Tiros & Pontapés
A invasão da Ucrânia pela Rússia veio mudar a forma como o Mundo é encarado e relançou a discussão sobre a necessidade de voltar a haver serviço militar obrigatório. E se, como Vítor Baía e tantos outros, Mbappé tivesse de ir à tropa ou Cristiano Ronaldo tivesse sido obrigado a adiar a transferência para o Man. United, aos 18 anos?
Passaram dois anos desde que a invasão russa à Ucrânia fez a Europa mergulhar num clima que se julgava enterrado na história. Ao fim de décadas de paz, a guerra volta-se para ocidente num conflito que já é o mais violento desde a II Guerra Mundial. A proximidade geográfica e o discurso imperialista de Vladimir Putin, deixaram o Velho Continente em alerta e recuperaram para a sociedade civil as discussões sobre a necessidade de reforçar contingentes militares com recursos materiais... e humanos. Segundo o Estado-Maior-General das Forças Armadas, Portugal contava em 2023 com 23.425 militares, cerca de 11 mil no Exército, 7 mil na Marinha e 5 mil na Força Área. Em 2010, o anuário das Forças Armadas contava 35.057 efetivos. Ou seja, uma redução de quase 65% do pessoal em pouco mais de uma década. A tendência verifica-se um pouco por toda a Europa, mas há quem alerte que é preciso reforçar os contingentes. A esse respeito, ressurgiu nas últimas semanas o debate sobre o restauro da conscrição ou, no termo mais utilizado, do serviço militar obrigatório. Uma prática que esteve em vigor no nosso país até 2004, mas que já é completamente estranha a gerações inteiras. Não é assim em todo lado. Na Europa, resistem 15 países onde a recruta continua a ser mandatória, ainda que, na maioria, se tenham implementado períodos mais curtos do que noutros tempos ou haja a opção de substituir o treino militar por contribuições comunitárias, cumprindo, por exemplo, o tempo de recruta ao serviço de uma corporação de bombeiros. Os países do norte da Europa – onde a ameaça russa nunca esfriou a 100% – estão entre os que mantêm a conscrição. Falamos de Suécia, Dinamarca, Finlândia, Noruega ou Estónia.
Para já, como reforçou na última semana o Chefe do Estado-Maior da Armada, o regresso do serviço militar obrigatório está descartado em Portugal. Mas o regresso da discussão levanta a questão. Como seria a relação do futebol com as obrigações militares? Em tempos, era comum ver jovens jogadores, como foi o caso de Vítor Baía (na foto), fazer um hiato ou a mudar de clube para cumprir a recruta. Agora o cenário é diferente. Como seria, por exemplo, se Kylian Mbappé – pago a peso de ouro desde a adolescência – tivesse de, de repente, de deixar o PSG para ir para o exército? Ou se Cristiano Ronaldo tivesse sido obrigado a adiar a transferência para o Man. United para ir à recruta?