O meu papel, como capitão, é mais o de gerir psicologicamente o balneário, tentar acalmar as coisas e tentar que os meus colegas,
“O MEU PAPEL, ENQUANTO CAPITÃO, É GERIR O BALNEÁRIO E TENTAR QUE DEIXEM OS PROBLEMAS À PORTA”, DISSE
quando entrem dentro desta instituição, consigam deixar os problemas à porta para continuarmos a trabalhar com o máximo profissionalismo”, referiu Ricardo Nunes, de 41 anos, a Record, garantindo que desistir é algo que não está no ADN do plantel varzinista: “Temos muito mais a ganhar do que a perder. Vamos continuar a ser dignos, a honrar o símbolo, sabendo que depois vamos para casa e existem problemas, às vezes de não ter dinheiro para sustentar as nossas famílias. Tínhamos dois caminhos: o de desistir e o de continuar a lutar. Optámos sempre por não fazer greves, por nunca parar. Vamos lutar para sair daqui como heróis.”
A verdade é que o tal feito heróico não está assim tão distante. O Varzim conseguiu o apuramento para a fase de subida e, agora, uma boa série de vitórias pode colocar a equipa de Vítor Paneira na luta pelo regresso aos campeonatos profissionais. “Já que temos de estar aqui e temos, já que nos comprometemos a ser profissionais, porque não conseguirmos atingir os nossos objetivos e subir? Podemos fazer algo muito bonito, que as gentes da Póvoa jamais vão esquecer”, atirou o guarda-redes, apelando ao brio de cada um dos colegas para que esta luta possa terminar com um final feliz: “A maior parte dos jogadores tem o intuito de chegar a outros patamares e só fazendo coisas boas aqui isso será possível. A nossa realidade mexe, mas o espírito de luta nunca vai abandonar este grupo.” *