O magriço do Barreiro
O edifício da memória de uma instituição tão grande quanto o Sporting, não se ergue de banais paralelepípedos de argila, mas, ao invés, de materiais de construção mais perenes e raros, quanto sejam o exemplo, a glória e o amor abnegado que fazem do nosso clube tão grande quanto os maiores da Europa.
Neste contexto, a evocação de José Alexandre Baptista
representa para mim, mais do que a recordação – sempre tão significativa – de um familiar que admirava e ora partiu. Recordar o magriço do Barreiro é rememorar um campeão e um cavalheiro, dentro e fora do campo.
Seria simplista recordar ‘apenas’ a conquista da Taça das Taças em 1964 – feito maior do reino do Leão – de entre tantas conquistas de campeonatos nacionais e Taças de Portugal. Seria justo, mas curto, enaltecer a meritória participação do mais elegante central que o Mundial’1966 viu jogar, assim mesmo como o reconheceu o imortal Pelé, numa competição em que o nosso País atingiu um inédito 3.º lugar.
No entanto, porque nem sempre o óbvio é o suficiente socorro-me da biologia para que a homenagem seja certeira, verdadeira e atinja profundidade. Fala-se tanto do ADN de Leão, mas nem sempre se destacam os nucleotídeos que a tornam ímpar e especial.
O capitão Baptista distinguiu-se, verdadeiramente, pela conjugação de uma carreira extraordinária, com uma forma de ser e estar sem paralelo. Após atingir o apogeu no palco do futebol, pendurou as chuteiras e trocou o estrelato por um quase anonimato que lhe dava paz. Vestiu duas só camisolas: a do Sporting e a do nosso País.
Retirou-se, licenciou-se, viveu a vida com a sua mulher Cassilda, as filhas e os netos que amava. Atingiu sucesso profissional muito para lá das margens da bola. Jogou golfe, bridge e jamais se obcecou ou iludiu com o estrelato, a fama, homenagens, entrevistas ou qualquer outra forma de vaidade.
O legado de um homem é o que se vê e o do José Alexandre Baptista é colossal, mas o legado de um homem-exemplo é, muito para além disso, aquilo que não se vê e, neste campo, conseguiu ser ainda mais raro.
Ao Sporting Clube de Portugal, à Federação Portuguesa de Futebol, à Liga e a todos quantos lhe prestaram homenagem um sincero obrigado. O Zé Alexandre criou sportinguistas em várias gerações da nossa família. A sua vida foi grande e faz também a grandeza do nosso clube. Por cada leão que cai, muitos outros se levantarão. Obrigado, Senhor Leão.
REPRESENTA MAIS DO QUE A RECORDAÇÃO DE UM FAMILIAR QUE ADMIRAVA E PARTIU